Parte da fortaleza é a virtude da paciência, que Joseph Ratzinger descreveu como “a forma cotidiana do amor”. A razão pela qual o Cristianismo deu tradicionalmente a essa virtude uma importância notável, pode deduzir-se de umas palavras de Santo Agostinho, em seu tratado sobre a paciência, descreve como “um dom tão grande de Deus que deve ser proclamada como uma marca do Senhor que habita em nós”.
A paciência é, pois, uma característica do Deus da história da salvação, como ensinava Bento XVI no início de seu pontificado: “Este é o diferencial de Deus: Ele é o amor. Quantas vezes desejaríamos que o Senhor se mostrasse mais forte! Que atuasse duramente, derrotasse o mal e criasse um mundo melhor! Todas as ideologias do poder se justificam assim, justificam a destruição do que se opusesse ao progresso e à libertação da humanidade. Nós sofremos pela paciência de Deus. E, não obstante, todos necessitamos dela. O Deus, que se fez cordeiro, disse-nos que o mundo se salva pelo Crucificado e não pelos crucificadores. O mundo é redimido pela paciência do Senhor e destruído pela impaciência dos homens”.
Muitas implicações práticas podem ser extraídas desta consideração. A paciência nos conduz a saber sofrer em silêncio, a suportar as contrariedades que emergem do cansaço, do caráter alheio, das injustiças etc. A serenidade de ânimo torna possível que procuremos nos fazer tudo para todos, acomodando-nos aos demais, levando conosco nosso próprio ambiente de Cristo. Por isso mesmo o cristão procura não pôr em perigo sua fé e sua vocação por uma concepção equivocada da caridade, sabendo que – utilizando uma expressão coloquial – pode chegar até às portas do inferno, porém não entrar, porque ali não se pode amar a Deus. Deste modo, cumprem-se as Palavras de Jesus: “é pela vossa paciência que alcançareis a vossa salvação” (Lc 21,19).
A paciência está em estreita correspondência com a perseverança. Esta costuma ser definida como a persistência no exercício de obras virtuosas apesar da dificuldade e do cansaço derivado de sua demora no tempo. Mais precisamente, costuma-se falar de constância quando se trata de vencer a tentação de abandonar o esforço perante o aparecimento de um obstáculo concreto.
Não se trata somente de uma qualidade humana, necessária para alcançar objetivos mais ou menos ambiciosos; a perseverança, a imitação de Cristo, que foi obediente ao desígnio do Pai até o final, é necessária para a salvação segundo as palavras evangélicas: “Mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 10,22). Entende-se, então, a verdade da afirmação de São Josemaria: “Começar é de todos; perseverar, de santos” (Caminho, n. 983). Daí o amor deste santo sacerdote pelo trabalho bem acabado, que descrevia como um saber colocar as “últimas pedras” em cada trabalho realizado.
“Toda fidelidade deve passar pela prova mais exigente: o tempo […]. É fácil ser coerente por um dia ou por alguns dias […]. Só pode chamar-se fidelidade uma coerência que dura ao longo de toda vida” (João Paulo II, Homilia na Catedral Metropolitana, México, 26 de janeiro de 1979). Estas palavras do servo de Deus João Paulo II nos ajudam a compreender a perseverança sob uma luz mais profunda, não como mero persistir, mas antes de tudo como autêntica coerência de vida; uma fidelidade que acaba por merecer o louvor do Senhor, da parábola dos talentos, a qual se pode considerar como uma fórmula evangélica de canonização: “Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-se com teu senhor” (Mt 25, 23).
Autor: Santi S. – Opus Dei