Caminhando em nosso bairro, um amigo, mais que amigo, um compadre, amigo velho de guerra. Para a sua bicicleta ao meu lado e para minha surpresa me pergunta:
– Você acredita mesmo em Deus?
Toco em seu braço, olho lentamente ao redor, vejo que isto o intriga, e respondo num sussurro:
– Melhor que isso compadre: Ele acredita em mim!
– Ô compadre… por essa eu não esperava.
(Ele não percebeu mas até eu mesmo me surpreendi com a resposta inusitada)
É verdade meu irmão. Mais do que simplesmente acreditar em Deus é preciso saber que Ele acredita em você, em mim, em cada ser humano. É isso! Deus acredita no homem embora nem todo homem acredite nEle. O Evangelho demonstra isto seguidas vezes. Vejamos um pouco do fim para o começo. Um dos últimos atos de Jesus foi acreditar num ladrão que de forma inesperada pede que o Senhor dele se lembrasse quando estivesse no paraíso. Um ladrão, um marginal acusado e condenado pela lei. A resposta positiva a este pedido certamente já lhe é conhecida.
Será que eu ou você acreditaríamos se um conhecido e violento marginal batesse em nossa porta dizendo que gostaria de morar conosco, em nossa casa, e se converter? Em Jerusalém um dia antes da cena no Calvário um homem, um seguidor de Jesus, o mais vivido, o mais velho entre os seus adeptos, por três vezes nega a sua amizade com o Nazareno. Após a Ressurreição o Mestre faz a Pedro por três vezes a mesma pergunta. Jesus sabe a resposta e conhece a tristeza no coração daquele homem amargurado com sua anterior atitude de negação mas quer ouvir a profissão de amor de Pedro porque acreditava nele apesar de sua reação de medo e sua mentira naquele momento crítico da prisão e julgamento do Mestre.
Hoje, como eu, a exemplo de Pedro, posso dizer “Senhor tu sabes tudo, tu sabes que te amo” se imagino que Ele não mais acredita em mim devido aos meus erros? Jesus tanto acreditou em Pedro que lhe confiou as chaves da Sua Igreja. Deus Filho acreditou em Pedro e o designou Cefas, cabeça, pedra, rocha. Muita gente já foi despedida do emprego porque o gerente soube que o empregado comentou que não gostava do patrão, o dono da empresa.
– Perdemos a confiança em você. Está de-mi-ti-do. Rua!
Ainda no Evangelho um publicano, odiado chefe dos coletores de impostos para Roma, disse ao Senhor que iria restituir em dobro tudo o que havia extorquido, Jesus nele acreditou e Zaqueu cumpriu a sua promessa integralmente. À mulher adúltera ameaçada de morte por lapidação, após um diálogo com os possíveis algozes, Jesus pergunta “Ninguém te condenou? Ela responde “Ninguém, Senhor”. O Senhor simplesmente diz “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”(Jo 8,10-11). Somente uma única recomendação, sem crítica alguma. Jesus acreditou na conversão definitiva daquela pecadora contrita.
Sei que muitas das coisas que pedi a Deus não foram atendidas, primeiro porque provavelmente eu ainda não estivesse pronto para recebê-las, mas principalmente por que eu não acreditava que Ele acreditasse em mim. Nossa formação inadequada nos leva a nos considerarmos indignos de crédito junto a Deus. Como dizem algumas pessoas:
– Se nem o gerente do Banco confia em mim, como Deus vai confiar?
“Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma palavra e minha alma será salva”. O “Dómine, non sum dignus”, “Senhor, eu não sou digno”, parece prevalecer e superar o: “sed tantum dic verbo et sanábitur anima mea”, “mas dizei uma palavra e serei sanado, curado, salvo”. Precisamos mudar nosso modo de pensar e confiar totalmente no “sed tantum dic verbo…”.
Eu, mesmo julgando não ser digno, preciso somente pedir que Ele diga uma única palavra e serei transformado porque Ele em mim vai confiar, vai me restaurar, vai me curar, vai me libertar e salvar a minha alma tão preciosa a Ele. Assim o fez o Bom Ladrão no Calvário. Isto para mim, hoje, agora, ainda é muito real e sensível meus irmãos! Indo agora ao Antigo Testamento você se lembra do arrasador episódio do Dilúvio? Certamente sim. Pois bem, a narrativa (Gn 7;8 e 9) conclui com a frase divina “Vou fazer uma aliança convosco e vossa posteridade (…) eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos que estão sobre a terra”.
Aliança eterna entre Deus e a sua criatura predileta, o ser humano. Um matrimônio perfeito e ternamente indissolúvel entre Deus e nós. A característica do matrimônio humano duradouro é a confiança mútua do casal apesar de suas dificuldades e limitações individuais; sem isto o casamento não subsiste. Na aliança com o Senhor se dá o mesmo, Ele confia e acredita em mim e eu preciso acreditar nEle de forma inabalável, caso contrário nosso relacionamento correrá o risco de se romper.
No dia a dia aqui neste mundo, numa grande empresa os diretores confiam a seus empregados equipamentos valiosos para serem operados adequadamente porque sabem da capacidade profissional de cada um deles. Uma aeronave comercial de alto valor, de milhões de dólares, é entregue aos pilotos capacitados e quando embarcamos num vôo não vamos à cabine de comando para pedir que o comandante e a tripulação apresentem seus documentos profissionais. Simplesmente tomamos nosso assento acreditando que estamos entregues em boas e hábeis mãos.
Enquanto digito este texto confio em que o equipamento vai armazená-lo, desde que o salve devidamente, e o terei à minha disposição a qualquer momento após fechar o programa e desligar a máquina. Com o Senhor, mesmo que e me desligue dEle temporariamente, sei que Ele continuará acreditando em mim e quando eu reatar nossos laços não serei contestado ou repudiado – e entendo que não é por isto que tenho o direito de abusadamente brincar de “esconde-esconde” com Deus.
Um ditado diz que se não pergunta “para onde” quando um amigo verdadeiro nos diz “Vamos!”. É tempo pois, de renovarmos a nossa Aliança com o Senhor colocando de forma absoluta a certeza de que Ele, muito mais do que nossas esposas, filhos, familiares e amigos acredita em nós. Eu acredito meu irmão. Se tu não acreditas, tenha a certeza de que Ele acredita em você!