À reflexão de seus seguidores Jesus propôs um dos temas mais difíceis sobre qual seja o Reino dos céus. Pedagogo Divino, Cristo expôs inúmeras parábolas para falar sobre os mistérios deste Reino (cf. Mt 13, 1-52). Não é, realmente, fácil reportar às verdades invisíveis. O grande perigo é projetar falsas ideias no Reino, que já é agora uma realidade, mas que ainda está para se consumar para cada um. Há sempre toda uma carga de nosso imaginário consciente ou inconsciente. Cumpre evitar pintar o Reino a vir com as cores de um paraíso à moda das grandes mitologias pagãs, com suas descrições encantadoras, mas irreais.
Para deixar claro em que consiste o Reino, o Mestre Divino recorreu às parábolas, ou seja, a narrações alegóricas nas quais o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.
É impossível fechar numa descrição unívoca o que é o Reino dos céus. Ele escapa a toda determinação precisa. Ele, porém, está intimamente ligado à Pessoa mesma que o anuncia: Jesus de Nazaré. É tesouro oculto, pérola rara, comparação que mostra sua preciosidade. Quem o valoriza deixa qualquer outro bem para ter a posse dele.
Neste Reino, representado por uma rede, entram bons e maus, mas um dia se dará a separação definitiva no fim dos tempos, quando os infiéis receberão justo castigo. Para isso cumpre fugir da utopia política e não se deixar levar pelo fervor dos falsos profetas e seus arroubos messiânicos. Promessas dos que fabricam usinas de ilusão. É preciso ficar atento às mensagens da mídia que não passam de sistema de ideias dogmaticamente organizado como um instrumento de enganação política.
Somente Jesus tem promessas de vida eterna no Reino dos céus. O céu e a terra passarão, mas felizes os que compreendem a salvação que Deus oferece em seu Filho Jesus Cristo. Entretanto, como o Reino dos céus é algo a ser conquistado, apenas os que cooperarem para o progresso e o desenvolvimento da cidade terrena, competentes nas tarefas específicas confiadas a cada um é que poderão, um dia, possuir em plenitude este Reino lá na eternidade.
Trata-se do cumprimento do dever em casa, no trabalho, no apostolado. É preciso, de fato, ir além da estrutura social para sempre contemplar as pessoas que vivem os acontecimentos históricos como co-herdeiros do céu.
O pensamento do Reino dos céus não pode ser alienante, mas deve levar a ações concretas a bem do próximo. Mostra que as instituições e a sociedade no seu conjunto devem estar a serviço, sobretudo, dos marginalizados, dos mais pobres e deserdados da fortuna. Ao falar do Reino dos céus, Jesus nos convida precisamente a modificar nossa maneira e nossos critérios humanos.
É participando da história do mundo visível que cada um trabalha para que ninguém perca o rumo do Paraíso. São os mesmos atos, as mesmas decisões, os mesmos engajamentos que tomam sentido e valor numa e noutra realidade. Corre-se, de fato, o risco de se ater a valores diferentes segundo os critérios do mundo e os do Reino.
Tão somente alguém entrará no Reino se puder dizer ao deixar esta terra: “O mundo ficou melhor porque eu por ele passei”. É, portanto, participando de acordo com a vocação específica de cada um e sua responsabilidade social que se entrará na posse definitiva do Reino oferecido por Cristo. Trata-se de cultivar os talentos que o Ser Supremo conferiu a cada ser pensante, velando pelos irmãos no meio dos quais Deus nos chama a servi-Lo. Deste modo se aguarda o retorno de Jesus na hora da morte e no fim dos tempos.
Esta expectativa é que permite a cada um se situar de maneira justa nos engajamentos concretos que é preciso assumir na sociedade em que vive. É esta abertura contínua para o outro que nos guarda de toda idolatria funesta e de todo descorajamento. Estas foram as primeiras palavras de João Paulo II ao assumir a Cátedra de Pedro: “Não tenhais medo. Abri todas as portas da sociedade a Cristo”. Essa é a tarefa sublime do cristão que deve trabalhar no desenvolvimento integral das pessoas, levando a mensagem do Reino dos céus. É pedir então a Jesus que dê a cada um de Seus seguidores olhos para ver as necessidades do próximo e ouvidos para entender os apelos do Espírito Santo. Então, sim, o seguidor do Mestre Divino será semelhante a um proprietário que tira de seu tesouro coisas novas e velhas. Para isso é necessário pedir sempre ao Senhor: “Venha a nós o vosso Reino” e trabalhar corajosamente para que todos deles participem para glória de Deus e bem das almas.