Sabemos perfeitamente o sentido de um velho e conhecido ditado popular: “Quando um não quer, dois não brigam!” Entendemos as situações em que este é aplicado, mas, muitas vezes, nos parece que, inebriados pelo desejo, pouco se faz para se combater aquilo que arde dentro de nós. Como poderíamos evitar as situações em que uma outra frase poderia ser perfeitamente aplicada: “Quando dois querem o que não podem”.
Há muitos anos atrás, a gente só tinha conhecimento do que nossos pais não queriam que fizéssemos e raras foram as vezes em que conhecíamos os motivos de tal proibição. Fomos, de certa maneira, até bem orientados dentro das limitações e da boa intenção deles. No entanto, ao vislumbrar o mundo novo prometido que se despontava, e seduzidos pelos sinais de uma pseudo-autonomia, permitimo-nos atravessar as fronteiras e romper os limites daquilo que, até pouco tempo, era o nosso “fruto da árvore proibida”.
Na peraltice de moleques, arriscamos roubar frutas do pomar dos outros, nadamos em rios, “matamos” aulas para ficar à toa na cidade, entre outras coisas… Com o passar do tempo, crescemos e com a gente cresceu também a peraltice. Se namorássemos às escondidas, tínhamos de ficar como as marmotas, atentos para evitar sermos vistos por alguém conhecido… E se, de repente, fôssemos interpelados por alguém, agíamos como camaleões, tentando disfarçar.
E se fumássemos às escondidas, tentando ostentar uma autonomia “volátil”, tínhamos de trazer balas nos bolsos… Entretanto, esquecíamos da roupa impregnada da fumaça do cigarro. Quem não se lembra dos apuros, preocupações e complicações em que nos metíamos quando pactuávamos com um colega ou namorado(a) a fazer o que não nos era permitido? A companhia do outro, muitas vezes, parecia nos dar forças para reincidir ou cometer nosso “crime” secreto.
Acredito que quando duas pessoas são cúmplices do mesmo desejo, e o alimentam, a concretização dele é quase certa. Entretanto, buscar ajuda com pessoas de confiança nos ajudará a sair desse transe e a voltarmos a colocar os pés no chão.
Quantas meninas não vivem o desespero de enfrentar as conseqüências de uma atividade sexual prematura, enfrentando a maternidade, quando mal conhecem seu próprio corpo. E quantos meninos, tentando garantir sua masculinidade, se apóiam na bebida, passando a noite embriagados nas calçadas. Por outro lado, muitos adultos ferem a sua cumplicidade com o outro, quando decidem romper com suas responsabilidades nas “escapulidas”, ainda que seja por um momento.
Em qualquer situação, precisaremos pensar em uma desculpa satisfatória para justificar o “delito” cometido, além de permanecer em constante vigilância para não se contradizer. Sabemos que, logo após termos feito o que não nos era permitido, a sensação era a de não ter valido a pena. Na verdade, nossos valores morais gritam por uma mudança de vida, e não “pactuam” com o que estamos ou temos vivido.
Nossa alma clama pela conversão, a qual se inicia a partir da retomada e aprofundamento de todos os ensinamentos deixados deliberadamente para trás. A companhia dos meus amigos, assim como a minha para eles, tem de agir como instrumento de crescimento e não como uma serpente sedutora.
Que a minha presença, junto a cada um de vocês, seja mais um impulso para alçar um vôo ainda maior.
Deus abençoe a nós todos.