🤔 Reflexão

O cultivo da fé através do aprofundamento intelectual

A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, “o homem livremente se entrega todo a Deus”1. Já o intelecto (ou inteligência) é a “faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar.”2.

fé: Pessoa segurando um crucifixo dourado sobre uma Bíblia, em momento de oração ao pôr do sol.

Créditos: by Getty Images /Tinnakorn Jorruang/cancaonova.com

Conforme diz São Josemaria Escrivá: “Para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração”3. Ora se é o estudo uma oração, não é pela oração que aumentamos a nossa fé?4

Em um tempo “marcado pelo desprezo à razão, ao raciocínio segundo a lógica, que é a capacidade doada à mente humana pelo poder criador de Deus”5, é natural que tenhamos certa dificuldade em entender que o aprofundamento intelectual nos ajuda a cultivar a nossa fé. Mas não nos esqueçamos o que nos fala São João Paulo II  na encíclica Fides et Ratio (14 de setembro de 1998):

“A fé e a razão são como duas asas com as quais o espírito humano sobe para o descobrimento da verdade; e Deus colocou no coração humano um desejo de conhecer a verdade — em suma, de conhecer-se a si mesmo — para que, conhecendo e amando Deus, homens e mulheres cheguem também à plenitude da verdade sobre si mesmos.”

Quando a razão fortalece a fé cristã

Ora, é pela razão que o homem percebe que a vida não tem um fim em si mesmo, que, sendo finita, nela não encontrará todas as respostas que o seu coração anseia. Mas para uma compreensão profunda de Deus foi necessário a Revelação, pois mesmo Aristóteles com toda a sua sabedoria chega a tocar na questão do Primeiro Motor Imóvel, mas para por ai.

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Ao se revelar para nós, o Senhor se permite ser tocado, cura aqueles que acha necessário e passa três anos ensinando aos seus escolhidos tudo sobre o Reino dos Céus. sobre a salvação e sobre como na vida ordinária preparar a ida para a vida extraordinária, para o céu.

Jesus come, bebe, dorme, ri, chora e reza ensinando exatamente como devemos proceder, mas Ele também ajuda os apóstolos a entender a Lei, a aprofundar nas parábolas a compreender os ensinamentos que ele traz. A doutrina é ensinada por nosso Senhor Jesus Cristo, e isso já seria motivo suficiente para levarmos mais a sério a nossa vida intelectual. Mediante a reflexão das verdades da fé, vamos vendo aquilo que a nossa ignorância nos impede de ver, as escamas caem de nossos olhos.

“O meu povo perece por falta de conhecimento” – Oséias 4,6

Meu irmão, será que você ainda não passou pela experiência de refletir sobre a paixão de Cristo e poder sentir o amor tão profundo que Jesus e Nossa Senhora tem por nós? Será que ao contemplar as chagas do Cristo dilacerado pelos chicotes, pelas agressões não pode refletir o quanto este Deus-Homem nos amou analisando friamente como foi dolorido os cravos rasgando seus nervos? O peso do seu corpo lhe asfixiando na cruz?

Faça isso, reflita e você estará tocando concretamente em como a razão pode aumentar a sua fé. 

Faça essa experiência, agora, diante deste poema do grande Santo Agostinho:

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!

Tarde demais eu te amei!

Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!

Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.

Estavas comigo, mas eu não estava contigo.

Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.

Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.

Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira.

Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti.

Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz…

Chamados à santidade pela Providência

Entender que, por mais cedo que você pertencesse à Igreja, que por mais cedo que você tenha decidido responder ao amor de Cristo, foi tarde diante de tanto amor.

Entender que quando você mergulhava e ainda mergulha nas aprovações que o mundo fornece existe um Deus que te deseja e morreu por Ti.

Entender que este mesmo Deus com a sua Providência o chama o tempo todo a te conduzir para uma vida de Santidade e você com sua mente parca apenas murmura.

Ele sempre está conosco, Ele sempre está diante de nós, Ele sempre tem os pensamentos muito superiores a nós, e cabe a nós, diante disso, criar uma disciplina de estar sentado no ombro de gigantes como Santo Afonso, São Tomás, São Josemaria Escrivá, Santo Agostinho, Santa Teresa D’ávila, Santa Teresinha do Menino Jesus e iluminados pela fé e pelos dons do Espírito Santo usar da nossa inteligência para aumentar mais e mais a nossa fé.

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova

 

Glossário

Virtude teologal – São as virtudes que adaptam as faculdades do  homem para que possa participar da natureza divina. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna.6.
Virtude – Segundo o aristotelismo, qualidade positiva que se adquire como decorrência do hábito; virtude ética, virtude moral.7.
Faculdade – Capacidade de executar uma ação física ou mental.8.

 1CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina. 18 nov. 1965. In: DOCUMENTOS do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. nº 5.
2Michaelis. (s.d.). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos. Recuperado em 16 setembro 2025, de https://michaelis.uol.com.br/
3
ESCRIVÁ, Josemaría. Caminho. 16. ed. São Paulo: Quadrante, 2002. p. 335 (capítulo “Estudo”).
4
 IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1997. §162.
5
 SERTILLANGES, A.-D. A vida intelectual. Prefácio de Dom Athanasius. São Paulo: Centro Dom Bosco, [s.d.].
6
 IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1997. §1812-1813.
7
Michaelis. (s.d.). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos. Recuperado em 16 setembro 2025, de https://michaelis.uol.com.br/
8
Michaelis. (s.d.). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos. Recuperado em 16 setembro 2025, de https://michaelis.uol.com.br/