A fé, segura, sólida e feliz, pode-se dizer que saía por todos os poros de seu corpo e de sua alma. Acreditava mesmo em Deus, acreditava mesmo em Jesus Cristo, único Salvador do mundo; acreditava plenamente no chamado de todos à salvação que está em Cristo Jesus; acreditava, com confiança de filho, na intercessão da santíssima Virgem Maria, em cujos braços maternos se abandonara muito cedo, declarando-se Totus tuus! – Todo teu!
Diz-se, com toda a razão, que a oração é o espelho da fé. É por meio dela que a alma se une a Deus em plena intimidade; é pela oração, amorosamente contemplativa, que os traços de Cristo se imprimem na alma; é por ela que os olhos vêem o mundo, a história, os homens – cada homem – com a própria visão de Deus; e é pela oração que se pode chegar a dizer como São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gál 2,20).
Pois bem, João Paulo II vivia, literalmente, mergulhado na oração. E isso, mesmo para os que o ignoravam, notava-se de uma forma indisfarçável. Desde o início de seu pontificado – continuando, aliás, com seus antigos hábitos de padre e de bispo – , levantava-se às 5h30 e, depois de se arrumar, ia imediatamente à capela para fazer mais de uma hora de oração íntima, ajoelhado diante do sacrário, perante um crucifixo e uma imagem da Virgem Negra de Czestokowa.
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No seu penúltimo livro, ‘Levantai-vos! Vamos!’, o próprio Papa fala da alegria de ter a capela tão perto das dependências onde trabalhava: “A capela fica tão próxima para que na vida do bispo tudo – a pregação, as decisões, a pastoral – tenha início aos pés de Cristo, escondido no Santíssimo Sacramento […]”. Estou convencido de que a capela é um lugar de onde provém uma inspiração particular. É um privilégio enorme poder habitar e trabalhar no espaço dessa Presença que atrai como um potente ímã. “Todas as grandes decisões – comentava um dos seus ajudantes – tomava-as de joelhos em frente ao santíssimo Sacramento”.
A capela era, realmente, o ímã constante, irresistível, do dia a dia de João Paulo II. Nela, além da oração matutina e da celebração da Santa Missa, ele rezava, todos os dias, a Liturgia das Horas. Na capela, muitas vezes, das 9h30 às 11h00, ele se dedicava a escrever, anotando sempre no cabeçalho de cada folha uma oração abreviada, uma jaculatória.
Esse clima de oração, estendia-se, como uma onda cálida, a todas as atividades do dia. João Paulo II rezava constantemente entre as diversas reuniões, a caminho das audiências, no carro, num helicóptero… Num terraço do Palácio Apostólico, onde mandara colocar as catorze estações da Via Sacra. Praticava essa devoção todas as sextas-feiras do ano e, na Quaresma, todos os dias. Rezava o terço em diversos momentos da jornada, até completar o Rosário.
Um detalhe simpático: só se dedicava ao descanso, após o almoço, uns dez minutos; depois dos quais, enquanto outros repousavam, passeava pelos jardins do Vaticano rezando o terço.