Um dos grandes dilemas dos cristãos conscientes é o de saber se devemos perdoar a quem nos faz mal e, em caso afirmativo, como o fazer.
Quem é que já não se sentiu ofendido na sua dignidade de pessoa humana, no seu bom nome, na sua reputação, na sua honra e consideração, no seu corpo e saúde ou no seu patrimônio?
Quem é que está isento de culpa de, ao proceder de uma determinada maneira, causar dano ao próximo? Esta é uma das nossas aflições: fazer o mal que não queremos e não praticar o bem que pretendemos.
A origem social e geográfica, a maneira de ser e de estar no mundo, os valores culturais e a sensibilidade de cada um são fatores diferenciadores da personalidade humana.
Por essa razão, a mensagem das nossas ações ou omissões, poderá não ser bem captada ou ser deficientemente percebida pelo receptor, derivado do código de valores ser diferente. E vice-versa. A par deste desassossego há ainda a conduta intenciona. do agressor.
As pessoas sensíveis não ficam indiferentes a uma agressão. A reação é que poderá variar.
Jesus disse: ‘Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem’ (Mt 5, 43-44). Que tipo de amor será este? Seremos mesmo obrigados a ter com os nossos inimigos uma amizade igual à que dedicamos àqueles que fazem parte do nosso círculo de amigos ou uma relação igual à que temos com os nossos entes queridos?
O sentimento que um cristão deve oferecer aos que o maltratam é o da caridade, no sentido de os respeitar como pessoas humanas, de dar-lhes a mão quando precisarem de ajuda. Fazer o bem aos que nos odeiam não é difícil se tivermos por eles uma enorme caridade.
‘A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. A caridade não se irrita, não guarda rancor, tudo desculpa e tudo suporta’. Como é linda esta passagem do hino à caridade de S. Paulo (I Cor 13, 4-8).
Saber perdoar é saber amar. O olho por olho e o dente por dente não cria harmonia e paz. Só o amor absorve e dilui o mal.
Se nos amarmos a nós próprios, com as virtudes e os defeitos que temos, compreenderemos quão infinito é o amor do Altíssimo que faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair chuva sobre justos e injustos.
Se percebermos a grandeza deste amor – dar o que temos a todos, sem esperar algo em troca – estaremos disponíveis para perdoar a falta dos outros e com esse testemunho sermos o sal da terra e a luz do mundo.
Com o tempo este sentimento será universalmente recíproco.
‘Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem’ (Mt 5, 43-44).