✝️ Espiritualidade

O Sagrado Coração de Jesus

A densidade espiritual dessa devoção 

Na tradição espiritual católica, o mês de junho é dedicado ao Coração de Jesus. Neste ano, a solenidade do Sagrado Coração de Jesus ganha um sentido ainda mais especial porque comemora o aniversário da conclusão da experiência mística com a qual a monja visitandina Margarida Maria Alacoque (1647-1690), hoje santa, foi agraciada. Qual é a densidade espiritual dessa devoção exclusiva da Igreja Católica Apostólica Romana?

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Bem na metade do ano civil, dá-se a celebração do Coração de Jesus. Essa devoção tem contribuído para a santificação de muitos membros da Igreja! Há mais de três séculos, homens e mulheres têm percorrido o itinerário da vida cristã ajudados por essa via devocional que situa o batizado numa atitude de contemplação do amor infinito de Deus em si mesmo e do transbordamento desse amor sobre a humanidade. O amor contemplado é traduzido em palavras e ações que refletem assim a dimensão encarnada do amor divino na Igreja e no mundo.

Um forte apelo à reparação

Entre os anos de 1673 e 1675, Santa Margarida Maria Alacoque foi agraciada com a experiência mística que deu origem à devoção ao Sagrado Coração de Jesus como se conhece hoje. Nas aparições de Jesus, Ele pediu a prática da Hora Santa reparadora (adoração eucarística) às quintas-feiras, a comunhão eucarística às primeiras sextas-feiras de cada mês e a celebração de uma solenidade dedicada ao seu Coração na conclusão da oitava de Corpus Christi. Neste ano, a Igreja celebra, com júbilo, os 350 anos da conclusão dessas aparições ocorridas em Paray-le-Monial na França.

É importante elucidar que no conteúdo místico das aparições há um forte apelo à reparação. O homem pecador é ingrato em relação a Deus. Na Bíblia, o pecado de ingratidão para com Deus está na origem da murmuração (cf. Sl 95, 8-11) que, quando não vencida, leva à idolatria. Os homens ofendem a Deus por causa dos seus pecados. A maioria dos pecadores não têm consciência disso e, ademais, não vive de modo agradecido ao seu Criador e Senhor. Os praticantes da devoção ao Coração de Jesus assumem o compromisso de fazer o ato de reparação, mostrando assim a solidariedade na culpa, ou seja, todos compartilham a mesma condição pecadora e quem tem consciência disso tem o dever amoroso de realizar o ato de reparação para o benefício espiritual dos que ainda não tem essa consciência, fazendo valer as palavras do próprio Jesus: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23, 34).

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Essa devoção exclusivamente católica possui uma robusta densidade espiritual porque situa a pessoa que a pratica diante do mistério da Encarnação. Papa Francisco presenteou a Igreja com a encíclica Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus. No número 48, ele estabelece a relação entre a devoção e o mistério encarnatório: “A devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da Pessoa de Jesus. O que contemplamos e adoramos é a Jesus Cristo por inteiro, o Filho de Deus feito homem, representado numa imagem sua em que se destaca o seu coração.”

A necessidade de reparação e o espírito de adoração 

Considerando tudo o que foi exposto acima, conclui-se que essa prática devocional conduz à adoração da Pessoa divina que – sendo amor infinito em si, em comunhão com o Pai e o Espírito Santo – se encarnou para comunicar esse amor e chamar os homens a entrar nessa relação de amor. No mistério da divino-humanidade do Filho de Deus, é possível fazer a grande descoberta de que “Deus é Deus e nos ama com um Coração de carne” (São Francisco de Sales).

Que a Solenidade do Coração de Jesus reacenda, no coração dos católicos, a chama ardente do amor, a consciência da necessidade de reparação e o espírito de adoração ao mistério da divino-humanidade do Filho de Deus!

Pe Robison Inácio de Souza Santos
Diocese de Guaxupé-MG, doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.