A Revelação que acontece

A Revelação de Deus não é simplesmente uma idéia, uma projeção, ou um sonho. Revelação é acontecimento, algo que se realiza, de modo concreto, vivo, na história do povo judeu e cristão, na minha história. Algo que, se nos acontece, pressupõe um contexto, um lugar para acontecer.

Ora, o locus do acontecimento, o pano de fundo do evento é a “palavra”. Deus acontece por meio da Palavra. Ele falou a Abraão, a Moisés, aos Profetas e, por último, de modo definitivo, nos falou por meio de Jesus Cristo. Deus nos fala também, hoje, aos homens e à comunidade, a todos os que se reúnem para escutá-Lo e para responder com a vida ao apelo d’Ele: “Amém, é assim, assim seja!”

Neste terceiro domingo do tempo comum, novamente, Ciro II da Pérsia (Kurosh El-Khabir), por meio de seu célebre Edito que liberta os judeus da Babilônia, é o personagem que se faz implícito nas leituras. Ciro, o Grande, é o Sol (Kurosh significa SOL) que clareia a vida do povo judeu, o sol da liberdade, do respeito, do amor.

Neemias nos narra (Cf. Ne. 8,2-4a.5-6.8-10) que o escriba e sacerdote Esdras, no quinto mês do ano 458, volta para Jerusalém, a fim de reconstruir o templo e a terra, com um grupo de pobres (os anawin). Só volta da Babilônia após a alforria que acontece com Ciro, quem nada tem para deixar. Volta-se para Deus somente aquele que deixa a Revelação de sua Face acontecer em sua vida. Neemias nos conta ainda como no sétimo mês, o povo se reúne em assembléia para renovar o propósito de fidelidade à aliança com a qual Deus o selou para sempre. É em torno da Palavra que a salvação acontece. É escutando a Palavra que homens e mulheres aderem ao convite de Deus para viverem sob uma moral, a da aliança, a do pacto com Ele, a da liberdade (assim nos falou Ciro, o Messias do Deutero-Isaías através de seu Decreto), a moral dos filhos que vivem a piedade, a virtude da filiação e da religião.

Paulo, na 1 Cor 12,12-30 (segunda Leitura) vai além, completa o Edito de Ciro mostrando-nos a importância fundamental da vida na unidade. O corpo e os membros são uma só coisa. A cabeça e o corpo são uma e única coisa. Somos, todos, o Corpo de Cristo, ôntica e misticamente. O Batismo nos configurou para sempre na Nova Aliança do Corpo e do Sangue do Senhor.

Até o fim dos tempos (Cf. Lc 1,14;4,14-21) a boa nova será anunciada aos pobres, como Lucas no-lo dá a eles, como Lucas no-lo faz hoje, a nós, por meio do Evangelho deste Domingo. A palavra de Deus é a revelação, a verdade que acontece, da mesma forma que aconteceu na Babilônia a liberdade decretada por Ciro. O corpo e o sangue de Cristo acontece em nossos altares, em cada Eucaristia, para a vida do mundo. Amém, é assim; assim seja!

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