A opção na vida há de ser a do amor que orienta todas as outras decisões
Não existe uma pessoa que não ame. Muda o objeto que é amado, mas faz parte da natureza humana voltar-se, no amor, para o que é desejado e buscado. Pode parecer muito simples, mas a capacidade de amar também pode ser educada num processo de formação que envolve a vida inteira. Mal formada, a inata capacidade para amar pode chegar, inclusive, à destruição da realidade que é amada. Trata-se de uma força imensa, plantada por Deus nos corações humanos. Ela vem do Céu para se implantar e multiplicar-se no bem que pode ser feito na Terra e se perpetuará na eternidade.
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
O amor é um sentimento?
Envolve, sim, os sentidos, mas na compreensão cristã, que perpassa a Sagrada Escritura e a experiência secular da Igreja, é muito mais do que um sentimento. Antes, é um ato de inteligência e de vontade. Basta recordar a realidade do martírio, presente em toda a história da Igreja, na qual alguém se dispõe a superar o instinto primordial de defesa da própria vida, para entregá-la pelo bem dos outros, como resultado de sua escolha de vida no seguimento do Evangelho. Existem também situações de pessoas que, mesmo sem conhecimento do Evangelho, chegam a entregar-se pelo bem dos outros, pela causa da vida e da dignidade humana. Tais gestos fazem compreender a possibilidade de uma escolha radical, que orienta todas as energias humanas para o que não se vê nem se pode comprovar, senão pelo testemunho!
“Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares” (Dt 6,4).
A primeira e decisiva opção na vida há de ser esta, como uma veste interior, que envolve e orienta todas as outras decisões: escolher Deus como tudo da própria existência.
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Medida do amor
O resumo da lei de Deus, expressa o Decálogo, encontra-se na lapidar afirmação: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Mas foram necessários muitos séculos e, mais do que tudo, a revelação que vem do Alto, para que tal mandamento viesse a ser compreendido. Aliás, foi preciso que o Pai do Céu enviasse Seu Filho, como vítima de reparação por nossos pecados, para a humanidade entender o amor (cf. I Jo 4,7-10) e sua medida, que é justamente amar sem medida.
O amor ao próximo suscitou muitas perguntas. Afinal, o próximo é quem está perto de mim? Para povos que vagavam por desertos ou se sentiam ameaçados pelos potenciais inimigos, o estrangeiro é também próximo? Como tratar quem é diferente e incomoda? Jesus Cristo, amor do Pai que se faz carne no meio da humanidade, aproxima o amor do próximo ao amor de Deus, dizendo que o segundo é semelhante ao primeiro mandamento! Próximo é, para o Senhor, aquele de quem nos aproximamos e não apenas quem vem pedir qualquer ajuda: “Na tua opinião – perguntou Jesus –, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”. Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então, Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10, 36-37).
Conhecemos o verdadeiro Bom Samaritano, o próprio Jesus, que veio percorrer as estradas do mundo, tomando a iniciativa de vir em socorro da humanidade.
Jesus, no entanto, guarda a pérola de Seu amor a ser revelada no ambiente especial da Última Ceia: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,12-13). Aqui está um ponto de chegada, nascido do Alto e que antecipa a realidade do Céu aqui na Terra! Somos feitos para esta qualidade de amor!
A transformação na vida das pessoas
Ainda que devamos amar a todos, sem distinção, cada cristão é chamado a ter um espaço de convivência, no qual possa declarar, com gestos e palavras, sua disposição para dar a vida e receber a vida doada. Nisso todos conhecerão que somos discípulos de Cristo (cf. Jo 13,35). Pode ser a família, e quem dera que nossas famílias chegassem a esse ponto! Pode ser a experiência de uma comunidade cristã viva, e para lá havemos de caminhar. Uma amizade sincera e pura proporciona essa declaração de amor. É uma potência indescritível de transformação da vida das pessoas. É necessário olhar ao nosso redor, pois existem, sim, pessoas, comunidades e grupos que oferecem esse testemunho! De nossa parte, resta corresponder aos dons de Deus (Cf. Oração do dia do VI Domingo da Páscoa).
Cada resposta e cada ato de amor a Deus e ao próximo contribuirão para que o mundo, sem deixar de ser mundo, seja mais parecido com o Céu!