Servos uns dos outros à imagem de Maria: vivendo o Evangelho no coração do Círio de Nazaré
Vivemos, com alegria, dias maravilhosos no coração do Círio de Nazaré, um evento genuinamente católico e de responsabilidade exclusiva da Arquidiocese de Belém, ao mesmo tempo acolhedor a todas as pessoas, sem exceção, de perto ou de longe, que se sentem atraídos pelo Mistério de Morte e Ressurreição de Cristo, Mistério Pascal! E sabemos que, aos pés da Cruz de Jesus, estava de pé Sua Mãe Santíssima, entregue a João, e este, em nosso nome, fez com que a Igreja levasse permanentemente, entre aquilo que lhe pertence, a Mãe de Deus e sua Mãe. Tanto é verdade que, nos séculos afora, todas as gerações a chamam feliz, bem-aventurada, bendita, encontrando centenas de nomes para se referirem a Maria. Para os paraenses e belenenses, é chamada Nossa Senhora de Nazaré, e sabemos como seu título, sua Imagem Peregrina e sua mensagem se espalham por todos os quadrantes do Brasil e do mundo. Desejamos declarar-nos “Servos de Maria de Nazaré”, colocando-nos a sua disposição para espalhar sua devoção, cada um de nós em sua vocação e estado de vida.
Servos de Maria de Nazaré: um chamado à entrega
Se existem várias fórmulas de Consagração a Nossa Senhora, desejamos fazer essa proposta dentro do clima do Círio de Nazaré: dedicar-nos a divulgar a devoção Nossa Senhora de Nazaré; rezar do jeito que Maria rezou com os Apóstolos no Cenáculo, suplicando a vinda do Espírito Santo, especialmente pela paz, um dos frutos de sua ação no mundo; abraçar como própria a vocação missionária da Igreja, neste mês de outubro; rezar, durante a Quadra Nazarena, a oração própria do Círio: “Senhor nosso Pai, estamos unidos em nome de Jesus, vosso Filho, conduzidos pelo Espírito Santo de Amor. Nós vos agradecemos pelo dom da fé cristã que nos reúne, e pela Igreja que nos conduz pelos caminhos da vida feliz nesta terra e para a eternidade! Pai eterno, vós nos destes de presente a Virgem de Nazaré, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Unidos a Maria, pedimos com confiança: envolvei-nos com laços de amizade e cordas de amor, trazei-nos para perto de vós, de Jesus Cristo e do Espírito Santo! Acendei, ó Pai, em nossos corações, o Círio da Fé, da Esperança e da Caridade. Que o povo de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha e Padroeira da Amazônia, seja testemunha fiel do Evangelho de Jesus Cristo, para o crescimento do vosso Reino de paz e justiça, reino de vida e verdade, reino do amor e da graça. Amém!”
O Evangelho do Serviço: aprendendo com Jesus e Maria
Maria se proclamou serva e escrava do Senhor, tornando-se modelo e intercessora para todos os que desejam servir e amar. O Evangelho do vigésimo nono domingo comum, que celebramos neste final de semana (Mc 10,35-45), conta que Tiago e João, justamente o João que esteve de pé perto da Cruz e ao lado de Maria, os dois manifestando a Jesus o desejo de posições de destaque. Certamente ainda existia, em seus corações, muito a aprender a respeito do Messias pobre, sofredor, morto e ressuscitado. Pelo visto, João entendeu tudo, pois, no seu Evangelho, narrou o lava-pés e as palavras de Jesus sobre o mandamento novo. E nas belíssimas cartas que escreveu, indicou maravilhosamente o mandamento do amor.
Com Maria, com João e mais ainda com Jesus desejamos reaprender o que o Senhor diz no Evangelho: “Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,43-45). Trata-se de uma proposta que vai contra a correnteza de todos as pretensões de poder, em todas as épocas. E agora, com simplicidade, perguntemos o que significa ser servos ou servidores!
A alegria de servir: um coração disponível
Quem vive para servir toma a iniciativa, dá o primeiro passo, descobrindo sempre o que se pode fazer para ajudar no crescimento do Reino de Deus e para amar a todos. Não são poucas as pessoas que, logo ao chegar numa festa, uma casa, um encontro pastoral, encontram algo para fazer, num espírito admirável de disponibilidade. Há poucos dias, vimos a quadra de uma Escola transformada num lindo ambiente para a instalação da Área Missionária Nossa Senhora da Esperança. Dava para identificar as pessoas que trabalharam muito e com dedicação para preparar tudo. E que dizer das dezenas de milhares de voluntários dedicados ao Círio de Nazaré?
Perguntados sobre o surgimento de Comunidades, Áreas Missionárias ou Paróquias, tivemos a alegria de mostrar como, entre nós, tudo começa com uma ou mais famílias que trazem apenas algumas armas tão simples quanto poderosas: a Bíblia, o Rosário de Nossa Senhora e a busca da Eucaristia, muitas vezes em igrejas bem distantes da própria residência. De repente, um pequeno salão, uma capela, que vira igreja, que gera Comunidade, Paróquia, Vocações e daí por diante. Tudo isso fruto de pessoas que descobriram a alegria de servir.
Servir com humildade: grandeza nas pequenas coisas
Quem vive para servir aceita fazer as coisas simples e pequenas com um coração grande, pois maior valor tem o coração que se compromete do que o tamanho ou a visibilidade do serviço prestado. Com toda a certeza, nossa chegada ao Paraíso vai possibilitar-nos o encontro com tantos santos e santas anônimos, independente de raça, cor, posição social ou cargos. Com Maria, a serva humilde e obediente, passam na frente!
Servir com amor: construindo o Reino de Deus
Quem vive para servir sabe fazer o que ajuda mais no crescimento do Reino de Deus. Prefere o diálogo, o testemunho de vida, comunhão e anúncio explícito de Jesus Cristo. Essas são pessoas que não cedem à tentação da revolta e da indignação, ainda que as estruturas da sociedade tão injusta e desigual levem à tendência do grito pelo grito.
Servir em comunidade: superando individualismo e competição
Quem vive para servir aprende e efetivamente trabalha e age em comunhão com os outros, sabe partilhar, não se enche de inveja ou ciúme quando outros assumem tarefas semelhantes ou mesmo a atividade que lhes era própria. Ao viver e atuar com os outros, sabe buscar os verdadeiros fios que tecem a comunhão, superando antipatias e competições.
Servir com liderança humilde: guiando pelo exemplo
Quem vive para servir torna-se líder, mas sem autoritarismo ou domínio tirânico sobre os outros, descobre a valoriza outras lideranças, contribui para a sua formação, caminha com elas e sabe deixar. Na hora certa, as posições antes assumidas. E assim a Igreja cresce, olhando para aquele que veio para servir e não para ser servido!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará