Vida, para o ser humano, é a experiência de ser alguém em comunhão com o outro, reflexo do mistério trinitário. Sendo o ser humano um ser corporal e sexuado, essa experiência tem uma dimensão corporal, se dá e se manifesta no corpo. O núcleo dessa experiência, entretanto, é espiritual no sentido de que ela acontece pela presença de si a si mesmo e ao outro. Poderíamos chamar essa experiência de autoconsciência vital. Ao se experimentar assim o ser humano colhe também o outro, o mundo e as pessoas. É uma experiência de harmonia. Nela é suprimido todo conflito. Ela se traduz em sentimentos e emoções e se mostra no corpo. Não é necessário dizer que, no tempo da história, essa experiência é processo. Daí ser possuída na esperança, que já é uma forma de possuir o que virá. Mas, por isso mesmo, é uma experiência em que estamos sujeitos a enganos ao buscá-la. E nós a buscamos sempre, às vezes, desesperadamente.
Sendo o encontro sexual, quer pela intensidade do prazer físico, quer pelas emoções do envolvimento erótico, um momento corporal de forte experiência de si e de intensa comunicação com o outro, ele parece responder ao desejo profundo de sentir-se a si mesmo e de experimentar comunhão com o outro. E, naqueles instantes, a pessoa pode assim se sentir.
Se a pessoa, no conjunto de sua vida, cultiva uma experiência profunda de si e de comunicação com os outros, o momento do encontro sexual – no matrimônio – será expressão e fonte de uma vida a dois positiva. O sexo, entretanto, por si mesmo, não é fonte de vida para a pessoa. Não é solução para problemas de solidão e para carências afetivas. Quando para esse fim se busca a experiência sexual, a relação entre os parceiros acaba por se desgastar e se torna doentia, lugar de manifestação das mais variadas formas de imaturidade, tais como: possessividade, ciúme, dominação, sadomasoquismo e outras.
Mas é verdade que situações estressantes podem levar a buscar no sexo o desafogo, como recomendou certa vez uma ministra: relaxa e goza. Da mera curiosidade adolescente pode se passar para a prática masturbatória como válvula de escape para tensões emocionais. E quando se aprende a ter o (a) parceiro (a) acrescenta-se à experiência física do prazer a sensação de companhia, o envolvimento erótico. Assim o cérebro aprende – instala-se um mecanismo a mobilizar a área do prazer sexual como forma de superar o desconforto. A força desse mecanismo é poderosa porque, na verdade, a experiência sexual parece responder à necessidade profunda de comunicação do ser humano. Mas uma coisa é certa: o sexo não resolve a insatisfação profunda, doentia ou não, que costuma acompanhar o ser humano desde a infância.
Há ainda outros fatores que levam a pessoa a buscar a experiência sexual como resposta. Nos adolescentes pode ser simplesmente o desejo de experimentar. Mas, em uma cultura que leva o sexo à condição de sentido de vida, o desejo de fazer a experiência acaba se transformando em necessidade.
É nesse contexto humano e cultural que os cristãos devem testemunhar a dignidade maior da pessoa humana através da vivência da castidade. A impossibilidade de experimentar-se positivamente em comunhão com os outros – experimentar amor – é a morte. Como se trata de um processo, nenhum de nós chegou à plenitude dessa experiência. Vivemo-la como caminho. Isso é suficiente para sermos felizes no tempo da história. Os vazios dessa experiência são assumidos como apelos a nela crescer. Donde a importância da esperança como certeza do acerto do caminho. É dentro desse horizonte que podemos entender a sexualidade humana enquanto impulso na direção do outro.
Eros é, em sua raiz, impulso para a comunhão, busca de plenitude, desejo de envolvimento. Eros pode ser fonte de crescimento, força que impele para os envolvimentos místicos. Mas pode perder-se nas emoções vindas de fora, da estimulação dos sentidos e da excitação produzida pela química do prazer. Sem dúvida, o instinto sexual objetiva garantir a continuidade da espécie. No ser humano o instinto sexual é parte de um todo, na qual razão e liberdade constituem nossa identidade específica. Assim, ao mesmo tempo em que a sexualidade humana objetiva garantir a continuidade da espécie, ela se torna lugar privilegiado de comunicação.
O encontro sexual entre homem e mulher deveria, pois, inclusive em razão da intimidade do abraço, ser um momento de profunda e real comunhão. Mais que a intensidade do prazer físico a relação sexual deveria ser a celebração do amor vivido na comunhão cotidiana da vida. No ser humano, portanto, o sexo, enquanto relação, exprime e comunica o que a pessoa vive. Deveria ser expressão de amor, manifestação da riqueza interior que se comunica ao parceiro e que tem a força de gerar outra vida. Matrimônio é união que gera vida. O que foge disso é perda de dignidade. (continua em Por uma sexualidade integrada)