Muitos fatos, atitudes e palavras são vistos de acordo com a percepção ou a interpretação de quem os observa. Se a formação para a convivência na tolerância, na boa vontade e no verdadeiro bem do semelhante acontecer na formação do caráter da pessoa, temos um relacionamento mais harmonioso na família, na comunidade e na sociedade. Caso contrário, a pessoa tende a buscar na outra o que lhe interessa e não valoriza suas virtudes. A busca da derrota do outro se torna, nessa perspectiva, uma constante, principalmente quando se pleiteia posto na ordem política, profissional e outras. Quem inteligentemente sabe valorizar até o oponente, não precisa usar artimanhas até antiéticas para derrubar o outro. Sabe, sim, apresentar propostas válidas que convencem mais do que usar a tática de desqualificação do outro.
Na época de Moisés, Deus agiu em setenta anciãos para eles profetizarem. Mas dois outros, não escolhidos, também se puseram a profetizar. Josué estranhou o fato e pediu ao referido profeta que os impedissem de fazê-lo. Mas Moisés louvou os dois por realizarem obra de bem (Cf. Números 11, 25-29). De fato, o bem realizado por outros, mesmo fora de nosso grupo ou interesse, não podemos ser injustos de não o reconhecer! Quantos talentos poderiam ser mais bem valorizados com o benefício da comunidade! Por que não deixar os outros competirem conosco? Por que não reconhecer as virtudes de quem faz o bem ao semelhante?
Muitas vezes, por causa de um defeito, até pequeno, desqualificamos tantos valores ou pendores do semelhante! Mesmo na ordem das religiões poderíamos unir mais forças para servir melhor a sociedade! Não se trata de renunciar aos próprios valores, mas reconhecermos pontos coincidentes com os nossos no semelhante. Na ordem política, o partidarismo absolutista pode levar a desqualificar a causa do bem comum. Adversário político não pode ser confundido com inimigo. Os programas e as propostas partidárias é que devem ser bem esclarecidos para o povo e não os ataques aos oponentes para derrubar sua moral!
O Apóstolo Tiago apresenta o uso das riquezas com moderação e não como finalidade. Elas são perecíveis (cf. Tiago 5,1-6). A justiça e o bem, promovidos ao semelhante, são virtudes que não se enferrujam. Por isso, vale a pena colocar tudo a serviço do bem comum, com toda a hipoteca social que as riquezas apresentam. O Documento dos Bispos na Conferência de Aparecida (SP) coloca bem clara a opção evangélica preferencial pelos empobrecidos como compromisso de seguimento a Jesus. Seria um bom programa para todos que desejam se dedicar à promoção do bem da comunidade.
Na trilha do Mestre, encontramos Seu belo ensinamento de valorizar quem realmente pratica o bem ao outro, sem olhar para sua origem, grupo ou posição dentro de nossa comunidade. O bem não tem partido. Ele mostra a verdade do dom de Deus ao ser humano aberto à Sua ação para amar e servir. Quantas pessoas realizam o benefício do próximo sem serem vistas. Há exemplos marcantes que se têm destacado na história! Tomara que nossas lideranças deem o exemplo disso e estimulem os outros a realizarem o mesmo. Teremos pessoas, grupos, partidos, famílias, lideranças e pessoas que realmente ajudam a sociedade na direção de sua realização!