A fome de Deus

Há católicos que fracos na sua adesão a Cristo, buscam alhures o que se encontra bem próximo deles. Neste caso estão alguns métodos e técnicas de meditação, fruto de crenças orientais No mundo moderno, do seu contexto cultural, e de crenças tão em voga, especialmente vivas antes e nos primeiros séculos após a vinda de Cristo, emergem novas formas de gnosticismo.

Esses conhecimento derivam do próprio homem e não da graça do Senhor. Facilmente influenciam pessoas que não conhecem suficientemente os ensinamentos de Jesus e nem a eles são fiéis. A vivência de sua fé, em vez de ser transcendental, é mais individual e mágica. E quando se trata de elementos da revelação divina, são levadas por um fundamentalismo bíblico.

Há um forte retorno ao sagrado, mas de modo difuso, sem clara percepção da realidade divina que ao próprio homem infinitamente supera.Para estes indivíduos, são irrelevantes ‘Jesus histórico’ e o significado redentor da morte na cruz.

O verdadeiro valor da Ressurreição é alterado, como se esta fosse um simples despertar da alma adormecida. A interpretação da Sagrada Escritura foge de uma visão objetiva para aceitar certas correntes de pensamento em voga.

Os novos mandamentos gnósticos, frutos da antiga Gnose, revela uma volta a estes conceitos. Distanciam-se da doutrina de Jesus e encaminham para algo meramente particular, uma pretensa iluminação. O mesmo ocorre com as religiões tradicionais, que propagam um relativismo doutrinal e moral. Bem se pode avaliar o atrativo que exercem pela liberdade de escolha dos que aceitam ou rejeitam.

E a confusão que geram, pois escolhem e divulgam aspectos e práticas que aparentam identificar-se com a fé seguida por tantos adeptos.O fundamentalismo bíblico é, em geral, hostil à tradição da Igreja que afirma o valor da razão e do estudo sistemático. A Constituição Dogmática ‘Dei Verbum’ nos fala da importância da pesquisa e do censo crítico. Diz o Concílio Vaticano II: ‘para entender devidamente aquilo que o autor Sacro quis afirmar por escrito, é necessário levar na devida conta, sejam aquelas usuais maneiras nativas de sentir, de dizer e de narrar que eram vigentes nos tempos do Hagiógrafo, sejam as que em tal época se acostumavam empregar nas relações dos homens entre si’ (no 12).

Vê se, nessa citação, a importância de um espírito perspicaz para se entender, com clareza, o que desejou ensinar-nos o Autor sagrado.Diante desses movimentos mais ou menos relacionados com a gnose, nossa atitude é apresentar a verdadeira revelação em sua integridade, principalmente quando se trata de seitas que tem suas raízes no Cristianismo.Dada a tendência de alguns em adaptar concepções hinduístas de oração, a Sagrada Congregação para Doutrina da Fé publicou, em 15 de outubro de 1989, a ‘carta aos bispos da Igreja católica acerca de alguns aspectos da meditação Cristã’. Adverte para o perigo de sincretismo que poderá resultar da introdução do panteísmo hinduísta no monoteísmo da revelação.

O Documento, com a expressão ‘Métodos Orientais’, entende os que são inspirados no hinduísmo e no budismo, com o ‘zen’, a ‘meditação transcendental’ e a ‘Ioga’.

O método para ser aceito, deve enquadrar-se na verdade judáico-cristã. Devemos examinar se a técnica da oração é fruto da mística oriental ou da verdade Católica. Para distinguir o certo do errado, orienta-nos de maneira clara: ‘a oração cristã é sempre ao mesmo tempo autenticamente pessoal e comunitária.

Por esta razão, recusa a técnica impessoais ou centradas sobre o eu, as quais tendem a produzir automatismo’ (No.3).Em nossos dias, a difusão de métodos orientais de oração tem penetrado mesmo em comunidades cristãs, o que não está isento de ‘riscos e erros, de fundir a meditação cristã com a não-cristã’ (no.12).

A fome de Deus é uma graça que nos leva a aprofundar ou a retornar à prática religiosa. Contudo, o alimento para saciar o faminto deve ser são, caso contrário, em vez de produzir vida, conduz à morte.O Papa João Paulo II, falando a um grupo de bispos argentinos a 7 de fevereiro de 1995, alerta-nos, muito oportunamente, para este perigo que paira também entre nós.

Diz ele: ‘deve-se ter presente que não faltam desvios que deram origem a seitas e movimentos gnósticos ou pseudo-religiosos, configurando uma moda cultural de vasto alcanço que, por vezes, encontra eco em amplos setores da sociedade, chegando a ter influência em ambientes católicos. Por isso, alguns deles numa perspectiva sincretista, almagramam elementos bíblicos e cristãos com outros, extraídos de filosofias e religiões orientais, da magia e de técnicas psicológicas.

Esta expressão das seitas e de novos grupos religiosos que atraem muitos fiéis e semeiam confusão e incerteza entre os católicos é motivo de inquietude pastoral (…) Além de pensar na influência negativa destes grupos religiosos fundamentalistas, dever-se-ia preocupar em ver como se pode deter as causa, que impelem muitos fiéis a acompanhar a Igreja’.

Ela ensina que pode haver em todo e cada cristão uma visão progressiva no patrimônio espiritual. No entanto, jamais poderá ser independente da fé da mesma Igreja, baseada no fato irrepetível da história de Jesus Cristo: sua vida, morte e ressurreição.Alguns são influenciados por estas práticas orientais.

E aumenta o perigo quando se alia a elementos cristãos. Favorecem a adesão por parte de católicos, cuja observância da Doutrina é frágil ou se fundamenta apenas na sensibilidade. Esse risco é real e dele nos devemos precaver.

Na vida espiritual escolhemos não o que é do nosso agrado, mas o que está de acordo com o ensinamento de Cristo, que nos é autenticamente transmitido.

Somente assim cresceremos em Deus.