Com o dom da fortaleza podemos enfrentar as tentações do mal que nos leva a pecar
A vida cristã encontra obstáculos numerosos, alguns provenientes de fora do cristão; outros, do seu íntimo ou das suas paixões desordenadas. Por isso diz o Senhor que “o Reino dos céus sofre violência dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11, 12).
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Uma vida cristã tem de ser necessariamente, em algum grau, uma vida heroica; é o heroísmo da vitória sobre os nossos próprios defeitos. Mais do que conquistar o mundo, o cristão tem de aprender a dominar-se a si mesmo. Às vezes, a vida cristã exige um heroísmo ainda maior: quando fazer a vontade de Deus impõe o risco de perder amigos, bens ou saúde; há o heroísmo mais alto dos mártires, que santificaram a própria vida por amor a Deus. Não é em vão que Deus vem em ajuda de nossa fraqueza com o seu dom de fortaleza.
Até mesmo São Paulo gemia sob o peso da fraqueza humana. Na carta aos romanos ele diz: “Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita” (Rom 7,15-20).
Sabemos que Cristo nos libertou do pecado e da morte por Sua morte e ressurreição, mas as sequelas do pecado original continuam em nossa natureza; então, temos de lutar com Sua graça para vencer o pecado. O Catecismo da Igreja diz que: “Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem consequência pior para o próprio pecador e para a Igreja e para o mundo inteiro” (n.1489). É para podermos enfrentar as tentações do mal que nos levam a pecar que o Espírito Santo nos fortalece com o dom da fortaleza.
É em vista da necessidade de coragem e grandeza de alma que se exige do cristão, que o Espírito lhe dá o dom da fortaleza. Esta nem sempre consiste em realizar grandes feitos admirados pelo público, mas implica paciência, perseverança, coragem, renúncia, sacrifício etc. Pelo dom da fortaleza, o Espírito Santo dá ao cristão não apenas o que as forças humanas podem alcançar, mas também a força divina. É essa força de Deus que pode transformar os obstáculos em meios; é ela que dá tranquilidade e paz mesmo nas horas mais difíceis. Foi ela que inspirou a São Francisco de Assis palavras tão significativas quanto essas: “Irmão Leão, a perfeita alegria consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.
Por essa virtude, Deus nos dá a coragem necessária para enfrentar as tentações, as circunstâncias difíceis da vida e também firmeza nas perseguições e tribulações causadas por nosso testemunho cristão diante do mundo. Foi com muita coragem, com o dom da fortaleza, com muito heroísmo, que os santos mártires desprezaram as promessas e ameaças do mundo. Com serenidade, foram ao encontro da morte. Que luta gloriosa não sustentaram! Agora, gozam de perfeita paz, em união íntima com Jesus, de cuja glória participam.
Também nós temos de “combater o bom combate” (2 Tm 2,6) para alcançar a coroa eterna. Vivemos num mundo cheio de perigos e tentações, bem como de um relativismo moral e religioso, que é contrário às verdades eternas. A alma acha-se constantemente envolta nas tempestades de paixões revoltadas. Maus exemplos estão em toda parte e as inclinações do coração são sempre dirigidas para o mal. Resistir a tudo isso requer força de vontade, combate resoluto sem tréguas.
As provações nos fortalecem para o combate espiritual; por isso Deus as permite, os apóstolos sempre estimularam os fiéis a enfrentá-las com coragem. São Pedro diz: “Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo” (1 Pe 4,12). Ensinando-nos que essas dificuldades nos levarão à perfeição: “O Deus de toda graça, que vos chamou em Cristo à sua eterna glória, depois que tiverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, vos tornará inabaláveis, vós fortificará” (1 Pe 5,10).
O mesmo apóstolo ensina-nos que a provação nos aperfeiçoará e nos tornará inabaláveis. É importante não se deixar perturbar no fogo da provação. Não se exasperar, não perder a paz e a calma, pois é exatamente isso que o tentador deseja. O remédio da fé contra tudo isso é a humilde aceitação da vontade de Deus no exato momento em que algo desagradável nos ocorre, dando, de imediato, glória a Deus, como São Paulo ensina: “Em todas as circunstâncias, dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus” (1 Tes 5,16).
É preciso fazer esse grande e difícil exercício de dar glória a Deus na adversidade. Nesses momentos, gosto de glorificar a Deus, rezar muitas vezes o “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”, até que minha alma se acalme e se abandone aos cuidados do Senhor. Essa atitude muito agrada ao Senhor, pois é a expressão da fé pura de quem se abandona aos Seus cuidados. É como a fé de Maria e de Abraão que “esperaram contra toda a esperança” (cf. Hb11,17-19), e assim, agradaram a Deus sobremaneira.
Mas não temos forças humanas para isso; então, o Espírito Santo nos socorre com o dom da fortaleza. Roguemos a Deus para que esse dom seja nosso companheiro inseparável, para que possamos testemunhar nosso amor ao Senhor por palavras e obras. Assim, viveremos na fé e pela fé, certos de que seremos felizes aqui e na eternidade.