O mês de setembro traz, anualmente, um destaque para um assunto importantíssimo: a saúde mental; e, mais especificamente, o suicídio, um tema ainda tão delicado de ser conversado, mas que não deve ser ignorado em todos os ambientes que vivemos: escolas, igrejas, trabalho, no grupo de amigos, na família.
Mais do que algo relacionado à saúde mental e saúde pública, este assunto requer um olhar mais amplo, que deve deixar de lado a condenação e o julgamento daquele que tentou suicídio ou perdeu sua vida por essa via, pois isso é um dos pontos que mais afasta as pessoas da coragem em expressar suas dores mais profundas.
Casos de depressão e ansiedade aumentaram durante a pandemia
Uma série de estudos vêm sendo realizados ao longo dos últimos anos, e também correlacionados com uma realidade que nos afetou desde 2020, que foi a pandemia da COVID19. Números revelam que a pandemia aumentou expressivamente casos de ansiedade e depressão, de vidas que se perderam, ao longo deste tempo em todas as faixas de idade.
É muito importante que tenhamos um entendimento mais amplo a respeito deste quadro, pois muitas situações associadas podem implicar no aumento de risco de lesões autoinfligidas ou do próprio ato que leva à morte. Nada vem de um único movimento, ou seja, fatores associados podem favorecer os pensamentos sobre a morte e sobre o caminho de como ela poderia ocorrer, que chamamos de ideação suicida.
E são estes os fatores: a dinâmica social, econômica, sanitária e de estrutura geral de vida, o modo como se vive, as restrições vividas por cada pessoa, doenças de tratamento longo como cardiopatia, HIV, doenças neurológicas. Associados a eles, fatores estressores como conflitos nos relacionamentos, perdas das mais diversas (trabalho, relacionamento afetivo, perda de pessoas da sua família, de status social), dificuldade na convivência social, abuso de álcool ou drogas e histórico de doenças emocionais, unidos ou não, contribuem efetivamente um aumento nos números.
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A dor na vida de cada pessoa é única e não deve ser comparada. Evite frases que anulam o que o outro sente, em detrimento do que nós sentimos. Seja capaz de ouvir e ser empático, o que é, certamente, o mais importante. Regras morais e religiosas, quando expressas em forma de “como sua vida é linda”, “você está errada” ou coisas parecidas, não ajudam e, até mesmo, intensificam este mal-estar.
Uma pessoa que sofre com essas situações necessita, na grande maioria das vezes, do acolhimento e de ser ajudada, até em coisas simples, como marcar um médico, ser ajudada na rotina da sua casa e que possa retomar a sua vida.
As dores e frustrações do período da pandemia têm sido estudados, e ainda, infelizmente, muitas pessoas estão sendo impactadas por isso, vivendo tristezas intensas, como a dor de ter perdido várias pessoas da família, perdido sua saúde física, sua condição financeira, e esses fatores ainda deverão atingir a população vulnerável ao longo do tempo.
Dor da alma
Os serviços de saúde, igrejas, empresas e todos ambientes precisam estar preparados para acolher os sofrimentos da alma, que não são visíveis ou têm dores comparáveis. Sabemos que a vida não nos poupa de tristezas, mas vivemos um tempo muito diferente de tudo o que já foi vivido, pelo menos para as gerações mais jovens. Desesperança, falta de motivos para viver, uma tristeza que não passa, culpa, vergonha, alterações de humor, comportamentos de risco, sentimento de vazio existencial e mudanças na rotina, que levam ao isolamento e afastamento social, são todos fatores que necessitam de atenção.
Estamos aprendendo a lidar, vivemos aprendendo e desenvolvendo habilidades; e precisamos, em todos ambientes, sermos mais atentos àquelas situações que, na maioria das vezes, não se mostram num braço fraturado, mas numa dor de alma, uma dor emocional que jamais deve ser entendida como fraqueza, falta de fé ou de vergonha na cara, como muitos dizem. O conhecimento nos leva à abertura para lidar com as dores da alma, que afetam as pessoas que podem estar ao nosso lado e nem percebemos. Busque ajuda, seja apoio!