Pergunte, numa roda de amigos, o que cada um entende por fé. Talvez você ficará surpreso com as respostas. Para alguns, fé é a certeza de que se vai conseguir atingir determinado objetivo: Eu tenho fé que chegarei lá!. Para outros, fé é acreditar em Deus, em sua existência. Você poderá objetar: Ora, também os demônios acreditam que Deus existe. Teriam eles fé?… Há, enfim, os que têm uma correta noção: Fé, dirão esses, é acreditar no amor de Deus por mim. Ele me ama e vem ao meu encontro, para me salvar.
No campo da fé, a iniciativa é sempre de Deus: Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho único, assegurou Jesus a Nicodemos. E continuou: para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3,16). O mesmo apóstolo e evangelista João, que nos transmitiu esse extraordinário diálogo, escreverá mais tarde: Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados (1Jo 4,10).
Fé, pois, é acreditar que Deus me procura porque me ama; me envolve com seu amor; interessa-se por mim. Fomos escolhidos por Deus antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos, para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, enfim, para fazer resplandecer sua maravilhosa graça (Ef 3,4-6).
O que fizemos para merecer isso? Nada! Absolutamente nada! Mas, por que Deus nos amou e ama? O amor não tem explicações; é gratuito. Nada fizemos ou fazemos para merecê-lo.
Uma rica experiência de fé foi vivida pela Samaritana, segundo o relato que encontramos no Evangelho de São João (cap. 4). Jesus foi a seu encontro diria até que preparou esse encontro; a esperou pacientemente. Procurou a Samaritana não para julgá-la, mas para lhe manifestar seu amor. A fim de quebrar as primeiras barreiras afinal, judeus não davam importância a samaritanos e, menos ainda, a samaritanas pediu-lhe: Dá-me de beber! Ora, quem pede alguma coisa, se coloca numa posição de inferioridade diante do outro. Começou um diálogo entre ambos. Delicadamente, Jesus lhe mostrou a ignorância que ela tinha das coisas de Deus: Se conhecêsseis o dom de Deus! A Samaritana não só descobriu, então, quem era Jesus, mas tornou-se missionária: entrou em sua cidade e convenceu seu povo a ir escutá-lo. Afinal, não seria ele, porventura, o Cristo? Jesus tocou o coração dos samaritanos com sua proposta. Aquela senhora, de quem nem sabemos o nome, desapareceu de cena. Mas sua missão foi realizada: ela possibilitou que outros se encontrassem com o Mestre.
Conhecemos uma árvore por seus frutos; conhecemos a fé pelas atitudes que gera: a confiança (o medo não é cristão), que funda-se na certeza de que Cristo está a nosso lado (Eis que estarei convosco todos os dias…- Mt 28,20); a entrega (Vinde a mim, vós que estais aflitos e sobrecarregados, disse Jesus Mt 11,28); a alegria estável, em qualquer situação (A paz esteja convosco… Por que estais perturbados?… Lc 24,36.38); o desejo de entrar em comunhão com ele, já que é o Filho de Deus, o irmão, o amigo de todas as horas; a preocupação pelos que não têm fé: também eles têm direito de conhecer Jesus, etc.
Maria Santíssima nos dá um belo exemplo de fé: acreditou no que lhe parecia impossível ser a Mãe do Filho de Deus; foi ao encontro dos necessitados (de Isabel, dos que estavam presentes no casamento de Caná), antecipando o escreveria Tiago: A fé sem obras é estéril (Tg 2,20); e louvou o Senhor pelas iniciativas que tomara nela própria: O Senhor fez em mim maravilhas… santo é o seu nome (Lc 1,49). E, diante de situações que a vontade de Deus lhe colocava, e para as quais não tinha uma resposta imediata, guardava tudo em seu coração. Sabia que seu Deus jamais a decepcionaria.