Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ao professar a fé cristã, os homens e mulheres de nosso tempo nele descobrem a fonte de vida e de graça e, ao mesmo tempo, a referência para o comportamento nas diversas circunstâncias. Nosso Senhor passou fazendo o bem, tem palavras “de vida eterna”, expressa os sentimentos humanos de forma inigualável, acolhe crianças, enfermos, pecadores de todos os tipos, visita, dialoga, cura, ama. Ninguém passa em vão ao seu lado.
Durante a vida pública, Jesus esteve algumas vezes em Jerusalém, sendo a última delas para Sua entrega definitiva, quando deu livremente a vida para morrer e ressuscitar. O Evangelho de São João descreve magistralmente o clima da última e definitiva viagem. Jesus vai a Jerusalém e participa de festas rituais dos judeus (cfr. Jo 7-12) e permanece nos arredores da Cidade Santa. O clima é tenso e o leitor se sente envolvido num verdadeiro tribunal, montado para condenar ao Senhor. Interferem testemunhas, o próprio Senhor chama em causa as obras realizadas e a ação do Pai do Céu, o Seu Pai. “O Pai e eu somos um!” (Jo 10, 30). O conflito está armado! Sua visita a Betânia, quando faz voltar à vida o amigo Lázaro, será o cume e desencadeará a decisão de levá-Lo à morte (cfr. Jo 11, 47-57).
É nesse ambiente que Jesus conta a parábola do Bom Pastor, acolhe com misericórdia a mulher adúltera, proclama-se Luz do mundo, cura o cego de nascença, vai duas vezes a Betânia e entra triunfalmente em Jerusalém.
Acompanhemos Jesus em Seu encontro com o cego de nascença (cfr. Jo 9, 1-41). Perto do cego estão seus pais, aparecem os fariseus que representam os verdadeiros cegos que não querem ver, os discípulos, os vizinhos e a opinião do povo que testemunhou o milagre. O enfermo não pede nada. É Jesus que “vê” o cego de nascença. Os discípulos tomam a palavra, com a pergunta sobre o sofrimento, mas o cego está calado. Mesmo se a mentalidade corrente liga a cegueira do homem ao pecado, Cristo mostra que ela indica a situação humana. Todos nós somos cegos desde o nascimento, todos somos doentes e de tal forma que nem temos força para invocar a quem nos pode salvar.
É o médico que toma a iniciativa. Seus gestos remontam à primeira criação. Volta à cena a terra e o barro da criação do mundo. Para que o ser humano possa ver, é necessária uma recriação! E Jesus manda o homem se lavar, e este obedece, diferente de Adão, que desobedeceu. O homem, que antes não conhecia Jesus, vive seu ato de fé. Dele nasce a sabedoria que vem do alto, pois sabe dar glória a Deus com suas palavras e com a adoração. Com essa sabedoria ele responde às interrogações das autoridades. Quem dá glória a Deus e adora “sabe diferente”.
A humanidade, representada pelas pessoas envolvidas nos acontecimentos, na qual o “pecado do mundo” se manifesta, procura uma resposta para o mistério da cegueira e do mal, o mistério do pecado. Existe uma ignorância coletiva representada pelo próprio cego, seus familiares e outros que o conheciam. Mas existe também a ignorância dos que não querem ver. Querem culpar uns e outros, sem saber se é pessoal ou coletiva a responsabilidade pelo mal do mundo! Só o encontro pessoal com Jesus Cristo pode iluminar a situação e libertar do pecado pessoal e comunitário. Acreditando em Jesus Cristo, luz do mundo, o cristão se torna filho da Luz, neutraliza com sua vida o pecado do mundo e pode irradiar nas trevas desse mundo a luz da verdade!
É pouco a pouco que o cego de nascença e todos os cegos, entre os quais nos incluímos, conhecem Jesus. Primeiro é reconhecido como homem (cfr. Jo 9, 11), depois como profeta (cfr. Jo 9, 17) e, enfim, como Messias (cfr. Jo 9, 36-38). Na palavra e nas ações de Jesus, na sua pessoa, encontramos a salvação pessoal e coletiva da cegueira que envolve a humanidade. Jesus salva sendo a Luz do mundo!
Até hoje nos deparamos com situações conflitivas e tocamos nas bordas do impossível, mesmo com todos os recursos oferecidos pela ciência e pela técnica. De um lado, aprendemos muito quando levados a acolher os próprios limites. Nem sempre temos soluções para tudo e nem por isso somos fadados à infelicidade. Mas as interrogações são mais profundas quando tocam no sentido da vida. Só no encontro pessoal com Jesus Cristo homem, profeta, Messias, Filho de Deus, Salvador, é que os olhos se abrirão para a luz da verdade. Não há que temer apresentar-Lhe todos os nossos questionamentos, dos quais não tem medo. As soluções para o impossível não serão mágicas, mas profundamente humanas e magnificamente divinas!