Espiritualidade da família

Como deve ser a espiritualidade da família?

A espiritualidade da família é formada por alegria, festa, sexualidade, descanso e sofrimentos

Muitos casais, acostumados a uma participação ativa na comunidade e a um ritmo na vida de oração, sentem-se um pouco confusos, se estão crescendo em sua espiritualidade. É que o matrimônio, a chegada ou não dos filhos e tantos acontecimentos que influenciam na família acabam por causar consequências no dia a dia. É aí que surgem dúvidas. Algumas pessoas acham que a família é empecilho para uma vida no Espírito. Na verdade, é o contrário, a vida em família “é um percurso de que o Senhor Se serve para levá-la às alturas da união mística”, conforme ensina o Papa Francisco na Exortação Pós-sinodal Amoris Laetitia.

A família precisa viver juntos a espiritualidadeFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Espiritualidade feita de gestos concretos

“A espiritualidade do amor familiar é feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus tem a sua própria habitação nessa variedade de dons e encontros que fazem maturar a comunhão”, orienta o Papa. O dinamismo das relações favorece características fundamentais dessa espiritualidade específica. A intimidade do amor conjugal dá glória a Deus.

“O Senhor habita na família real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. Quando se vive em família, é difícil fingir e mentir, não podemos mostrar uma máscara. Se o amor anima essa autenticidade, o Senhor reina nela com sua alegria e paz”, acrescenta. O Papa explica que a família vive sua espiritualidade própria, sendo uma igreja doméstica e uma célula viva para transformar o mundo.

Vida no Espírito

Pessoas que “têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito”. A graça divina é alcançada, pouco a pouco, por meio da vida matrimonial. Dificuldades e sofrimentos oferecidos por amor nos permitem participar no mistério da cruz de Cristo. Momentos de alegria, descanso, festa, sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição.

Gestos cotidianos moldam a família em espaço teologal, possibilitando experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado. A espiritualidade matrimonial advém do vínculo habitado pelo amor divino. Dedicação que une humano e divino, porque está cheia do amor de Deus.

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Oração em família

Meio privilegiado para expressar e reforçar essa fé pascal é a oração em família. Papa Francisco indica “alguns minutos, cada dia, para estar unido na presença do Senhor vivo”. Nesses momentos, é possível dizer a Deus o que nos preocupa, rezar pelas necessidades familiares, orar por alguém necessitado, pedir ajuda para amar, agradecer pela vida e as coisas boas, suplicar a proteção de Nossa Senhora.

“Com palavras simples, esse momento de oração pode fazer muito bem à família. As várias expressões da piedade popular são um tesouro de espiritualidade para muitas famílias. O caminho comunitário de oração atinge o seu ponto culminante ao participarem juntos na Eucaristia, sobretudo no contexto do descanso dominical. Jesus bate à porta da família para partilhar com ela a Ceia Eucarística”, diz Amoris Laetitia.

Amor por toda vida

“Quem não se decide a amar para sempre é difícil que possa amar deveras um só dia”, afirma o Papa Francisco. “É uma pertença do coração, lá onde só Deus vê. Cada manhã, quando se levanta, o cônjuge renova diante de Deus essa decisão de fidelidade, suceda o que se suceder ao longo do dia”, completa o Santo Padre.

Família não é realidade perfeita

Nessa busca por crescimento, consola-nos a afirmação do Papa Francisco de que “nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar”. Essa consciência nos impede de julgar nossos vizinhos com dureza e nos permite avaliar o percurso de nossa família “para deixar de pretender das relações interpessoais uma perfeição, uma pureza de intenções e uma coerência que só poderemos encontrar no Reino definitivo”.

Que queres que te faça?

Ao finalizar este texto, sugiro um exercício especialmente para os casais. Imitando a atitude de Jesus, que se coloca diante do cego Bartimeu com toda disponibilidade: “Que queres que te faça?” (Mc 10, 51), coloque-se diante do seu cônjuge e pergunte: “Que queres que te faça?”. Quando uma pessoa se entrega gratuitamente, é consequência estar diante do outro e esquecer-se de tudo o que existe em redor. Logo, você vai ver a ternura florescer, suscitará em todos a alegria de se sentir amado.

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