Quando não exercitamos a fé, deixando-nos dominar pelo medo, estamos, na verdade, desprezando a misericórdia de Deus. Romper com Deus é uma grande ingratidão. É violar livremente um tratado, pois os compromissos que tomamos com Jesus são solenes, sagrados e eternos. E por que isso acontece? O desânimo, a preocupação, a falta de fé são grandes responsáveis por abandonarmos sua misericórdia. E o Senhor sabe disso. Não foi à toa que Cristo nos ensinou a pedir o pão de cada dia, o perdão pelas ofensas, a vitória sobre a tentação e o livramento do mal. Ele conhece os nossos temores, ansiedades, fraquezas e necessidades.
Deus está, desde o princípio dos tempos, estendendo sua mão para a humanidade. Mas o homem, a cada dia que passa parece estar repelindo mais e mais essa graça, esse favor, rejeitando as dádivas de Deus, para satisfazer as próprias vontades.
Se a cada momento de dúvida, refletíssemos sobre a obra que Deus empreendeu para o nosso resgate, essa dúvida se transformaria em infinitas ações de graças.
Mas outro modo, igualmente perigoso, de desprezarmos a misericórdia do Pai é, em vez de termos medo ou nos sentirmos derrotados, confiarmos apenas em nossas próprias virtudes, na vida honesta que levamos, achando que somos os reis da cocada-preta.
Quantas vezes o povo de Israel não agiu assim, achando-se livre da justiça divina só por ser a descendência de Abraão. E nós também, que somos, pela fé, descendência de Abraão, quantas vezes não nos consideramos melhores que os outros, ou menos necessitados da misericórdia do Pai. Pensamos conhecer melhor do que ninguém o coração de Deus ou merecer mais seu perdão do que aqueles que cometem pecados medonhos. Que triste engano! Isso só torna duro nosso coração, blinda nossa alma à obra maravilhosa que Deus quer fazer em nós e por nós.
Muitas vezes, são justamente aqueles pecadores medonhos que, mesmo não tendo toda a experiência que temos do amor do Pai e de suas graças, estão mais abertos a seu chamado, pois suas feridas ainda estão sangrando, suas almas ainda clamam pela salvação. Não podemos nos acomodar na situação de filhos resgatados e amparados, como se fêssemos melhores que os outros ou menos necessitados da misericórdia e do perdão de Deus.
Somos vitoriosos, sim, somos escolhidos, mas tudo isso nos é dado pela graça. Deus não cansa de nos esperar, mesmo quando não confiamos ou quando nos debatemos para largar seus braços e deixamos de nos importar com seus benefícios.
“Se fordes dóceis e obedientes, provareis os melhores frutos da terra” (Isaías 1,19).
Artigo extraído do livro “Se Deus é por nós…”