Ensina-nos a rezar

A descoberta do amor de Deus está na base da vida cristã. A todos os homens e mulheres será anunciado de várias formas que Deus os ama imensamente, com amor eterno! O Sacramento do Batismo nos introduziu, como membros do Corpo de Cristo, na vida da Igreja, Mãe solícita que nos educa na fé, para sermos autênticos discípulos do Senhor. Trata-se de uma graça! No Batismo se estabelece um novo relacionamento com o Pai – “Eu te batizo em nome do Pai” – uma nova vida em Cristo – “e do Filho” – e a habitação do Espírito em que recebe o Sacramento – “e do Espírito Santo”. No Batismo, fomos sepultados com Cristo e com Ele ressuscitados, pela fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (cf. Cl 2, 12-14).

Toda a vida se transforma, quando se acolhe a graça que vem do alto. Ao lado de um novo relacionamento com o próximo, na caridade, e da formação interior na prática das virtudes, e como fundamento de tais práticas, estabelece-se um relacionamento com Deus, chamado oração. Quem reza se salva, repete-se na Igreja no correr dos séculos!

Faz-se necessário encontrar na vida a arte da oração. “A oração não se pode dar por suposta; é necessário aprender a rezar, voltando sempre de novo a conhecer esta arte dos próprios lábios do divino Mestre, como os primeiros discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar» (Lc 11,1-13). Na oração, desenrola-se aquele diálogo com Jesus que faz de nós seus amigos íntimos: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15,4). Esta reciprocidade constitui precisamente a substância, a alma da vida cristã. Obra do Espírito Santo em nós, a oração abre-nos, por Cristo e em Cristo, à contemplação do rosto do Pai. Aprender esta lógica trinitária da oração cristã, vivendo-a plenamente sobretudo na liturgia, meta e fonte da vida eclesial, mas também na experiência pessoal, é o segredo dum cristianismo verdadeiramente vital, sem motivos para temer o futuro porque volta continuamente às fontes e aí se regenera” (Novo Millenio Ineunte, n. 32).

As nossas comunidades devem tornar-se autênticas escolas de oração, onde o encontro com Cristo não se exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em ação de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afetos de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente apaixonado. Uma oração intensa, mas sem afastar do compromisso na história: ao abrir o coração ao amor de Deus, ela o abre também ao amor dos irmãos, tornando-nos capazes de construir a história segundo o desígnio de Deus (ibidem, n. 33).

É bom esclarecer que na Igreja se usam, um pelo outro, os verbos orar e rezar, em maiores complicações. Abraão intercede por cidades marcadas pela iniquidade (cf. Gn 18, 20-32), pechinchando com Deus, na súplica por um desconto no número de justos a serem ali encontrados. As situações mais desesperadoras podem ser apresentadas diante de Deus Pai.

Trata-se de desenvolver a sensibilidade que nos permita abrir o coração diante do Altíssimo, derramando em Suas entranhas de misericórdia tudo o que vivemos. O Senhor responde a cada vez que O invocamos (cf. Sl 137). E quando não nos atende é porque sabe o que é melhor para nós, ou porque misteriosamente se envolve a liberdade das pessoas, que podem acolher ou rejeitar a graça de Deus. O início da oração será sempre a abertura à Sua vontade.

Jesus nos ensinou a orar dando-nos de presente o “Pai-Nosso”. Não há melhor nem mais completa oração do que esta. Todos os outros pedidos e súplicas, sendo parecidos com as que compõem a oração do Senhor, serão autênticos. Nos sete pedidos do Pai-Nosso estão contidos os únicos e verdadeiros bens necessários. Os três primeiros pedidos visam a glória de Deus. Reconhecemos a Santidade do nome de Deus, pedimos e acolhemos o Seu Reino e Sua Vontade. Nos quatro pedidos que se seguem, pedimos o perdão dos pecados e nos comprometemos a perdoar como somos perdoados. Dele esperamos a vitória contra a tentação, porque a causa de nossos pecados são as tentações. Não é pecado ser tentado, mas consentir nas tentações, pelo que pedimos para não cair! Tudo isso porque Deus é o Pai que dá a cada dia o alimento desta terra e o Pão da vida, a Eucaristia. Pedimos o pão para hoje com a confiança de que amanhã voltaremos a pedir e nosso Pai no-lo dará de novo!

Jesus nos convida para pedir com perseverança, sem nunca desanimar. Deus não nos dará sempre o que Lhe pedimos ou do jeito que esperamos receber, pois, muitas vezes, não sabemos o que nos convém. Mas o Pai nos dará sempre o Espírito Santo. São Paulo diz que o Espírito Santo Paráclito vem em auxílio de nossa fraqueza, pois não sabemos rezar. Repetindo com perseverança o Pai-Nosso chegaremos ao “tom” da oração que nos harmoniza com o plano de Deus! O pedido perseverante deixará de ser egoísta e se transformará em oração, que nos eleva e nos aproxima de Deus.