Sofrimento

Não sei qual é o seu sofrimento atual, talvez seja um sofrimento físico, moral, espiritual, ou talvez seja uma crise que você viva em seu casamento, uma crise financeira, ou a enfermidade ou perda de alguém muito querido… não sei. Mas seja o que for, não perca tempo em oferecer tudo isso, faça desta situação uma matéria-prima para o seu crescimento espiritual e psicológico.

Quando estamos sofrendo, nossa tendência é nos fecharmos em nós mesmos, pensando que o nosso sofrimento é o maior do mundo, e, muitas vezes, nos esquecemos de olhar para o lado e ver que há pessoas, cujo sofrimento é muito maior, ao nosso redor.

Também podemos cair no sentimento de auto-piedade, querendo chamar a atenção de todos para o nosso sofrimento. Contudo, isso não é uma maneira sábia de se viver com eficácia esse momento de dor para que se possa colher os devidos frutos que ele pode nos trazer. A melhor oração é o próprio sofrimento!

No ano passado, tive uma crise de apendicite e precisei passar por uma cirurgia de emergência e me perguntava, em meio a todo aquele transtorno, o porquê desta enfermidade. Fiquei durante 15 dias de repouso, queria rezar e não conseguia. Um dia, partilhando isso com uma irmã, ela me disse esta frase, que acalmou o meu coração: “João Paulo, a melhor oração é o sofrimento, ofereça tudo isso pelo que você está passando a Deus, e disso, Ele vai tirar um bem muito maior”. E, de fato, tirou! Para mim, foi uma grande lição de humildade, através da qual Deus me mostrou o meu nada e o quanto eu precisava dos meus irmãos.

Conta-se que, certa vez, um homem cansado pelo peso da cruz que levava, resolveu ir cortando-a aos poucos, mas quando chegou no fim de sua vida precisou atravessar um grande abismo, para que pudesse chegar no Céu e isso só seria possível se ele utilizasse a sua cruz como ponte. Mas quando foi utilizá-la – para que conseguisse atravessar para o outro lado – percebeu que ele a tinha cortado demais, de modo que se tornara muito curta para alcançar o outro lado. Você entendeu? Se você “cortar” a sua cruz, hoje, você vai precisar dela inteira amanhã, pois irá precisar dos méritos alcançados por intermédio dela.

Eu preciso assumir com amor e fidelidade a minha cruz e leva-la até o fim, contando sempre com a graça de Deus. Diz o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2015: “O caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncias e sem combate espiritual”. E dizia ainda Santa Rosa de Lima: “Fora da cruz não existe outra escada por onde subir ao céu”.

E veja também o que diz o apóstolo São Paulo com respeito ao sofrimento: Tenho para mim que os sofrimentos do presente não têm comparação com a glória futura que nos deve ser manifestada. (Romanos 8,29)

Cristo é o grande modelo para todos que sofrem. Não podemos nunca esquecer que Jesus Cristo foi e é o grande modelo para os que sofrem, pois, como ninguém, soube sofrer. Precisamos contemplar a cruz do Senhor. É olhando para Cristo crucificado que encontramos sentido para os nossos sofrimentos, só olhando para o mistério da cruz é que vamos encontrar forças e paciência para acolher e conviver com os nossos sofrimentos.

Para se poder perceber a verdadeira resposta do “porquê” do sofrimento, devemos voltar a nossa atenção para a revelação do amor divino, fonte última do sentido de tudo aquilo que existe. O amor é a fonte mais plena para resposta da pergunta acerca do sentido do sofrimento. Esta resposta foi dada por Deus ao homem na Cruz de Jesus Cristo (Trecho Carta Apostólica “Salvifici Doloris” de João Paulo II): “Caríssimos, não vos perturbeis com o fogo da provação, como se vos acontecesse coisas extraordinárias. Muito pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo (1 Pedro 4,12)”.

Morrer com Cristo pelo sofrimento, para ressuscitar com Ele.
São Paulo diz em sua carta aos Romanos no capítulo 6, versículo 8: “Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com Ele.” Morrer com Cristo é trilhar o mesmo caminho que Ele trilhou e tomar também a Sua cruz e levá-la até o fim.

Conta-se que um grão de trigo sofria muitíssimo por causa da umidade do terreno em que se encontrava, o qual em breve estaria completamente encharcado, e como se não bastasse um trator passou no campo e o grão ficou completamente enterrado no chão, e a água, pouco a pouco, penetrava pelo seu corpo, atravessando-o da cabeça aos pés. Reclamava o pobre grão quando ouviu uma voz forte que lhe disse: ‘Procure ter confiança e não tenha medo algum e preciso que você morra para poder nascer outra vez’. – ‘Quem é você?’ Perguntou o pobre grãozinho. E aquela voz respondeu: – ‘Eu sou Aquele que o criou, e agora quero criá-lo outra vez’. Esta história resume-se no seguinte: Se o grão de trigo não morrer, e isso requer muito sofrimento e muita renúncia, não poderá germinar, florescer e frutificar.

Diante de tudo isso vamos rezar juntos:

“Senhor, eis aqui os seus servos. O servo não é maior que o seu Senhor e o meu caminho não pode ser diferente do Seu. Dê-me, Senhor, a Sua graça para que eu aceite com amor e paciência os meus sofrimentos. Dê-me, Senhor, um coração dócil ao sofrimento, dê-me, Senhor, sabedoria para saber sofrer, porque eu creio que os meus sofrimentos não sejam em vão, pois, eu creio, Senhor, que depois da cruz virá a ressurreição, virá a vida eterna. Amém!”

Que Deus o abençoe! Estamos juntos!

Seu irmão,