Início de ano é época de fazermos e lermos listas, uma mania que atrai a atenção de muita gente, inclusive deste que vos escreve. Assim, apesar de o assunto ser bastante sério – afinal, sem haver um diálogo de qualidade, os relacionamentos se enfraquecerão, seja no namoro, noivado ou no casamento –, resolvi dar uma abordagem mais leve, no melhor estilo de lista de início de ano, apoiando-me em comportamentos que se repetem em maior ou menor intensidade em muitos relacionamentos. Se você namora, é noivo ou é casado, muito provavelmente você vai se ver ou ver seu parceiro em um ou mais comportamentos aqui citados. Se isso acontecer, é hora de dialogar: reconhecer suas próprias limitações ou alertar o outro – sempre com caridade – a respeito das limitações dele. Esta pode ser uma maneira bem concreta de melhorar a qualidade da comunicação no seu relacionamento.
Dicas de como melhorar o diálogo no relacionamento
Sem mais delongas, vamos à nossa lista, que está no masculino, mas obviamente vale tanto para o homem quanto para a mulher:
1 – A criança na praia
Se o outro quer falar de algo mais profundo, como sentimentos, discutir de maneira mais séria um problema, você desconversa, enrola, empurra com a barriga, muda de assunto. É como aquela criança na praia, que só brinca no raso, nunca avança para as águas profundas. Saiba que esse tipo de atitude cansa e irrita o outro, além de impedir o relacionamento de amadurecer. Só não é tão irritante quanto o nosso próximo item da lista, que é uma espécie de versão piorada da criança na praia.
2 – O mau comediante
Sempre que uma discussão é conduzida na direção de um assunto mais sério, você apela para uma gracinha, um comentário jocoso, uma piada. Isso pode até parecer funcionar nos filmes e séries de TV estilo Friends, mas acredite: na vida real essa atitude não cola. Ninguém quer ver seus sentimentos tratados como se fossem uma piada. Cresça! Não se trata de ser sisudo e chato, mas de reconhecer que há hora para tudo. Assunto sério exige postura de gente grande, não de moleque.
3 – O viajante do tempo
Basta a menor discussão para você apelar para o “você lembra daquela vez?”, para o “você já fez isso antes” ou para algum termo equivalente. Você não deixa o passado no passado, mesmo que se trate de um assunto que já tenha sido resolvido. Você não resiste e volta no tempo só para tentar vencer o outro na discussão. Não vale a pena viver assim. O relacionamento fica chagado, preso, arrastado, tenso, porque qualquer probleminha pode servir de estopim para ressuscitar problemas que já se julgavam encerrados.
4 – O leão barulhento
Você é bruto, ignorante, mal educado. Quando uma discussão começa a ficar mais insistente, você age como o leão, que usa o seu rugido terrível para assustar seus adversários. Você eleva a voz, adota gestos e até palavras mais agressivas, muitas vezes ofende o outro, esquecendo que em um relacionamento não há adversários, mas parceiros, e que se um lado “perde” em uma discussão, ambos perdem, porque é o relacionamento que sai enfraquecido.
5 – O escritor de filmes de suspense
Para que o diálogo seja efetivo em um relacionamento, uma das condições indispensáveis é a clareza, exatamente o oposto do que você faz. Sempre que você responde uma pergunta ou tem que falar de seus sentimentos, você fala como se estivesse em um livro de Agatha Christie, dando pistas, lançando enigmas, deixando as coisas no ar. A informação que vem de você nunca é clara, nunca é suficiente para que o outro saiba exatamente o que você quis dizer. Permanece sempre um tom de mistério no ar: “Será que ele concordou comigo?”, “Será que o que ele falou foi uma crítica ou um elogio?”, “Será que ele reconheceu que está errado ou está me acusando de alguma coisa?” Mais uma vez: pode parecer que isso dá certo nos filmes ou nos livros, mas num relacionamento de verdade, nós precisamos da segurança que informações claras e precisas nos dão.
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6 – A rua de mão única
Você fala, fala, fala e quer sempre ser ouvido, receber atenção quando partilha seus pensamentos, opiniões e críticas. Aliás, você não tem nenhuma dificuldade em fazer isso. O problema é quando chega a vez de o outro falar: você revela ser uma rua de mão única. Só há diálogo quando você fala. Você não sabe ouvir, não valoriza o sentimento do outro. Muitas vezes, você ouve sem sequer se importar com que o outro está relatando, mas já pensando em sua réplica, em mostrar o que você pensa, o que você vive, o que você, você, você… Namoro e casamento são vias de mão dupla. Aprender isso é o básico para que o relacionamento funcione. Aprenda a ouvir!
7 – A esfinge monossilábica
Relacionamento implica investir tempo, energia, significa comprometer-se. Você, entretanto, é da filosofia do “tanto faz”. O outro passa um tempão abrindo o coração para você, falando de coisas importantes, de expectativas, frustrações, limitações, sonhos e projetos… Não importa muito o assunto, aliás, já que sua resposta quase sempre é um monossílabo (“é”, “sim”, “realmente”) ou frases elaboradas como “pois é…” ou “é complicado…”. Isso quando você não emenda uma série de “tem razão” ou “é mesmo”, só para ver se o outro para de falar. Sim, “discutir a relação” é cansativo, exigente, mas não dá para fingir que não é algo absolutamente necessário. Deixe de preguiça e entre no mundo do outro. Abandone os monossílabos e as frases feitas e converse como adulto!
8 – O zagueiro
Se há quem pareça não dar a mínima para os problemas nos relacionamentos e sempre busque se esquivar das discussões com respostas evasivas e monossilábicas, você é justamente o oposto. Você é como o melhor zagueiro do mundo: não deixa passar nada! Tudo vira motivo para discussão, reflexão ou análise. Nada é pequeno demais, insignificante demais. Se por um lado isso demonstra preocupação no sentido de que o relacionamento não seja vencido pela monotonia da rotina, por outro, é bom atentar-se para não incorrer no exagero, pois o outro pode se sentir sufocado, esgotado por ter que sempre apresentar uma conduta impecável diante de você. Ele esqueceu de dar bom dia? Não precisa de quinze minutos de conversa sobre a importância dos pequenos hábitos para manter viva a chama do amor. Dessa vez cai bem um comentário bem humorado, um bom dia de sua parte carregado não de ironia, mas de amor e compreensão. Momentos de relaxamento são fundamentais em um namoro ou casamento. É imprescindível que um possa se sentir à vontade diante do outro, sem máscaras, sem temores nem barreiras. Relaxe um pouco. Não é final de Copa do Mundo, onde você realmente tem que ser um superzagueiro e não deixar passar nada. É a sua vida, é seu namoro ou casamento. Mantenha-se cuidadoso, mas saiba relevar falhas do outro, afinal, quem de nós nunca erra?
9 – O hipersensível
A pessoa espirra do seu lado e você acha que ela fez de propósito, para irritá-lo. O arroz ficou salgado e você fica todo dodói, porque pensa que ela não tem mais o mesmo cuidado com você que tinha antes. Numa conversa, se o outro aponta um defeito seu ou uma limitação, você já fica todo magoado e se fecha à conversa, porque não sabe lidar com nenhum tipo de crítica. O outro precisa pisar em ovos com você o tempo todo, e isso é péssimo para o relacionamento. Cresça, torne-se um adulto, deixe de ser um bebezinho frágil. Não é ser insensível nem aceitar todo tipo de grosseria, apenas abrir os olhos para o fato de que o mundo não gira ao seu redor, nem tudo que o outro faz tem como objetivo atingir você (Na verdade, a maioria das coisas que o outro faz não tem esse objetivo. Se tivesse, que tipo de relacionamento seria esse?).
10 – O dedetizador
O que um dedetizador faz? Ele sai numa casa colocando veneno em tudo, em todos os cantos, em cada lugar por onde uma praga possa passar. Você é mais ou menos como o dedetizador, com a diferença que você não está tentando matar nenhum bicho peçonhento. Você simplesmente envenena todas as conversas com as suas ironias, seus comentários mordazes, sua acidez desnecessária e tóxica. Esse veneno normalmente mata o relacionamento aos poucos, porque vai esgotando o outro emocionalmente. E atente-se que não se trata de comentários claramente agressivos, mas de “pequenos venenos” diários, corriqueiros, que talvez você nem encare como veneno. Se o outro faz uma pergunta simples, como, por exemplo, “Você se lembrou de comprar pão?”, você responde com um “Óbvio”, num tom que traz consigo o sentido de “Que pergunta boba! É claro que eu lembrei”. Se o outro termina de se arrumar para um compromisso e se apresenta diante de você, seu primeiro comentário é “Finalmente”, com aquele tom que traz oculta a acusação de que o outro demorou demais. Isso parece pequeno, insignificante? Experimente viver anos com alguém assim. É uma forma de comunicação ácida, aborrecida, agressiva. Mata a ternura, porque meio que “exige” do outro uma resposta à altura. Sem que o casal perceba, ambos só conversam assim, com pequenas doses de veneno lançadas um contra o outro. Quer se comunicar bem, sem agredir o outro? Tire todo o veneno das suas frases, mesmo aquele que pareça mais inofensivo. Seja cândido, terno, carinhoso, totalmente desarmado diante do outro, que é a pessoa que você escolheu para amar e cuidar.
Identificou-se em algum dos itens da lista?
Lembre-se que por mais que essa lista pareça descontraída e leve, o tema é bastante sério. Seja humilde e reconheça quais atitudes suas estão prejudicando o diálogo no seu relacionamento. Como sugestão de dever de casa, partilhe esse texto com a pessoa que você ama e conversem abertamente sobre quais dessas práticas vocês precisam erradicar do seu namoro, noivado ou casamento – sem espírito de acusação, mas tomados de amor e carinho mútuos.