🤗 Cuidado ao próximo

Amor concreto

Amar-nos uns aos outros como Ele nos amou

A revelação do mandamento do amor foi progressiva da parte de Jesus. Valorizou o mandamento do amor ao próximo como a si mesmo, fez com que este fosse considerado semelhante ao primeiro de todos, o amor a Deus, mostrou quem é o próximo com a parábola do bom Samaritano, aquele de quem eu me aproximo, até chegar, já na última Ceia, a abrir totalmente seu coração, dando o que chamou de seu mandamento.

Trata-se de amar-nos uns aos outros como ele nos amou. E a totalidade deste amor foi realizada em sua morte e ressurreição, selada no dom da Eucaristia, com a qual a Igreja se alimenta no correr dos séculos, de modo a se tornar, em todos os seus fiéis, capaz de amar como Jesus amou, com o amor que vem do seio da Santíssima Trindade.

Desarmando o coração, o caminho para a paz e a esperança

Crédito: jacoblund / GettyImages

Este leque de manifestações do amor descido da Trindade há de se manifestar no cotidiano da vida dos fiéis cristãos, sendo o seu testemunho o meio mais eficaz para atrair os outros, de forma a que todos possam desejar e experimentar a mesma realidade. É que aprendemos com o Senhor! Aos pecadores, como a Mulher Adúltera, o perdão sem limites. Publicanos e outras espécies de pecadores puderam assentar-se à mesa com o Senhor.

Os doentes e todo tipo de marginalizados puderam aproximar-se dele, ser tocados, curados, reintegrados. Inimigos públicos, segundo a concepção da época, os samaritanos tiveram acesso ao Salvador, naquela mulher do Poço de Jacó. Com os Apóstolos e demais discípulos, uma verdadeira escola ambulante, ensinando as lições do acolhimento e a superação de invejas e ciúmes.

Desejamos, hoje, ater-nos a uma das experiências feitas por Jesus através de uma realidade tão humana quanto importante, a amizade e a hospitalidade (cf. Lc 10,38-42). Tudo indica que a casa de Marta, Maria e Lázaro foi um lugar privilegiado para o Senhor cultivar este sentimento que nos atrai fortemente. Certamente, Jesus visitou, com mais frequência, aquela família peculiar do que os evangelhos relatam.

Marta, a solícita dona de casa, parece ter sido a mais velha. Lázaro deve ter tido os problemas de saúde bem antes de sua morte referida no Evangelho. Não se sabe muito de Maria, mas alguns arriscam compará-la justamente com outra mulher, que também fez gestos de delicadeza com o Senhor. Entretanto, podemos saber que superou normas constantes da prática judaica, fazendo-se discípula, aos pés do Senhor, coisa que era reservada aos homens. De fato, as mulheres aprendiam mais ou menos por tabela, com o que os homens lhes transmitiam. A partir de Maria de Betânia, tudo mudou ou deve mudar! Ela escolheu a melhor parte, o discipulado junto ao Senhor, e esta não lhe pode ser tirada!

Em Betânia há a hospitalidade, representada por Marta, a amizade com Lázaro, a caridade com o amigo enfermo e morto, o discipulado em Maria, além da garantia da presença do grande círculo formado pelos Apóstolos de Jesus. E podemos recolher lições preciosas, que nos fazem ser mais acolhedores, num amor bem realista e concreto, que acolhe, procura, valoriza e envolve os irmãos e irmãs.

A caridade concreta através do amor ao próximo

Um primeiro sinal pode ser a atenção a quem passa perto de nós. Um cumprimento amigo, um bom dia dado de coração, o olhar carinhoso e respeitoso às pessoas de nossas famílias, levantar os olhos daquele quase onipresente celular, quando estivermos num coletivo, o conhecimento das situações de nossos vizinhos, a capacidade de colocar nossos serviços à disposição de quem precisa, a caridade concreta, sem deixar que qualquer pessoa passe em vão ao nosso lado.

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Voltando às nossas casas, vale lembrar a Primeira Leitura do Domingo que celebramos (Gn 18,3-10), comentada de forma tão delicada na Carta aos Hebreus: “Perseverai no amor fraterno. Não descuideis da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber” (Hb 13,1-2). Abraão recebeu aqueles três peregrinos, oferecendo-lhes o que tinha de melhor, e lhe veio a promessa de uma descendência. E sabemos que esta cena foi entendida por artistas como revelação da Trindade que nos visita!

De fato, hospitalidade é virtude a ser praticada, e nós haveremos de cultivá-la continuamente. É hora de diminuir nossas defesas, nossos alarmes, nossos muros! Sabemos o quanto nossas Paróquias realizam na preparação de suas festividades, com as peregrinações pelas casas, e como portas de casas abertas podem levar a portas de corações que se abrem.

Aliás, esta é uma excelente oportunidade para abrir nossos corações, a fim de encontrar caminhos para visitar pessoas que, por um motivo ou outro, vivem sozinhas, muitas delas tristes e depressivas. E que tal visitar pessoas que vivem em casas de idosos, cuja solidão se torna tantas vezes opressiva?

Novo nível, mais provocante, é a convivência social a ser fecundada com amor ao próximo. Há um desafio a ser enfrentado, a tendência de transformar qualquer dificuldade entre as pessoas em crime. Muitas são as acusações de assédio de qualquer tipo a se multiplicarem, assim como a judicialização das relações entre as pessoas. Vale o antigo princípio de dizia ser melhor um péssimo acordo do que uma ótima demanda. Ocorrem-me dois exemplos igualmente dolorosos. O primeiro é a demanda por heranças de família, cujo resultado, com desagradável frequência, é muitas vezes a inimizade. Outro vem das áreas rurais, em que meio metro de cerca pode suscitar uma briga de proporções incríveis!

Se quisermos, é possível ampliar e encontrar os campos da política, do relacionamento entre as nações, as guerras comerciais de nossos dias, para descobrir o quanto os cristãos têm o dever de se munir de Evangelho, converter-se a ele e ampliar sua presença e capacidade de ser sal, luz e fermento. E não é difícil redescobrir que Marta, serviçal e pronta a ser concreta no amor, só poderá fazer bem a sua parte se seguir Maria, sua irmã, que escolheu a “melhor parte”, que não lhe será tirada, o seguimento de Jesus!


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.