Brasil: Terra de Santas e Santos

Para a Igreja do Brasil este domingo vai ficar na história. Pela primeira vez uma brasileira é canonizada. E’ Madre Paulina, que de agora em diante será chamada de Santa Paulina. Finalmente, o Brasil tem uma santa, que figura entre os santos oficialmente reconhecidos pela Igreja Católica.

Olhando rapidamente sua história, não é difícil concordar que ela merece a honra dos altares. Nascida na Itália, em 1865, perto de Trento, ainda criança veio para o Brasil, onde sua família se estabeleceu em Santa Catarina, na localidade que hoje se chama de Nova Trento. Até os nomes indicam que os imigrantes, mudando de lugar, não quiseram mudar os valores referenciais que guiavam suas vidas. Mas a jovem Amábilie Lúcia Visintainer, assim era seu nome, muito cedo demonstrou que ela assumia pessoalmente esses valores, fazendo deles um projeto de vida devotada inteiramente ao serviço fraterno. Com uma companheira, foi se dedicando aos cuidados dos doentes, à catequese das crianças e aos serviços comunitários. Em pouco tempo, eram muitas as jovens que iam aderindo a este projeto. Estava nascendo uma congregação religiosa, que rapidamente se espalhou pelo Brasil. Hoje, já são mais de 600 Irmãs, presentes em 11 países. Já bastariam estes números para reconhecer que Deus estava com a Madre Paulina, e que ele abençoou o seu projeto. Mas não são os números que impressionam a Igreja. Ela olha o exemplo de vida. Madre Paulina ficou pouco tempo na coordenação da congregação. Deixou o cargo para outras, e com muito amor consumiu seus anos no humilde serviço aos pobres e doentes, até morrer em 1942.

Olhando a trajetória de Santa Paulina, podemos reconhecer que milhares de outras pessoas no Brasil também viveram como ela, e com certeza se encontram junto de Deus, como santos e santas do Brasil. Também entre nós podemos dizer, como S. Paulo, que “a graça de Deus não foi em vão”. Por isto, a canonização de Madre Paulina, a primeira pessoa que viveu no Brasil a ser declarada santa, tem o significado mais amplo, de um reconhecimento tardio da Igreja de que também no Brasil temos exemplos a recolher, de santos e santas que viveram entre nós, e cuja memória não deve ser perdida.

Com certeza, daqui para a frente vão se acelerar os numerosos processos em andamento, e em breve teremos a canonização de outros santos brasileiros. Pois na verdade, o fato de terem se passado quinhentos anos sem nenhuma canonização, coloca, evidentemente, a necessidade de uma revisão de procedimentos e uma mudança de mentalidade. Precisamos estar mais atentos para guardar os bons exemplos que são deixados.

Como se deve cuidar bem de uma herança, mais ainda se deve zelar pela memória dos que nos deixam seu testemunho de caridade. Cabe a cada comunidade guardar esta memória. Esta a dinâmica que precisa ser recuperada na Igreja. E’ o exemplo dos santos que dá consistência à nossa tradição religiosa e firmeza à nossa fidelidade. Como Santa Paulina, os santos mostram que na simplicidade de nosso cotidiano, podemos ser animados e sustentados pela graça de Deus. Só isto.
Canonizar santos é proclamar a primazia da graça de Deus em nossas vidas. Esta a causa que está em jogo.

Logo no início, houve uma canonização, talvez apressada, batizando nosso país de “Terra de Santa Cruz”. Depois, demorou demais para reconhecer que esta terra, “em que se plantando, tudo dá”, dá também santos e santas. Quem sabe agora Santa Paulina rompa as resistências, e abra a grande procissão dos santos e santas que honram a história de nosso povo e velam por sua fidelidade cristã.

Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo da Diocese de Jales – SP
E-mail: domdemetrio@melfinet.com.br