O luto como vivência humana universal
Cada pessoa processa o luto de maneira singular, influenciada por sua história de vida, personalidade, costumes, tradições. Não existe um “roteiro físico” para o luto, embora diferentes modelos de fases, desenvolvidos por diferentes especialistas nos ajudem a entender a percepção de cada um acerca do tema.
O luto não se restringe apenas à morte. Ele se instala em diversas circunstâncias da perda de convívio com a pessoa ou até de uma realidade futura, que se desdobra em inúmeras formas de comportamento e processamento, ressaltando a singularidade e complexidade da condição humana.
Processo de adaptação e proporção da dor
É necessário entender que o luto não se trata apenas de um estado físico. Trata-se de todo um processo de adaptação, dependendo de como a pessoa em questão vai se adaptar em sua vida após a ausência de alguém próximo. A intensidade dessa dor é determinada pela proporção do vínculo afetivo e do amor estabelecido nessa relação, e não pelo status da pessoa, seja pai, mãe, filho, marido, esposa etc. Todo esse processo de adaptação envolve a reorganização do cotidiano e, principalmente, a redefinição de papéis que antes eram atribuídos à pessoa falecida.
Dimensão espiritual da dor e o crescimento
A dimensão espiritual da dor proporciona acolhimento e conforto nos momentos de angústia e crise. A espiritualidade é uma fonte rica e viva de conforto, estabelecendo um vínculo de conexão com algo maior e a certeza de que não se está sozinho no sofrimento. A oração e a gratidão pela vida são vistas como pilares que oferecem amparo e força nas atribulações.
Por outro lado, a dor traz um desvelamento de verdades que antes estavam ocultas, levando a profundos questionamentos e uma revisão da vida. Essas verdades são importantes para um crescimento pessoal, trazendo novos significados para a vida através do sabor agridoce do luto, por mais improvável que pareça.
Depois do adeus, o luto: série completa
.:Compreendendo a “dor total”
.:O sofrimento como uma jornada
.:Luto: do sofrimento à integração da perda
Crescimento Pós-Traumático (CPT)
O apoio da ciência correlaciona o nível de religiosidade e o apoio social como probabilidade de Crescimento Pós-Traumático (CPT), que é um auxilio para a descoberta de uma força interior, resiliência e capacidade de lidar com que aconteceu. Além de que toda essa experiência pode resultar no fortalecimento de laços com entes queridos ou até em novas amizades construídas nos momentos de crise, como pessoas que já passaram pela mesma situação.
A superação de um evento traumático pode transformar-se em uma verdadeira apreciação da vida, por coisas que antes eram consideradas banais e também um senso de propósito.
Mas é fundamental ressaltar que o CPT não se trata especificamente de um resultado imediato, é todo um processo que se desenvolve através das perspectivas de vida de cada um.
Contudo, tudo isso não significa que o laço com a pessoa falecida deve ser esquecido em prol do estreitamento de relações com outras pessoas. Afinal, como diz Santo Agostinho, “Aqueles que amamos e que perdemos não estão mais onde estavam antes, mas estão onde quer que estejamos”, a conexão e o amor que sentimentos por essa pessoa ainda continua vivos dentro de nós, mesmo após a sua partida. É uma forma de não encarar a morte como fim absoluto, e sim ter a certeza de que nada apagará as boas lembranças e todo esse amor imenso.
Transcrito e adaptado por Willian Coutinho





