Virtude

Modéstia ou modismo?

A diferença entre a modéstia interior e exterior

“Uma pessoa modesta, antes de qualquer coisa, é humilde”( Santo Tomás de Aquino). Impressiona-me a frase do Beato Carlo Acutis: “Todos nascemos originais, mas muitos morrem fotocópias”, e sempre me lembro dela quando vejo alguns sendo cópias, mesmo que copiem algo aparentemente bom, mas que se contentam apenas com a aparência.

Hoje, vemos a virtude da modéstia ganhando ares de moda, sendo que a modéstia externa (roupas, modos) deve ser a evidência da modéstia interior que nasce da humildade, do controle sobre o desejo imoderado de grandeza, de saber e aprender. É da luta contra esses vícios e a busca da humildade e castidade que nasce a modéstia externa, que se transforma em atos externos de vestir-se de tal forma ou comportar-se de determinada maneira.

Créditos: Deagreez / GettyImagens

A modéstia exterior como caminho para a interior

Penso que se você começou a mudar suas vestes por uma reta intenção de mudança, essa poderá ser uma via para cultivar também a modéstia interior, que é grande proteção contra vários perigos e inúmeros vícios. Mas é uma via que precisa de muita atenção, porque a modéstia exterior pode ser fingida, sendo assim um ato de hipocrisia. Já a modéstia interior é que dá vida à exterior, uma força inabalável que não se deixará atingir facilmente pelos ataques e armadilhas do mundo e do maligno. O importante então é que não devemos procurar a aparência da modéstia sem que nosso coração seja tomado de amor à simplicidade e humildade. Já na verdadeira modéstia, a interior e a exterior andam de mãos dadas e uma ajuda a outra, ou seja, o recato exterior deve nascer do interior ordenado, e alimenta esse interior, reforçando-o.

Encontrei, no site Garotada Católica, essa linda comparação de São Francisco Sales: “Como o fogo produz a cinza, e a cinza serve admiravelmente para manter e conservar o fogo, assim sucede com essas duas modéstias: que a interior produz a exterior, e esta mantém e conserva a interior de onde brotou”.

A juventude é alimentada, cotidianamente, com estímulos para aparecer – fotos, vídeos, fama. Precisamos, o tempo todo, alimentá-los com estímulos ao interior, a questionar suas motivações. Volto a pensar no beato/santo Carlo Acutis, que será canonizado em 2025. Ele, além de boa aparência, tinha acesso a tudo o que um jovem dessa idade pode querer.

Conta-se que, certa vez, ele, passando de carro com a família em frente a uma boate em sua cidade, indignou-se com uma fila enorme de jovens que esperavam para entrar na balada. Ele dizia que devia ser uma fila para entrar na Igreja, e que aqueles jovens estavam trocando a preciosa vida pelo que é passageiro. Carlo encontrou o verdadeiro tesouro, aquilo que não passa, e pautou sua vida no fogo interior que o consumiu por inteiro. Ou seja, Carlo, apesar de bela aparência e boas condições de vida, soube olhar para seu interior e alimentar as motivações corretas.

A modéstia como necessidade humana

A modéstia é uma profunda necessidade humana, e você precisa dela para ter uma estima correta e equilibrada de si mesmo, com isso reafirmando sua originalidade e integridade. Esses são fundamentos importantes para a vida de qualquer um, é a casa construída sobre a rocha.

Pense em namoros, amizades e relacionamentos assim construídos. Todo mundo quer ser amado como pessoa, não como coisa; como um “quem”, não como um “quê”. A virtude da modéstia é uma proteção contra um sem número de perigos e uma garantia de relações duradouras e originais, únicas!

A Virgem Maria como exemplo de modéstia

A Virgem Maria é o grande exemplo dessa virtude. Quanto à modéstia, ninguém pode se comparar a ela, ninguém há com mais merecimentos, virtudes, santidade e dignidade divinas. No entanto, não posso supor alguém mais simples, afável, bondosa, pobre e humilde do que ela. E ainda, o que dizer do desprezo que fazia da importância da sua pessoa e da sua própria excelência? Maria nos dá a chave para a modéstia interior e exterior, ou seja, uma submissão mais perfeita de todos os seus pensamentos, sentimentos e afeições à regra da razão e, desta, à vontade de Deus.

Edvânia Duarte Eleutério
Missionária da Comunidade Canção Nova desde 1997, onde atuou como formadora e acompanhadora de namorados, noivos e casais da Comunidade. Além de outras funções, como gestora de TV, Edvânia tem especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética. É autora do livro “Porque (não) eu?”.