São João da Cruz nos ensina como vencer os desafios para estar com Deus.
Vem Regozijar-se com o Senhor. É este o convite carinhoso que hoje recebemos e que ressoando em nosso ser, destrói nossas resistências e nos anima diante da bondade infinita, a respondê-lo prontamente.
Por mais que estejamos na caminhada, revendo nossa vida, observaremos a necessidade da volta ao primeiro Amor (Ap 2,4-5), de recomeçar nesta busca de Deus que nos atrai, nos seduz, mas ‘não se dá totalmente senão a quem se dá de todo a ele’. São João da Cruz nos indica um caminho seguro para esta entrega decidida e consciente ao Senhor. Em sua Canção III do Cântico Espiritual, o santo nos diz:
Buscando meus amores,
Irei por estes montes e ribeiras;
Não colherei as flores,
Nem temerei as feras,
E passarei os fortes e fronteiras.
Comentaremos a seguir esta estrofe que creio ser de ajuda para nosso crescimento como cristãos desejosos que somos de estar sempre diante do Senhor, num regozijo
constante.
Cada um de nós terá que despertar de sua acomodação, agindo por si mesmo, esforçando-se, fazendo a sua parte, tendo vontade firme e ‘determinada determinação’, dispondo-se a encontrar, levantando-se para dizer sim ao
chamado amoroso do Senhor.
‘Buscai e achareis’ diz o Senhor (Lc 11,9) em sua linguagem de amor. Embora a luta seja intensa, temos certeza de que, guiados pelo Espírito Santo, seguindo os impulsos divinos, nos tornaremos cativos desse imenso amor.
Se desejarmos, realmente encontraremos: ‘Resplandecente é a sabedoria e sua beleza é inalterável.
Os que a amam, descobrem-na facilmente, os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam. Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada,
não terá trabalho, porque a encontrará sentada a sua porta’ (Sb 6,12-14). Será necessário ‘buscar pelas ruas e praças de nosso coração aquele a quem nossa alma ama’ (Ct 3,12). Embora a luta seja intensa, temos certeza, de que guiados pelo Espírito Santo, seguindo os impulsos divinos, nos tornaremos cativos desse imenso amor. É certo que teremos que passar por ‘montes e ribeiras’, mas estará conosco a mão amiga do Senhor com sua assistência carinhosa para nos conduzir e apoiar.
Por esses ‘montes que são altos, entende-se as virtudes, pois são elas elevadas e conquistadas com muita dificuldade e trabalho’.
Pelas ‘ribeiras que são baixas compreende-se as mortificações, penitências e exercícios espirituais, tão necessários para se adquirir as virtudes’.
Para buscar o Senhor requer um coração despojado e forte, por isso segue o doutor da Igreja dizendo ‘não colherei as flores, pois elas simbolizam todos os contentamentos e deleites’, os caramelos e gostinhos que se apresentam em nossa vida e podem impedir a passagem para uma maior intimidade com Deus.
Essas ‘flores’ poderão ser de três espécies: temporais, sensíveis e espirituais.
Como bens temporais, entendemos ‘as riquezas, funções, títulos, vantagens, status, poder, fama; também beleza, graça, qualidades como inteligência e dons do corpo
(naturais)’ (3S 18,1). Os bens sensíveis são ‘os contentamentos, deleites da carne (no domínio dos sentidos: audição, olfato, paladar, tato, imaginação)’ (3S 24,1). Já os bens espirituais seriam ‘todos os dons (bens sobrenaturais)’ (3S 30,1).
Toda consolação e gosto espiritual que se conserva como propriedade e se procura, será empecilho e quem quiser se adiantar precisa não andar a colher ‘flores’.
A mosca que pousa no mel ficando presa e impedida de voar e a borboleta ofuscada pela luz que precipita-se dentro da mesma chama que a atraiu, são exemplos que São
João da Cruz nos coloca e nos facilitam entender melhor este assunto.
Importante será deixar os ‘rebanho’ que apascentamos, as inclinações que seguimos e apegando-nos a elas, atrapalhamos nosso crescimento.
A senda é estreita e só pelo ‘nada’, pelo despojamento, teremos possibilidades, apesar de nossas imensas fraquezas, de chegar um dia ao cimo do ‘Monte’,
ao ‘Tudo’ que é Deus.
Querendo estas ‘flores’ nos comportaremos como ‘um homem faminto que abre a boca para se alimentar de vento’ e lógico continuará com fome.
No itinerário da vida espiritual nos deparamos com três inimigos que são ‘o mundo, o demônio e a carne’, mas não precisaremos ‘temer as feras’ (mundo) e passaremos
os ‘fortes’ (demônio) e ‘ fronteiras ‘ (carne).
Enfrentaremos feras bravias que nos farão ameaças a cada passo. E a fera do mundo com seus atrativos e guerras, com suas tribulações, sofrimentos e trabalhos de muitas
espécies. A cana após muitos apertos se transforma no doce açúcar; nós homens após as podas da vida, os apertos que nos esmagam, atingiremos enfim a doçura e o
amadurecimento.
O segundo inimigo que teremos que passar recebe o nome de ‘forte’ e é ‘o demônio que tem grande força’, mas será vencido com ‘oração, mortificação e humildade’.
Aqui vale uma meditação tirada de Marcos 7, 20-23: ‘Ora, o que sai do homem, isso é o que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidão, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidades, invejas, difamações, orgulhos e insensatez.
Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem’. Muitas vezes colocamos a culpa no demônio, quando é o nosso interior que carrega todas essas
maldades. Certo será colocar a descoberto a verdade da própria vida, cavando fundo nesta rocha interior (Lc 7,48) a fim de chegar a uma mudança realmente profunda.
Resta agora passar ‘as fronteiras’ da carne que em Gálatas 5,16-23 encontramos todas as explicações.
‘Um doente febril’ ensina o santo místico, ‘cuja sede aumenta a cada instante, não se sentirá bem enquanto a febre não houver passado’. Sedentos, também nos contentaremos somente quando estivermos disponíveis junto do Senhor, entregues a ele, acolhendo-o, abandonados e enamorados numa vida de fé e esperança, e renovados por sua graça.
O apelo foi feito: Vem regozijar-te com o teu Senhor!
Queremos responder com entusiasmo e alegria, ouvindo sua voz meiga e atenciosa, com nosso pequeno e frágil coração inteiramente em comunhão com o amado coração do Senhor, colocando nossos talentos ao seu serviço e com nossa alma transbordando de louvores, agradecimentos e adoração.
Que a chama de amor que é o Espírito Santo, nos invada, purificando-nos, removendo todos os obstáculos, até sermos totalmente mergulhados no Senhor e ‘dispostos à
união e transformação amorosa nele’ (Chama 1,19).
Fonte: Revista Jesus Vive e é o Senhor