Jesus Cristo, rosto humano de Deus, rosto divino do homem. (João Paulo II) No início da criação, Deus disse: Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança(Gn 1,26); portanto, aí já se encontram os traços divinos na fisionomia humana. O estado de graça ficou desgastado pela experiência do pecado que desfigurou a beleza e a harmonia original da criação humana. Todavia, a Encarnação do Filho de Deus representa o resgate da dignidade perdida porque tornou o homem partícipe da vida divina. Com efeito, ele é a imagem e semelhança de Deus, na forma mais perfeita, a partir da Encarnação, uma vez que Cristo estendeu sua tenda no meio de nós, uma tenda maior e mais perfeita, não feita por mãos humanas, nem pertencendo a esta criação.(Hb 9,11)
Em Cristo, o ser humano é elevado à condição divina; dessa maneira, encontramos traços divinos que são visíveis no rosto e na vida de cada criatura humana, quaisquer que sejam a situação e o contexto de sua trajetória histórica e terrestre. A imagem e semelhança de Deus estão projetadas no ser humano, em sua condição de criança, adolescente, jovem e adulto; por conta de sua dignidade, o rosto divino é identificado na pessoa simples, no doente, no analfabeto, no sábio, no artista, no trabalhador, no prisioneiro, no injustiçado, no convertido, no recém-nascido, no pedagogo, no aprendiz, no religioso, no pecador.
A Conferência de Santo Domingo, em 1992, identificou o rosto do Senhor nos rostos desfigurados pela fome, conseqüência da inflação, da dívida externa e das injustiças sociais; os rostos desiludidos pelos políticos que prometem, mas não cumprem; os rostos humilhados por causa de sua própria cultura, que não é respeitada, quando não desprezada; os rostos atemorizados pela violência diária e indiscriminada; os rostos angustiados dos menores abandonados que caminham por nossas ruas e dormem sob nossas pontes; os rostos sofridos das mulheres humilhadas e desprezadas; os rostos cansados dos migrantes que não encontram digna acolhida; os rostos envelhecidos pelo tempo e pelo trabalho dos que não têm o mínimo para sobreviver dignamente.
O Papa João Paulo II, na Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, ao se referir àqueles com os quais Cristo se assemelha – famintos, sedentos, forasteiros, despidos, doentes, prisioneiros (Mt 25, 35-36) -, afirmou que devemos saber vê-lo sobretudo no rosto daqueles com quem ele mesmo se quis identificar.
Por sua vez, a Conferência de Aparecida fala dos Rostos sofredores que doem em nós:
1. Pessoas que vivem na rua nas grandes cidades: Nas grandes cidades é cada vez maior o número das pessoas que vivem na rua.
2. Migrantes: Há milhões de pessoas que por diferentes motivos estão em constante mobilidade.
3. Enfermos: A Igreja tem feito opção pela vida. Esta nos projeta necessariamente para as periferias mais profundas da existência: o nascer e o morrer, a criança e o idoso, o sadio e o enfermo.
4. Dependentes de drogas: O problema da droga é como mancha de óleo que invade tudo. Não reconhece fronteiras, nem geográficas, nem humanas. Ataca igualmente a países ricos e pobres, a crianças, jovens, adultos e idosos, a homens e mulheres.
5. Detidos em prisões: são muitas as pessoas que devem cumprir penas em recintos penitenciários desumanos, caracterizados pelo comércio de armas, drogas, aglomeração, torturas, ausência de programas de reabilitação, crime organizado que impede um processo de reeducação e de inserção na vida produtiva da sociedade. No momento atual, lamentavelmente os cárceres são com freqüência escolas para aprender a delinqüir.
Embora desfigurado por causas injustas, revelam-se em Jesus Cristo os traços do rosto divino do homem.