Os dois textos do Evangelho que falam mais claramente do amor aos inimigos se encontram em Mateus e em Lucas. O evangelho de Mateus é dirigido para uma comunidade judaico-cristã: e, por isso, faz referências explícitas à antiga Lei de Moisés, mostrando a novidade da lei cristã. Então, nesse texto, Jesus começa dizendo: “Vós sabeis que foi dito: ‘Amarás teu próximo e odiarás teu inimigo’” (Mateus 5,43). Logo depois, aparece a exigência da Nova Lei do cristão: “Mas eu vos digo: Amai vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem”.
Em Lucas, que escreve para comunidades de origem pagã, não aparece a referência à antiga lei de Moisés, mas se encontram claramente as palavras de Jesus sobre o amor aos inimigos. Podemos acrescentar um dado interessante neste evangelista, que mais ressalta a atitude de misericórdia de Jesus. Ele nos se limita a pedir o amor aos inimigos, mas, na cruz, Ele nos dá o exemplo, perdoando aqueles que estão crucificando-O, com estas palavras: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23,34).
Nesses textos, podemos perceber que o primeiro pedido de Jesus não se refere nem à oração nem à ação dos cristãos. Jesus quer de nós, antes de tudo, um coração novo, uma reforma interior. Essa predisposição é o amor. E o
amor é indicado em toda a sua extensão: “Amai vossos inimigos”. Isso significa que o amor verdadeiro não tem limites. A sua luz deve aparecer em todos os cantos e o seu ardor deve esquentar tudo. E essa predisposição é sincera só se levar para a ação: “Fazei o bem aos que vos odeiam” (Lucas 6,27). Não se responde ao ódio com o ódio. O ódio vai ser vencido pelo amor. O bem tem de ser mais forte do que o mal.
Desejar o bem aos inimigos
Essa predisposição só é verdadeira quando se deseja o bem também ao inimigo: “Bendizei os que vos maldizem”. O amor verdadeiro não coloca o destino dos homens maus em mãos duras, mas nas boas mãos de Deus. Por que não pensar, neste momento, no martírio de Santo Estêvão? Ele morreu rezando pelos seus assassinos. E lá estava presente um perseguidor dos cristãos: o futuro apóstolo Paulo. A “bênção” de Deus implorada pelo mártir Estêvão, tornou-se “graça” para Paulo.
“Rezai pelos que vos caluniam” (Lc 6,28): dessa maneira, o homem se torna interiormente livre colocando em Deus toda dificuldade pela qual ele passa. Agora, como vai agir aquele que ama os inimigos? O evangelho indica uma atitude positiva e uma atitude negativa. Do ponto de vista positivo, quem ama está disposto a suportar: “A quem
te bater numa face, apresenta-lhe também a outra. A quem tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica” (Lc 6,29). Assim, o cristão responde numa maneira totalmente diferente de como comumente acontece.
Do ponto de vista negativo, o cristão não procura o interesse. Não faz o bem com a intenção de ser igualmente retribuído: “Se amais os que vos amam, que merecimento tereis? Também os pecadores amam os que os amam” (Lc
6,32). Mas qual é a motivação para se comportar assim? A motivação é somente Deus: “Sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom para com os ingratos e para com os maus” (Lc 6,35). E Mateus traz um exemplo desta atitude de bondade de Deus para com todos: “Vosso Pai celeste faz nascer o sol para os maus e para os bons; e faz cair a chuva sobre os justos e os injustos” (Mt 5,45). Nesse sentido, Deus aparece como motor da nossa vida. Quem nasceu de Deus possui em si a vida de Deus, com aquela riqueza que só provém d’Ele.
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Concluo com mais um paralelo entre o evangelista Mateus e o evangelista Lucas: Mateus termina com estas palavras de Jesus: “Sede, portanto, perfeitos, como vosso Pai Celeste” (Mt 5,48). Mas o que significa “ser perfeito”? Podemos encontrar a resposta no texto de Lucas: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Quem quiser ser perfeito deve tornar-se misericordioso.