Por meio do dom do temor de Deus, a vitória é rápida e perfeita
Para entender o significado deste dom, distingamos diversos tipos de temor: a) o temor covarde ou da covardia; b) o temor servil ou do castigo, do escravo que teme o chicote; e c) o temor filial. O amor do filho para com o Pai consiste na repugnância que o cristão experimenta diante da perspectiva de poder se afastar de Deus. Não se concebe o amor sem esse tipo de temor.
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
As virtudes afastam o cristão do pecado, ajudam-no a vencer as tentações. Isso, porém, acontece por meio de lutas, hesitações e deficiências. Pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois é o Espírito que move o cristão a dizer ‘não’ à tentação.
É muito bom contemplarmos a Deus com olhos de amor, confiança e terna reverência, mas é também muito bom nunca esquecer que Ele é o Juiz de justiça infinita, diante de quem um dia teremos que responder pelas graças que nos concedeu. Essa lembrança dá-nos também um santo temor de ofendê-lo pelo pecado.
O dom do temor de Deus se prende à virtude da humildade. Essa nos faz conhecer nossa miséria; impede a presunção e a vanglória, e assim nos torna conscientes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor do Senhor. O mesmo dom também se liga à virtude da temperança; esta modera a concupiscência e os impulsos desordenados do coração, as paixões da alma; com ela converge o temor de Deus, que modera os apetites que poderiam ofender o Pai.
Os santos deram provas sensíveis de santo temor de Deus. São Luís de Gonzaga, conforme é narrado, derramou copiosas lágrimas, certa vez, quando teve de confessar suas faltas… as quais, na verdade, dificilmente poderiam ser tidas como pecados. Para o santo, essas pequeninas faltas eram sinais do perigo de poder, um dia, afastar-se de Deus. Para quem ama, qualquer perigo desse tipo tem importância.
Verdadeiramente teme a Deus quem procura praticar os seus mandamentos com sinceridade de coração. Como nos diz as Escritura, devemos buscar, em primeiro lugar, o Reino de Deus; o resto nos será dado por acréscimo. O mundo, muitas vezes, sufoca e obscurece nosso coração. Todas as vezes que cedemos às tentações, com certeza desprezamos a Deus Nosso Senhor. Quantas vezes preferimos os bens miseráveis deste mundo e esquecemo-nos de Deus! Quantas vezes tememos mais a justiça dos homens do que a justiça divina, a única realmente que nos salva! Santo Anastácio a esse respeito dizia: “A quem devo temer mais, a um homem mortal ou a Deus, por quem foram criadas todas as coisas?”
Como consequência, o dom do temor de Deus nos leva a fugir do pecado. São Agostinho disse: “Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso, precipitava-me na dor, na confusão e no erro”. “O que ama a iniquidade odeia a sua alma” (Sl 10,6). Daí provém o motivo de a alma tornar-se enferma e encontrar tormentos em seu corpo mortal”. “Quanto mais for destruído o reino da concupiscência, tanto mais aumentará o da caridade”.
Não esqueçamos, portanto, de pedir ao Espírito Santo a graça de estarmos em sintonia diária com os preceitos do Criador.