Estar plenamente convertido é permitir que Deus nos conduza para fora de nossas compulsões. Significa que aceitamos desistir de tentar incessantemente dar um jeito nas coisas.
A liberdade é o oposto das obsessões compulsivas. Claro, isso não é fácil, principalmente porque somos motivados por necessidades prementes. Por exemplo: sentimo-nos solitários e assim procuramos às vezes desesperadamente alguém que possa remover nossa dor: o marido, a esposa ou um amigo. Somos muitos apressados em concluir que alguém ou alguma coisa pode, finalmente, acabar com nossa carência. E assim passamos a esperar muito dos outros.
Passamos a ser exigentes, dominadores e até violentos. Os relacionamentos entortam-se debaixo de enorme peso, porque depositamos exagerada seriedade neles. Sobrecarregamos nossos semelhantes com poderes imortais. E, nos piores momentos, fazemos deles instrumentos para preencher nossas expectativas, mas sempre que escolho outros deuses, fazendo de pessoas ou eventos a fonte de minha alegria, constato que minha tristeza só tende a aumentar.
Quando exijo de outros aquilo que só Deus pode dar, experimento dor. Um Salmo do Antigo Testamento aponta em outra direção: Ao Senhor declaro: Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de Ti (Salmo 16,2).
Essa oração provém da experiência religiosa de um adorador que sabe estar protegido pela presença de Deus no templo. O salmista continua a declarar que Deus é a sua porção, cálice e herança. Essas imagens se reportam a um tempo anterior em Israel, quando os levitas, servos de Deus, não tiveram parte na herança dada às outras tribos, pois o próprio Deus foi a sua porção (cf. Deuteronômio 10,9). Percebemos que a fonte de alegria do salmista era uma vida vivida em comunhão com o Senhor.
Muitas coisas em nossa vida são obviamente de imensa importância para nós. Não podemos ser completos sem gente para amar e sem gente que nos ame. Necessitamos de comida e de um lugar para viver; desfrutamos da companhia de um amigo e do prazer de ler um livro. Mas manter a mão aberta significa lembrar que não somos o que adquirimos ou realizamos, mas sim, o que temos recebido.
As mais profundas alegrias não provêm do dinheiro que ganhamos, de amigos que nos cercam ou de resultados obtidos. Somos, realmente, as pessoas que Deus fez em Seu infinito amor. Somos os dons que recebemos, não as vitórias que conquistamos. Enquanto nos desgastamos, tentando ansiosamente nos afirmar ou receber afirmação de outros, continuamos cegos Àquele que nos amou primeiro, habita em nosso coração e formou o nosso verdadeiro eu. Mas ainda podemos abrir nossos olhos. Podemos ver um novo caminho adiante.
(Trecho do livro: “Transforma meu pranto em dança”, publicado no blog: http://blog.cancaonova.com/acorrentados)