Todos os caminhos levam para Roma

Religiões

Há afirmações muito costumeiras que são tidas por todos como verdade. Na área religiosa, por exemplo, se diz que Deus é um só, que todas as religiões são boas, todas elas levam a Deus, todas são iguais e o importante é seguir uma, não importa qual. Esta maneira de pensar é fruto de longa “pregação” da assim chamada cultura moderna, reforçada recentemente pelo ensino da “Nova Era”. A cultura moderna é relativista em tudo que não seja estritamente científico-matemático, é a cultura dos “pontos de vista”, das “opiniões”.
Nas afirmações acima, subentende-se a afirmação de que as religiões são pontos de vista, opiniões diferentes e particulares de sujeitos sensíveis à dimensão do divino; enquanto tais, uma não é melhor que a outra, todas podem ser boas para quem se interessa por elas. Esta maneira de pensar será de fato uma verdade? Há quem duvide!

Também se diz, por exemplo, que “todos os caminhos levam para Roma”. É verdade? Não! Só o leva para Roma o caminho (de carro, de avião, a pé, em romaria, etc.) que, de fato, você está percorrendo; os outros caminhos não o levam. É somente este o caminho que de fato você conhece (se bom, se eficiente, se confortável) e é a partir deste seu percorrer que você pode intuir algo a respeito dos outros caminhos e de quem os está percorrendo. Se você não está percorrendo verdadeiramente nenhum caminho, você o conhece apenas genericamente, por informações, isto é, por ter ouvido dizer ou lido e está na total incapacidade de conhecer realmente qualquer um dos caminhos e das pessoas que os percorrem! Aplique isso às religiões!

Mas elas são todas boas ou não? Sim e não! Sim, porque toda religião é busca de comunhão com o divino e toda busca, adequadamente conduzida, é boa! Não, porque cada busca tem “sua” possibilidade de “boa e real” comunhão com o divino, possibilidade dada pela experiência originária que está na raiz, experiência ligada aos grandes mestres da busca religiosa. Algumas religiões, porém, não são somente busca que o ser humano faz. Judaísmo, cristianismo e islamismo são testemunhas de um desvelamento (revelação) que o divino fez de si vindo ao encontro da busca humana, e para nós, cristãos, neste desvelamento está engajado nada mais que o Filho de Deus: Jesus Cristo, nossa experiência originária.

Neste sentido, portanto, as religiões não são iguais nem igualmente boas! Isso vale também para as igrejas e denominações cristãs: elas não são iguais, pois cada uma tem “sua” possibilidade de guardar, cultivar e atualizar, hoje, a experiência originária que é Jesus Cristo.

Mas, pelo menos, não será verdade que Deus é um só? Não, se por “Deus” se entende uma palavra oca, abstrata, indefinida, o deus dos filósofos, talvez. Para que serve um Deus assim? Se por “Deus” entendemos uma realidade, seu conhecimento está ligado à força de penetração do Mistério que a experiência originária possibilita. Por isso, debaixo de uma palavra igual [Deus] há conteúdos de conhecimento e seguimento de Deus bastante diferentes entre si.

O Deus nosso é “o Deus de Jesus Cristo”, o Deus buscado, conhecido, amado e seguido até à morte de cruz por Jesus Cristo. Sua experiência originária está gravada, o Evangelho: a Boa Notícia, testemunhada pelos apóstolos. Para que serve uma Igreja que não seja “apostólica”, não daqueles apóstolos que se autodenominam tais, mas dos Doze, missionados por Jesus para testemunhá-lo?