“Evangelho da encarnação, da Palavra que se fez carne, do Deus que se fez gente”: é assim que pode ser chamado o “Evangelho segundo João”. Ele é o que mais aprofunda a revelação divina nas realidades humanas. Cada uma dessas realidades, tocadas por Jesus, transforma-se em sinais de Sua glória, como o foi a água transformada em vinho, em Caná; a água pedida e oferecida àquela samaritana junto ao poço de Jacó; o paralítico curado à beira da piscina de Betesda; o cego de nascença, na fonte de Siloé; ou ainda, os cinco pães e dois peixes multiplicados para a multidão.
Em especial, a partir do capítulo seis de São João, as narrativas e discursos de Jesus giram em torno da Eucaristia. O próprio sinal da multiplicação dos pães e peixes seria uma prefiguração do seu gesto ápice de partilha: Ele daria a Si próprio pela nossa salvação e como alimento. Um alimento que não perece, o Pão vindo Céu que conduz à eternidade.
O milagre da multiplicação seria humanamente inexplicável. Jesus se compadece da multidão que O seguia, pois essa era como que ovelhas sem pastor. Só que a atitude do Senhor ultrapassa a nossa capacidade de raciocinar. Os Evangelhos nos relatam que Ele, por duas vezes, multiplicou pães e peixes para atender à multidão que O seguiu até uma região “deserta” e ali ficou ouvindo-O e recebendo curas, mas por não estar munida de alimentos, estava a ponto de passar fome.
Assim como Jesus se compadeceu da multidão, também, em nossa vocação cristã, somos chamados a ter compaixão do povo, sobretudo, do povo sofredor. Nossa vida cristã deve conduzir-nos à prática da misericórdia para com os irmãos. Esse é o grande testemunho de que o mundo precisa. É uma exigência que brota das palavras de Cristo no seu Evangelho: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. Ele ensina que a vida é partilha, é um dom que deve ser fomentado. O pouco partilhado pode chegar a muitos; pois há mais alegria em dar do que em receber!
A partilha do pão e da vida
Dos povos que habitam a Terra Santa, entre eles está o povo árabe. Ele tem o costume de comer o chamado “pão pita com húmus”, um alimento típico que feito com grão-de-bico; ou ainda, a shawarma produzida com pão de massa bem fina recheado com carne ou frango.
Já na tradição judaica, o pão está intimamente ligado à história de Israel, às festas e ao ciclo natural das produções agrícolas. Cinquenta dias após a Páscoa, em Pentecostes, era celebrada a colheita do trigo e cevada, esses eram oferecidos a Deus como primícias. O pão, portanto, sempre relacionado à experiência de ação de graças nas refeições e atividades diárias.
Ao se pensar na precariedade da cultura antiga e nas situações de guerra e invasões que afetavam a dinâmica social, o pão simbolizava, ainda, a dependência de Deus. Já nos Evangelhos, o pão aparece nas cenas da multiplicação como um alimento fundamental e sinal de confiança em Deus. Depois, na Última Ceia, esse elemento retorna e com um valor ainda mais elevado com a Instituição da Eucaristia.
Leia mais:
::Você está preparado para deixar tudo?
::Como foi a chegada de Jesus em Jerusalém?
::Por que Deus não me escuta?
::Baixe o aplicativo da Canção Nova e tenha acesso a todos os conteúdos do portal cancaonova.com
A cidade do nascimento de Jesus, Belém, em hebraico a “Casa do Pão”, também reflete Sua missão: o Verbo encarnado que se torna alimento. Ele utilizou de algo do cotidiano do Seu povo, quase insípido e incolor, para assinalar Sua presença simples mas totalmente concreta e real na Eucaristia. Na Última Ceia, Cristo celebrou a páscoa hebraica, a libertação do povo do Egito, mas, sobretudo, institui a nova Páscoa, ou seja, a nova libertação não mais da antiga escravidão, e sim do pecado e da morte.