Os Evangelhos relatam exclamações de louvor e admiração que a multidão usava diante das palavras e milagres de Jesus. Há uma que resume as demais: Ele fez tudo bem (Mc 2, 36). Cristo apresenta-se como modelo para a nossa vida de todos os dias: fazer bem todas as coisas, tanto as grandes como as pequenas. Há coisas que parecem sem importância; entretanto, devem ser bem feitas. A maior parte da vida humana de Jesus foi uma vida de trabalho num povoado quase desconhecido. Em Nazaré, Jesus fez tudo bem, com perfeição.
Ora, grande parte da nossa vida é tomada pelo trabalho. Daí a pergunta: por que trabalhamos? Como trabalhamos? Grande parte das pessoas trabalha para fins humanos nobres: manter a família, conseguir um futuro melhor, deixar algo para os filhos. Alguns trabalham pelo desejo de desenvolver uma habilidade particular ou para a realização pessoal. Outros trabalham para fins menos nobres: riqueza, satisfação das paixões, poder, auto-afirmação. Mas há também os que se dedicam ao trabalho para beneficiar os outros, para o bem da sociedade. Qualquer que seja o trabalho, é preciso fazê-lo bem, com competência.
Pelo trabalho a pessoa se associa à obra redentora de Cristo, que conferiu ao trabalho uma dignidade eminente, dando-nos o exemplo de trabalho perfeito e acabado. Os discípulos de Jesus estavam acostumados ao trabalho duro de pescadores: Mestre, trabalhamos a noite inteira, sem nada apanhar (Lc 5,5). São Paulo deixou-nos precioso exemplo: trabalhava com as próprias mãos, tinha uma profissão como os rabinos costumavam ter. E, embora ensine que o operário é digno de seu salário e que quem serve ao altar vive do altar, quis exercer um trabalho manual para sustentar a si e a seus companheiros. Ele usa palavras fortes: Não recebemos de graça o pão que comemos; antes, no esforço e na fadiga, trabalhamos para não sermos pesados a nenhum de vós (2 Ts 3,8).
Não trabalhava por divertimento e distração. São João Crisóstomo comenta: Um homem que expulsava demônios, que era mestre de todo o universo, a quem foram confiados os habitantes, os povos, nações e cidades e que cuidava deles com toda a solicitude esse homem trabalhava dia e noite. E nós, que não trazemos sobre nossas costas nem uma sombra de suas preocupações, que desculpa teremos?
É preciso cumprir as tarefas do trabalho com esmero e perfeição. Imitar a Jesus, que fez tudo bem. Ele nos pede um trabalho sério, que não apenas pareça bom, mas que o seja de fato. Não importa que seja manual ou intelectual, de execução ou organização. O cristão acrescenta-lhe, sem dúvida, algo novo: fá-lo por Deus, como oferenda cotidiana, de modo responsável, competente e intenso, como deve ser todo trabalho honrado.
Dom Frei Daniel Tomasella
Diocese de Marília – SP
Fonte: Jornal ‘No Meio de Nós’