Criando um refúgio de fé em meio ao paganismo
Vivemos em uma época de intensa pluralidade cultural, onde as influências do paganismo buscam se infiltrar em nossa sociedade e, consequentemente, nas nossas famílias. Mas como identificar essas interferências que têm assumido “um tom bem mais débil que permitiu a esta forma cultural invadir a vida quotidiana das pessoas e de desenvolver uma mentalidade em que Deus está verdadeiramente ausente, em tudo ou em parte, e a sua própria existência depende da consciência humana”? E de que maneira fortalecer nosso lar com a luz de Cristo? Uma fé fortalecida não se abala diante das influências do paganismo.
Desafios da fé na cultura atual
Esse tema tem inquietado pessoas que desejam trilhar o seguimento de Jesus. Muitos católicos podem se sentir desorientados frente aos avanços de influências em música, roupa, pensamento, extremismo e intolerância para com valores cristãos. Por isso compete aos cristãos apontar claramente “estes modelos antropológicos incompatíveis com a natureza e a dignidade do homem”.
Evangelização e diálogo na sociedade contemporânea
O fortalecimento da nossa família e a evangelização não podem prescindir da cultura atual. “Esta deve ser conhecida, avaliada e, em certo sentido, assumida pela Igreja, com uma linguagem compreendida por nossos contemporâneos. Somente assim a fé cristã poderá aparecer como realidade pertinente e significativa de salvação”.
Para termos clareza, é preciso compreender como o paganismo atua hoje. Por que coloca em risco nossa família? Como cultivar o diálogo? De que maneira nossa fé deve gerar modelos culturais alternativos para a sociedade atual? E qual o papel dos cristãos em seu campo de atuação como cultura, política, opinião pública, arte, ciência?
O paganismo e seus riscos
Como católicos, é nosso dever proteger e fortalecer nossa fé, permanecendo vigilantes contra essas influências. O paganismo tem origem na palavra em latim paganus, que significa “habitante do campo” em referência aos povos que não tinham recebido o anúncio do Evangelho ou o rejeitavam. “Um neopaganismo envia mensagens que induzem a fugir da realidade para se refugiar nos mitos, nos ídolos que podem, só momentaneamente, consolar a existência. Por outro lado, é também largamente sentida uma exigência de espiritualidade. Assiste-se, ainda, ao avançar de tendências gnósticas que levam a procurar o sentido da história junto de uns tantos privilegiados que o conheceriam por suposta revelação.”
O impacto do cristianismo e o surgimento do neopaganismo
A cultura trazida pelo cristianismo passou a impactar positivamente a sociedade: “Eles casam e têm filhos da mesma forma como outras pessoas, mas eles não matam os bebês indesejados”, afirma a Carta enviada a Diogneto, uma joia preciosa literárias do cristianismo primitivo. O caminho fundado por Jesus Cristo começou a se espalhar fortemente pelo Império Romano. Seus seguidores chamavam a atenção do mundo por sua resiliência e amor a Deus e ao próximo.
Atualmente, vemos o surgimento de um neopaganismo. E um aspecto que coloca nossa sociedade em estado de alerta é a existência de grupos que promovem intolerância em relação a outras crenças ou marginalização de certos indivíduos, especialmente contra religiões monoteístas. Aspectos como rituais ocultos, exploração de símbolos e magias também preocupam. “Num ambiente de secularismo cada vez mais extenso, que tem a forma de um neopaganismo, não só se torna difícil acreditar e aderir pessoalmente às verdades sintetizadas no símbolo da fé ou ensinadas pela Igreja, como também é difícil transferi-las para o âmbito da vida. A Nova Evangelização, na realidade, parte dessa ruptura em que está frequentemente ausente uma espontânea e serena integração entre a fé e a vida como, pelo contrário, acontece normalmente, onde tudo é penetrado por uma cultura cristã definida”.
Fortalecendo a fé em família
Justamente por essas preocupações, cabe às famílias aprofundar o conhecimento da fé por meio de orações e atividades que promovam a bela experiência de pertença ao Senhor e sua Verdade Revelada na Tradição, na Palavra de Deus e no Magistério. Um bom diálogo, por exemplo, pode ajudar nossos filhos a compreenderem a diferença entre a verdade cristã e as superstições pagãs.
Os cristãos são chamados a ser sinal do amor de Deus no mundo. Perante o paganismo, sejam testemunhas de diálogo, respeito e compreensão, mas também firmeza quando confrontados com ideias pagãs.
A força da oração e dos sacramentos
Oração e Sacramentos são graças disponíveis a todos nós. Por meio deles, recebemos a força para resistir às influências negativas. Que o Espírito Santo nos guie e proteja nossas famílias, para que possamos ser luz no mundo, mesmo diante das trevas.
Trecho do Discurso de Abertura do IV Encontro Mundial das Famílias – Filipinas, 20036
Num ambiente de secularismo cada vez mais extenso, que tem a forma de um neopaganismo, não só se torna difícil acreditar e aderir pessoalmente às verdades sintetizadas no símbolo da fé ou ensinadas pela Igreja, como também é difícil transferi-las para o âmbito da vida. A Nova Evangelização, na realidade, parte dessa ruptura em que está frequentemente ausente uma espontânea e serena integração entre a fé e a vida como, pelo contrário, acontece normalmente, onde tudo é penetrado por uma cultura cristã definida.
São introduzidos novos estilos de vida derivados de uma série, pelo menos implícita, de opções incompatíveis com um universo cristão e feitas em nome de um pluralismo que conduz à imposição e aceitação dos códigos éticos que divergem dos valores cristãos. A síntese incisiva da bem conhecida Carta a Diogneto diz: “Os cristãos, de fato, não se diferenciam dos outros homens nem pelo território nem pela linguagem ou hábitos… Casam-se como todos, geram filhos, mas não expõem os recém-nascidos. Têm a mesa em comum, mas não o leito”. Não encontramos neste passo uma bela e sugestiva síntese do Evangelho da família e da vida?
A família deve tornar-se uma atraente testemunha da sua identidade, fundada sobre a comunidade de amor e de vida (totius vitae) entre um homem e uma mulher, na doação recíproca e total. A totalidade da doação mútua dá um fundamento e significado às características daquela comunhão: a totalidade da doação exige e exprime a fidelidade e a exclusividade; trata-se de uma comunhão fecunda, aberta ao dom da vida, segundo a sua missão de procriação integral, não só biológica, mas que exige a educação, no “útero espiritual” representado pela família, sobretudo nos primeiros anos de vida da criança. Introduzir uma separação entre os significados unitivo e procriativo (cf. Humanae vitae, 10 ss.) é também uma traição ao amor, pois que é como que uma limitação à doação recíproca, completa e total, que exige a estabilidade da comunhão até à morte.
Esses aspectos são, hoje, fortemente enriquecidos por uma reflexão teológica, e estão também vinculados à rica nascente que é preciso explorar a fundo na mútua doação, sob o signo da ternura.
A Nova Evangelização exige que as famílias se organizem, mobilizem-se, façam-se responsavelmente presentes no campo da política, na procura das verdadeiras políticas familiares.
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Um aspecto importante dessas políticas se refere à orientação e oportunas correções de que têm necessidade os meios de comunicação, em particular a televisão, que entra, como uma intrusa, no interior das famílias, comprometendo o direito de os pais educarem. As famílias, através de um diálogo franco com os políticos e os legisladores, devem chamar à responsabilidade, devem exprimir o seu desacordo e a sua oposição na tentativa de tutelar a dignidade do amor e o direito à vida. Em proporção, são inúmeras as famílias que se mantêm fortes na sua missão, mesmo nos países mais atingidos pelas crises que enfraquecem a família.
A Nova Evangelização deve levar a uma conversão pessoal e social que se traduz num estilo de vida, segundo a vontade de Deus, na Igreja doméstica.
Assiste-se, hoje, a não poucas conversões de pessoas que se deram conta de que o afastamento da verdade degrada e destrói. Muitos inquéritos, em diversos países, mostram como os jovens, numa percentagem significativa, desejam formar uma família estável, digna, na qual se possam realizar como pessoas. É essa conversão que passa através do reconhecimento de que a família, formadora de pessoas, desenvolve uma mediação social que ainda não acabou nem acabará. Seguindo este itinerário de personalização, guiados pelos pais, chega-se a descobrir Deus como Pai. Ninguém é capaz de amar como Ele. Descobrir Deus na família, na dinâmica transmissão da fé, no lar, significa crescer como cristãos e impor a destruição dos ídolos que o secularismo fabrica sem tréguas, com dificuldade e de modo confuso.
Trecho do Instrumentum Laboris da XIII Assembleia Geral Ordinário do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização
Como testemunham muitas respostas, ela assumiu um tom bem mais débil que permitiu a esta forma cultural de invadir a vida quotidiana das pessoas e de desenvolver uma mentalidade em que Deus está verdadeiramente ausente, em tudo ou em parte, e a sua própria existência depende da consciência humana.
Este tom de demissão, e por isso mais atrativo e sedutor, permitiu à secularização entrar também nada vida dos cristãos e das comunidades eclesiais, tornando-se não apenas um perigo externo para os crentes, mas um terreno de confronto quotidiano. As características do modo secularizado de entender a vida confirmam o comportamento habitual de muitos cristãos. A “morte de Deus” anunciada nos decênios passados por tantos intelectuais deu lugar a uma estéril mentalidade hedonista e consumista, que conduz a formas muito superficiais de afrontar a vida e as responsabilidades. O risco de perder também os elementos fundamentais da fé é real. O influxo desse clima secularizado no quotidiano torna sempre mais difícil a afirmação da existência de uma verdade. Assiste-se a uma recusa prática da questão de Deus nas perguntas que o ser humano se coloca. As respostas à necessidade religiosa assumem formas de espiritualidade individualista ou formas de neopaganismo, a ponto de se impor um ambiente geral de relativismo.
A hodierna negação do mistério
Enquanto nalgumas áreas do globo se mantém bastante vivo o sentido do mistério, noutras nota-se uma difusa mentalidade que, embora não negando formalmente o mistério de Deus, nega a possibilidade de descobri-lo com a razão e de aderir-Lhe livremente. Um neopaganismo envia mensagens que induzem a fugir da realidade para se refugiar nos mitos, nos ídolos, que podem só momentaneamente consolar a existência. Por outro lado, é também largamente sentida uma exigência de espiritualidade. [175] Assiste-se, ainda, ao avançar de tendências gnósticas que levam a procurar o sentido da história junto de uns tantos privilegiados que o conheceriam por suposta revelação.
A Igreja propõe-se ajudar a humanidade a reencontrar o mistério oculto nos séculos e manifestado em Jesus Cristo (cf. Ef 3, 5-6). Se mistagogia significa conduzir por uma estrada que leve ao mistério, compreende-se que não baste um itinerário litúrgico sem uma conversão pessoal.
Referências:
DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 2007;
BENTO XVI. Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé. Vaticano, 2007. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2007/january/documents/hf_ben-xvi _spe_20070108_diplomatic-corps.html. Acesso em 01/07/24;
LOPEZ TRUJILLO, Inauguração do IV Encontro Mundial das Famílias. Manila, Filipinas, 2003. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/family/documents/rc_pc_family_doc_ 20030122_iv-meeting-families-manila-trujillo_po.html. Acesso em 02/07/24;
8 LINEAMENTA, XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia. Vaticano, 2004.https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20040528_lineamenta-xi assembly_po.html
Instrumentum Laboris da XIII Assembleia Geral Ordinário do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização. Vaticano, 2012. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20120619_instrument um-xiii_po.html. Acesso em 02/07/2024;
FRANCISCO. Message for the participants in the XXI International Meeting of Columban Associations, “Columbans’s Day 2024. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/en/messages/pont-messages/2024/documents/202 40611-messaggio-columbans-day.html. Acesso em 02/07/2024.