Um dia terminou. Um dia que nunca mais se repetirá em sua vida. Dia diferente de todos os outros, por mais semelhança que possa ter com o dia de ontem ou com aquele que o aguarda amanhã.
É possível que o cansaço, o desânimo e as preocupações não lhe possibilitem uma parada para reflexão, para um exame do que representou para você o dia que terminou. E isso seria lamentável, pois você perderia uma bela oportunidade de ver cada acontecimento com mais objetividade. Suas alegrias apareceriam mais puras, seus sofrimentos não seriam fatos isolados: você perceberia quanto eles o amadureceram e a transformação que operaram em sua maneira de encarar a vida. A recordação das pessoas que conheceu e das amizades que aprofundou tirariam qualquer possibilidade de pessimismo. Diante dessas realidades, você teria um olhar bem mais benigno sobre o dia que termina.
Em plano local, nacional ou internacional, além de desentendimentos, das carestias e das guerras, veria o quanto a humanidade caminhou, progrediu e se enriqueceu com novas descobertas e invenções. Você sentiria, também, é verdade, que muito progresso nem sempre foi feito levando em conta a pessoa humana. Seria até ingênuo negar que, em muitos setores, o homem ficou até mais pobre, uma vez que se tornou mais escravo da técnica, do prazer pelo prazer e da matéria. Mas, e os atos de bondade que a imprensa não registrou, os inúmeros gestos de dedicação, feitos em benefício dos pobres, e os livros que foram escritos, reacendendo a esperança no coração de muitos?
Contudo, por mais completa que fosse sua reflexão, você não conseguiria ser suficientemente objetivo e justo em sua análise. Ah! Se você pudesse subir muito alto, acima de sua cidade, acima do mundo, acima do tempo, para purificar seu olhar e ver tudo com os olhos do Senhor!… Aí, sim, veria o dia que termina como o Pai o vê. Teria a exata dimensão do que ele representou em sua vida e na caminhada da humanidade.
Veria que, em meio a tanto ódio, em meio a tanta desgraça e a tanto pecado, a humanidade, faminta, esteve sempre à procura de Amor. Mas de um Amor eterno, capaz de saciar sua fome e seu vazio. Veria que nessa corrida desenfreada atrás de coloridas bolhas de sabão, que desapareciam quando os homens as tocavam, havia sempre a procura de Alguém.
Veria que se desenrolou no mundo uma caminhada em direção ao Pai, único em condições de lhe dar a paz para a qual você foi criado. E, diante de tudo isso, você se sentiria numa dupla obrigação: de agradecimento e de perdão. Agradecimento porque o Pai, mais uma vez, caminhou a seu lado, animando-o e atraindo-o para si. Ele sempre deu a você a oportunidade de tirar uma lição de seus próprios erros, transformando-os em trampolim para um saldo maior em sua direção.
Você se sentiria também no dever de lhe pedir perdão. E não só por seu egoísmo que se manifestou de maneira mais ou menos profunda em tantas oportunidades mas, sobretudo, porque você não soube ler em sua vida, na vida dos homens e nos acontecimentos, os sinais que ele deixou para que você pudesse encontrá-lo a cada hora e sempre.