Mulher: saúde mental e santidade, o autocuidado como expressão de zelo e responsabilidade diante das convocações da vida
Em meio às múltiplas responsabilidades da vida moderna — casa, família, carreira e, muitas vezes, o serviço na comunidade de fé — a saúde mental da mulher é um tema que merece atenção redobrada. Como psicóloga e mulher de fé, vejo uma profunda conexão entre o autocuidado e a nossa capacidade de viver plenamente a nossa missão e serviço, sempre à luz da nossa dimensão espiritual.

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O corpo como templo: a perspectiva espiritual do autocuidado
A fé cristã nos oferece uma base sólida para o autocuidado. São Paulo nos lembra que nosso corpo é “templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 6:19). Esta não é apenas uma metáfora; é um chamado à responsabilidade sagrada.
Se o nosso corpo (e, por extensão, a nossa mente e emoções) é o lugar de habitação do Espírito, o cuidado que dedicamos a ele se torna um ato de adoração e de zelo pelo dom de Deus. Negligenciar o corpo ou a mente por exaustão, estresse crônico ou falta de limites não é sinal de santidade, mas sim uma falha no zelo pelo nosso tesouro mais íntimo. O verdadeiro autocuidado, portanto, é a forma de garantirmos que o “templo” esteja saudável e forte para cumprir a vontade de Deus.
Autocuidado: o alicerce da qualidade de presença
Muitas vezes, o autocuidado é visto como um luxo, egoísmo ou vaidade. Na verdade, é um alicerce. Ele é o combustível que nos permite ser verdadeiramente eficazes.
Quando reservamos tempo para nutrir nossa saúde mental – seja através do repouso, da oração, do lazer ou da terapia – estamos investindo na nossa Qualidade de Presença. Uma mulher esgotada, ansiosa ou emocionalmente sobrecarregada não consegue estar inteira para o outro. Sua “presença” é fracionada, seu serviço é pesado e sua escuta é superficial.
Cuidar de si mesma permite que você esteja aqui e agora para seus filhos, seu esposo, seu próximo e, principalmente, para Deus. Você ouve com atenção, responde com paciência e oferece um amor que é sustentável. “Fazes o que deves e estás no que fazes”. São Josemaria Escrivá, nessas palavras, nos lembra como precisamos aplicar nossos cinco sentidos em cada tarefa. Nossa entrega precisa ser doação de si, por inteira.
Qualidade de Serviço: O serviço (a obra, a caridade, a dedicação) prestado a partir de um lugar de equilíbrio é mais frutífero e menos propenso ao burnout e tantos outros transtornos mentais. Não fazemos por obrigação, mas por amor, e com a energia necessária para manter a alegria na doação.
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Dar do que temos, e não do que sobra
A missão da mulher, seja ela qual for – na família, no trabalho, na Igreja –, requer vigor. Não podemos dar o que não temos. Se nossa “reserva” emocional e física está zerada, nossa capacidade de amar, servir e testemunhar também diminui.
A saúde mental, nutrida pelo autocuidado, nos permite abraçar a nossa missão com paz interior, clareza de propósito e resiliência diante dos inevitáveis desafios. É a certeza de que estamos alinhadas com Aquele que nos chamou, zelando pelo nosso bem-estar para que Ele possa atuar através de nós.
Permita-se essa reflexão:
Como tenho zelado pelo “templo” que Deus me confiou (meu corpo e minha mente)? O meu serviço e minha presença estão sendo dados com alegria e inteireza, ou com exaustão e ressentimento?
Lembre-se: cuidar de si mesma não é desviar-se da missão, mas preparar-se para cumpri-la com excelência e santidade.
Gisele de Assis
Psicóloga Logoterapeuta
CRP 06/95640
@psi.giseledeassis