Pais e Educadores

A juventude e o sentido para a vida

Auxiliar a juventude na busca de um sentido na era neoliberal, um desafio para pais e educadores

Nessa sociedade dita Neoliberal em que vivemos, atuar como pais e/ou mestres traz várias questões à tona, entre elas o sentido da vida.

E dar sentido ao viver é uma tarefa que nos coloca diante de perdas e ganhos, onde é imperativo seguir em frente e orientar os esforços com o que temos. Isso, para os adolescentes e jovens, está permeado de agitação e insegurança, crises de valores, rupturas, apreciação ou não das colocações e posicionamentos dos mais velhos, na tentativa de construir os seus próprios.

Nesse sentido, o conhecido filósofo Platão, inclusive, colocava-se contra o uso de bebidas alcoólicas pelos mais jovens, pois, em seu entender, tal coisa era como colocar fogo no fogo. Ademais, nós pais devemos tomar cuidado em querer evitar que nossos filhos sofram, pois o sofrimento é inerente ao ser humano, e se não temos como escapar dele, é preciso entender o que a vida quer dizer a cada um.

Jovens de diferente etnias, tirando uma selfie com o que parece ser uma tela de celular, eles sorriem, tendo ao fundo campos verdes, levemente desfocados

Créditos: doidam10 / GettyImagens

A busca pela identidade e autoconhecimento na adolescência

Assim, nessa fase de mudanças biológicas importantíssimas, esses rapazes e moças precisam de apoio para lidar com as suas questões psicoemocionais, pois, ao mesmo tempo em que isso acontece, há uma busca pelo autoconhecimento, pela autonomia e, sobretudo, pela realização como indivíduo.

Nessa perspectiva, é preciso destacar a importância do autoconceito e da autoestima, que são traços individuais que testificam a relação dos adolescentes com os demais, e é claro, consigo mesmos.

O papel do grupo social na formação de valores

Vemos aí a relevância da participação destes em grupos sociais para assumirem responsabilidade e aprenderem a tomar decisões que resultem em valores que atinjam a todos. Afinal, indivíduos sadios mobilizam as suas riquezas interiores em vista dos outros, dedicando-se a uma tarefa, a uma causa maior ou ao amor por outrem.

“É como o olho que só pode cumprir a sua função de ver o mundo enquanto ele não vê a si próprio” (Frankl, V.E. (1991): A psicoterapia na prática. Campinas: Papirus, p. 18.)

E aí vem a grande questão para os mais novos: Quem eu sou neste mundo? O que a sociedade me oferece?

Guiando os jovens na escalada rumo ao sucesso

Diante dela, nós, como adultos, temos que os ajudar para que tenham sucesso em sua escalada. Pois assim terão condições de significar a sua vida, partindo de suas vivências sociais, de como têm sido lembrados, tratados e amados. As pessoas precisam de afeto, comunicação e sentimentos. Afetamos e nos deixamos afetar pelos outros no encontro com a família, com o outro e com Deus.

Desafios da juventude: separação, solidão e influência das telas

Nessa jornada, muitos são os problemas vivenciados pelos jovens, como separação dos pais, distanciamento, evasão dos lares e ainda serem educados pelas telas.

Avançar para a maturidade é trilhar o caminho do perdão, superar os desafios das relações humanas, valorizando os que os cercam, respeitando-os e superando as mágoas.

Sem isso, nós os acompanhamos como meros telespectadores, pois há uma corrida para a busca de sentido que não acontece, frustrando e gerando ansiedade, irritabilidade e até o vazio existencial.

Superando a utopia e encontrando propósito na realidade

Os rapazes e moças deverão ser encaminhados a passarem a ser objetivos em suas escolhas, haja vista que os mesmos, no período de maturação, tendem a ser utópicos.

Há aqueles, dentro desse grupo, que tendem ao isolamento, por isso enfrentam a solidão. A melhor direção é ensiná-los como ocupar o seu espaço, tanto na sociedade quanto na família.

Liberdade interior e responsabilidade: pilares para uma vida significativa

Outra questão importante é a da liberdade. No livro ‘Em busca de sentido’, Viktor Frankl aborda o conceito de liberdade interior, trazendo uma importante pergunta, que é bem pertinente a ser feita ao nosso público alvo, os jovens: “Onde fica a liberdade humana?” (Frankl, 2008, p. 88)

Na visão do autor citado, o ser humano é dotado de espiritualidade e responsabilidade junto às quais caminha a liberdade.

Liberdade é a capacidade de realizar escolhas e tomar decisões; dar respostas ao que a vida lhe propõe. E ser responsável diz do comprometimento com a vida, pois nela há sempre sentido. Mesmo diante das frustrações, não devemos perder a vitalidade, mas agir com boa educação, fortes conceitos e virtudes.

Consumismo e perda da dignidade humana: desafios da sociedade moderna

Aliás, seja dito de passagem, hoje em dia, o mundo carece de tradições e há crise de valores, conflitos familiares, problemas sexuais, distúrbios físicos e psicossomáticos, problemas financeiros e orientações rotineiras.

A regra da sociedade é a busca pelo prazer em todos os momentos, tentando desenfreadamente fugir da dor, o que nem sempre é possível. A fama, as riquezas, a tecnologia, a disposição e, por vezes, relacionamentos nada profundos, são a resposta para uma vida sem projetos importantes.

E os jovens são atraídos a isso, por não terem a percepção de que por trás das facilidades algo está sendo perdido: a dignidade humana.

Quem vende esses produtos só se importa em comercializá-los, sem valorizar o ser humano que existe em cada um.

Encontrando sentido na solidariedade e no serviço ao próximo

Nessa mesma sociedade também existem caminhos saudáveis para uma vida cheia de sentido.

O jovem é voltado para a solidariedade. Qual é, portanto, o papel dos adultos para que os jovens possam escolher bons rumos? Direcioná-los ao serviço e à comunhão com o próximo para criarem vínculos afetivos fortes com a família, amigos e com Deus.

Ou seja, dar significado à vida é utilizar-se de suas potencialidades para além de si, e questionar quando desrespeitamos os outros, a nós mesmos, a natureza e a Deus em primeiro lugar.

A importância da fé e da espiritualidade na vida dos jovens

Contudo, é também importante lembrar que a repressão cultural da fé é responsável por sujeitos doentes; e, assim sendo, é preciso liberar o seu potencial religioso, pois não há nada de vergonhoso nisso.

Inclusive, São João Paulo II lembra aos jovens, em seu discurso em Caracas, que a relação com Deus deve estar em primeiro lugar. Afinal, com Ele presente na vida dos jovens, com certeza, atingirão metas, terão direcionamento e uma vida de oração, com profunda intimidade com Deus.

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Educação para o trabalho: desenvolvendo potencialidades e resiliência

Dentre os mais variados direcionamentos aos mais jovens está a educação para o trabalho, uma vez que é uma das ocupações que mais demandarão tempo em sua vida.

O trabalho é importante, pois é uma forma de dar-se ao mundo, vai além de apenas ganhar dinheiro. Principalmente para os mais jovens, esse é o tempo de conhecer e trabalhar as potencialidades. É preciso coragem e resiliência para esperar que a Providência Santíssima que rege todas as coisas complete a sua obra. As restrições de possibilidades podem ensiná-los muito.

Pais não devem projetar nos filhos o que não conseguiram realizar profissionalmente, pois os filhos são seres singulares, livres e precisam ser apoiados nessa liberdade. Precisam construir o seu próprio caminho.

Incentivando o protagonismo e o compromisso com o trabalho

Essa formação pode começar com o incentivo ao voluntariado, trabalhos interdisciplinares, seriedade nos estudos e empenho nas tarefas da casa.

Nós adultos precisamos e devemos ser exemplos de bons trabalhadores, que entendem que é no trabalho que as respostas com compromisso e responsabilidade são dadas.

Entretanto, aqui é importante lembrar que o que nos torna felizes não é a atribuição em si, mas a forma como podemos exercer as atividades diárias.

Em tudo o que realizarmos, não busquemos o prazer, mas encontremos o sentido.

 

Micheline Teixeira

Missionária da Comunidade Canção Nova