Meu irmão, Padre Léo (continuação)

Depois me encontrei com o Léo em Taubaté. Ele era quase padre e eu no primeiro ano. Naquele ano, transformei o retiro de Londrina em livro: “Cantar em Espírito e Verdade”. Ele me levou pessoalmente até a Editora Loyola, em São Paulo, e me apresentou ao Pe. Galache, de saudosa memória. Já havia escrito “Tocar o Senhor”, com grande sucesso. Meu livro foi aceito. Tornei-me escritor. Hoje, tenho quase quinze livros pela Loyola, alguns na 30ª edição.

Havia composto algumas canções em minha vida. Léo sabia disso (confidência: ele nunca foi um grande cantor). Ele me disse: “Conheço um vizinho que grava discos”. Uma noite, me levou até a casa do Kater. Muita gente não o conhece, mas esse é o leigo que movimenta grande parte da reflexão da Igreja católica, no Brasil, sobre marketing. Bem. Na época, o Kater produzia de modo independente a famosa coleção “Louvemos o Senhor”. Gostou de mim. Entrei no “Louvemos o Senhor”, volume 5. Ali há música do Léo: “Foi lá no monte… no monte Sinai…”. Há músicas minhas. Não me deixaram cantar. Nem eu quis. Não achava que tinha talento para cantar. Era mais compositor. Participei da produção do “Louvemos”, volume 7. Kater ficou doente e produzi sozinho o “Louvemos o Senhor” 8 e o 9, etc. Entrei no mundo da música católica. Abri muitas portas. Gravei “Vida reluz”, Fábio de Melo, etc, etc, etc. Tudo pelo empurrãozinho inicial do Léo. Ainda não conhecia Pe. Zezinho, que nesse tempo estava nos Estados Unidos e que depois seria meu irmão e amigo, inspiração maior de todo o que quer fazer música cristã de verdade. Ele sabe bem… Veio depois. Léo chegou primeiro.

Em 1989, meu pai ficou doente. Câncer. Fiquei com ele naquelas dolorosas férias de dezembro. Voltei para Taubaté em abril de 1990. No dia seguinte, meu pai faleceu. O reitor me avisou às 5h da manhã. Arrumaram tudo, inclusive passagem aérea para eu voltar para Brusque. O Léo foi o motorista que me levou às pressas para o Aeroporto de Congonhas. Primeira viagem de avião – morri de medo. Não do avião, mas da velocidade do Léo na Dutra. Queria chegar vivo no enterro do meu pai. Mais uma vez o Léo abriu portas.

Em dezembro de 1990, tornei-me padre. Em minha primeira missa, convidei o já Padre Léo para fazer o sermão. Ele foi iluminado. Falou da crise de amor e da resposta que somente podemos encontrar no Coração de Jesus. Resultado: meu primo Nilo, de Brasília, resolveu entrar no seminário. Em dezembro de 2005, participei de sua ordenação, aqui, em Roma, como Leginário de Cristo. Até em minha família Pe. Léo mexeu.

Poderia continuar a história… dizer que minha mãe, já viúva, trabalhou no Colégio São Luiz, em Brusque, onde o Pe. Léo era diretor. Poderia lembrar que, em 1999, tornei-me diretor do Instituto Teológico SCJ, em Taubaté, e batalhava pelo credenciamento de uma faculdade pelo MEC. Pe. Léo era responsável por uma faculdade de Marketing, da congregação, em Curitiba. Estudara muito. Um dia, fui lhe fazer uma visita e ele me deu o caminho das pedras. Hoje, sou avaliador do MEC para cursos de Teologia e dedico boa parte do meu tempo a essa atividade. Pe. Léo abriu-me muitas portas.

E como não lembrar dos programas de TV na Associação do Senhor Jesus. Léo me apresentou ao Pe. Eduardo e ao Padre Jonas. Foi o Léo. Você deve estar quase assustado, mas é isso que faz a força da fraternidade, da solidariedade que nos une na “comunhão dos santos”. O Léo é um grande irmão.

Carisma é carisma. É Deus quem os dá. Pe. Léo teve o carisma de abrir as portas, para mim, dezenas de vezes. Não canso de abrir a minha boca em prece e pedir a graça de Deus em sua vida por meio da cura, seja ela qual for. Falando nisso, começo a lembrar o Pe. Léo lá embaixo no Morumbi, pregando junto com a saudosa Tia Laura… Tantas curas! E eu lá em cima, no meio do povo. Tantas histórias… Obrigado, Deus. Aquele cabeludo esquisito viveu uma linda história de santidade. Eu o louvo, Senhor, pela presença do Pe. Léo na minha vida!

Estou em Roma, fazendo um segundo doutorado. Recebi a visita dele [Padre Léo] no final de 2005. Dei a ele meu livro “Teologia da Solidariedade”. Ele o levou para Israel. Algum tempo depois me escreveu uma bela mensagem que guardo com carinho. Naquela síntese entre Teologia da Libertação e RCC está a própria identidade do Padre Léo. Enquanto muitos se preocupam com uma retórica da libertação, ele põe a mão na massa e reza em línguas. A moral, afinal, está na coerência de vida. Achei o Léo magro. Ele desconversou. Já era o sinal. Ele não quis parar.

Deus deu um basta. Mas o achei também meio santo demais… Diferente. Em nossa vida espiritual, somos chamados a passar de nível. A meta é o sétimo céu. Percebi que o Léo havia subido um “lance da escada”. Doença faz crescer. Purifica. Eu o louvo, Senhor, pela possibilidade de o Léo crescer na dor. Mas escute meu pedido: CURA-O!

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