Convenhamos que tudo isso é difícil de ser compreendido e nos deixa realmente confusos. Mais difícil ainda é admitir a possibilidade de se criar vida artificial, com a capacidade de auto-sustentação e reprodução. Sempre ouvimos dizer que só Deus é o Criador de tudo. Será que agora precisamos admitir que o homem também seria capaz de criar algo a partir do nada?
Não é bem assim. Em primeiro lugar porque estamos ainda tratando de bactérias, organismos muito simples; e no caso em questão estamos falando de uma bactéria chamada mycoplasma genitalium, cujo genoma foi mapeado, estudado e desmontado, para ser recomposto com outras propriedades. Fazendo uma comparação com o mundo da informática se poderia dizer que foi preparado um software (programa) para uma bactéria cumprir uma tarefa específica, mas até aqui ainda não se sabe como ativar este programa. E como observa o professor de engenharia biomédica de Boston Jim Collins, a ciência ainda está longe de entender o que é a vida e o que a comanda.
De qualquer forma, decisivamente nos encontramos hoje numa situação na qual a tecnologia avança a passos largos, bem mais depressa do que as reflexões de cunho jurídico e ético. Ademais, ao mesmo tempo em que olhamos com esperança para o que se denomina medicina molecular e biologia ambiental, capazes de apagar os efeitos desastrosos de pecados anteriores, uma vez mais, e sempre de novo, nos sentimos perplexos. Isso não só porque estas novas criaturas podem enlouquecer, mas porque podem ser programadas para enlouquecerem e passarem a agir perversamente.
Como tantos outros inventos anteriores, todas as descobertas vêm carregadas de uma ambivalência radical: tanto podem ser colocadas a serviço da vida, quanto a serviço da morte. Com uma diferença em relação ao passado: fica cada vez mais claro que as clássicas armas representadas por fuzis, metralhadoras, canhões e tanques só servirão para produzir filmes de terror e para ser guardadas em museus. As verdadeiras armas serão invisíveis e bem mais mortíferas. E as infundadas acusações contra Sadam Hussein, de que possuiria terríveis armas biológicas e bacteriológicas irão se transformar em verdades comprovadas: não no pobre e destruído Iraque, mas em milhares de laboratórios espalhados pelo mundo afora, sempre à espera de receber uma única ordem referente à direção para a qual serão encaminhadas. Ninguém vê, ninguém sente, ninguém sente nenhum odor: simplesmente todos morrem sem causas aparentes.