Saúde

Bipolaridade e suicídio: entendendo os riscos e a importância do apoio

O tema de hoje é um assunto delicado: a bipolaridade e sua relação com o suicídio. Este transtorno apresenta um dos maiores índices de risco de morte autoinfligida. Na depressão unipolar grave, a taxa de suicídio é de 20%. Já na bipolaridade, esse número salta para 40% a 50%. No Brasil, 4,2 milhões de pessoas sofrem com o transtorno, incluindo um número significativo de jovens.

Desvendando a bipolaridade: sintomas, diagnóstico e a busca por bem-estar

Para compreender a seriedade da bipolaridade, é crucial desfazer preconceitos e evitar generalizações. Comentários como “essa pessoa irritada é bipolar” são inapropriados e estigmatizantes. O indivíduo pode, de fato, ter o transtorno e necessitar de apoio, mas também pode estar enfrentando outras dificuldades.

Identificando os sintomas da bipolaridade

Oscilações de humor intensas

Como identificar os sintomas? Primeiramente, é importante ressaltar que a bipolaridade tem origem hereditária, transmitindo-se através das gerações. A oscilação de humor é um sintoma característico, mas não se limita à irritabilidade passageira. Durante a fase maníaca, o cérebro entra em estado de hiperativação, resultando em insônia, fala acelerada e fluxo incessante de pensamentos. A pessoa pode oscilar entre euforia e apatia profunda em questão de dias.

Compulsões e impulsividade

Compulsões também são comuns. Não se trata de meros gastos impulsivos, mas de um descontrole financeiro que pode levar à ruína. O alcoolismo, jogos, pornografia e drogas são algumas das compulsões que podem se manifestar. A hipersexualidade, muitas vezes negligenciada, também pode ser um sintoma, levando a comportamentos promíscuos.

Starry Night
Crédito: Pintura de Vincent Van Gogh/ Domínio Público

O diagnóstico e a importância do histórico familiar

Nem todos os indivíduos com bipolaridade apresentam todos os sintomas. O diagnóstico, por vezes, é complexo. Há casos em que pacientes diagnosticados com depressão respondem melhor a estabilizadores de humor, medicamentos comumente utilizados no tratamento da bipolaridade. Isso evidencia a importância de uma anamnese completa, incluindo histórico familiar, para um diagnóstico preciso.

Casos clínicos: a complexidade do diagnóstico

Compartilho o caso de uma paciente com depressão severa, sem resposta a antidepressivos. Após iniciar terapia e obter melhora em seus pensamentos, seu corpo permanecia apático. Encaminhada a um psiquiatra, a medicação foi ajustada, incluindo estabilizadores de humor, e em uma semana ela apresentou melhora significativa. Após questionar o psiquiatra sobre a ausência de episódios maníacos, ele explicou que algumas pessoas com depressão respondem bem a esse tipo de medicação, reforçando a complexidade do diagnóstico. Em outro caso, durante uma anamnese, o psiquiatra investigou o histórico familiar de uma paciente, identificando tentativas de suicídio entre seus parentes. A paciente mencionou que seu irmão havia apresentado um comportamento “estranho” por alguns dias, o que poderia ter sido um episódio maníaco não diagnosticado. Com o tratamento adequado, ela também apresentou melhora rápida.

O risco de suicídio na bipolaridade: atenção e prevenção

O risco de suicídio é um tema complexo e merece atenção. Pensamentos suicidas podem surgir em momentos de desespero, mas a persistência desses pensamentos, a idealização de métodos e datas para o ato, indicam um risco elevado. Nesses casos, o encaminhamento para internação e o acompanhamento psiquiátrico são essenciais. Eticamente, profissionais de saúde devem quebrar o sigilo em situações de risco iminente. Familiares e amigos também devem buscar ajuda profissional se a pessoa expressar ideações suicidas. Redes de apoio, incluindo profissionais de saúde mental, familiares, amigos e apoio espiritual, são fundamentais. Ninguém, sozinho, é capaz de evitar um suicídio. Grave isso: o risco é real e requer intervenção profissional.

Voltando à bipolaridade, o maior risco de suicídio não ocorre durante a fase depressiva, mas sim durante a melhora. A oscilação de humor e a alteração da química cerebral podem gerar impulsos de morte. Compartilho o caso de uma paciente atendida na África, com risco de suicídio. Diante da dificuldade de acesso a tratamento adequado, ela foi transferida para o Canadá. Durante o processo de avaliação, que no Canadá envolve uma etapa prévia com clínico geral, a paciente apresentou melhora e relatou estar se sentindo útil e participativa. Alertei a equipe sobre o risco iminente de suicídio nessa fase. No dia seguinte, a paciente tentou se jogar de uma ponte, mas foi impedida pela polícia.

O perigo da melhora aparente

Casos Clínicos: O risco na fase de melhora

Outro caso marcante foi o de uma jovem, filha de uma amiga, que demonstrava alegria e entusiasmo. Após um dia aparentemente normal, ela se jogou do 10º andar. Sua carta de despedida, com três páginas, evidenciava a alteração em sua escrita, indicando a instabilidade emocional que culminou no ato.

A esperança no tratamento

Por fim, apresento informações recentes sobre o lítio, considerado a principal droga para reduzir o risco de suicídio. Estudos indicam que o lítio reduz em 64% os pensamentos suicidas em pacientes com depressão unipolar grave e em 87% em pacientes com bipolaridade. O lítio, comumente usado no tratamento da depressão bipolar, tem demonstrado eficácia também em outros tipos de depressão. Essa informação é crucial, e reforça a importância de consultar um psiquiatra, o especialista para o diagnóstico e tratamento adequados.

 

ADRIANA POTEXKI, nascida em Curitiba (PR), filha de pais cristãos e família com várias vocações religiosas, sempre vinculada a pastorais na igreja e, desde jovem, membro do Movimento dos Focolares. Mãe do Lucas Miguel, adolescente de 14 anos que adora aventura e é DJ católico. Com formação em Psicologia, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é terapeuta certificada pelo EMDR Institute e Brainspotting. Participou de diversos programas de TV e rádio, inclusive como apresentadora do programa “Psicologia e Arte” e “Psicologia e Espiritualidade”. Autora do livro “Cura dos Sentimentos – em mim e no mundo”, (Editora Paulinas), “A cura dos Sentimentos nos Pequeninos – Papai e Mamãe brigaram” e “Vencendo os traumas que nos prendem – descubra os primeiros passos para recomeçar” (Editora Canção Nova). É palestrante internacional, psicóloga clínica e colunista do Formação Canção Nova.

Transcrito e adaptado por Jonatas Passos


Adriana Katia Potexki

ADRIANA POTEXKI, nascida em Curitiba (PR), filha de pais cristãos e família com várias vocações religiosas, sempre vinculada a pastorais na igreja e desde jovem membro do Movimento dos Focolares. Mãe do Lucas Miguel, adolescente de 14 anos que adora aventura e é DJ católico.
Com formação em Psicologia, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é terapeuta certificada pelo EMDR Institute e Brainspotting. Participou de diversos programas de TV e rádio, inclusive como apresentadora do programa “Psicologia e Arte” e “Psicologia e Espiritualidade”.
Autora do livro “Cura dos Sentimentos – em mim e no mundo”, (Editora Paulinas), “A cura dos Sentimentos nos Pequeninos – Papai e Mamãe brigaram” e “Vencendo os traumas que nos prendem – descubra os primeiros passos para recomeçar” (Editora Canção Nova)
É palestrante internacional, psicóloga clínica e colunista do Formação Canção Nova.