Em meus momentos de oração, nestes últimos dias, Deus tem me levado a refletir sobre algo muito interessante, que é o sofrer por amor.
Hoje em dia, se escuta muito este termo: “sofrer por amor”, em que se refere a uma pessoa que está sofrendo por causa de outra, por viver um amor não correspondido, mas não é esse tipo de sofrimento a que estou me referindo. O que eu quero partilhar com vocês é sobre o sofrer por amor como via de santificação, onde esse amor é o próprio Deus, “Deus é amor” (cf. I Jo 4,16).
Digo isso porque algo que mexe muito comigo é a vida dos santos, principalmente a dos mártires, pois eles entenderam perfeitamente o sentido desse sofrimento e, mais do que entender, eles conseguiram desvendar e tocar no tesouro que é o sofrimento vivido em Deus, por Deus e para Deus.
Sofrer por amor: como vivenciar isso?
Este sofrimento em Deus se dá de diferentes formas e, uma delas é pelo exercício da paciência. “Mais vale a paciência do que o heroísmo” (Pr 16,32a). São Gregório dizia que todos os santos foram mártires pela espada ou pela paciência, e ainda afirma: “Nós podemos ser mártires sem a espada, se guardarmos a paciência”. São Tiago também vem nos afirmar essa via de santidade: “Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma” (Tg 1,4).
Uma certa vez, Santa Gertrudes questionou a Deus, perguntando o que ela poderia fazer para agradá-Lo; e Ele respondeu: “Minha filha, você não pode me fazer nada mais de agradável, do que suportar com paciência todos os sofrimentos que lhe aparecem na vida.”
Santo Afonso de Ligório dizia: “É preciso sofrer, todos têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz. Quem a carrega com paciência, salva-se; quem a carrega com impaciência, perde-se”.
Vamos refletir um pouco sobre como temos vivido os momentos de dor e de sofrimento? Temos sido pacientes? Temos feito deles uma via de salvação ou de perdição?
Pois, uma coisa é clara: Deus nos ama e isso é uma certeza para nós, porque não nos falta prova disso, só o fato de estarmos vivos e lendo a esse texto, já é uma prova concreta do amor de Deus por nós. Portanto, se Deus nos ama e tudo acontece para o nosso bem (cf. Rm 8,28), por que será que nós não sabemos acolher os sofrimentos em nossa vida?
Sofrimento como fonte de santificação e salvação
Com certeza, cada vez mais o mundo tem nos levado a ter uma vida fácil, sem esforços, sem sofrimentos, sem renúncias, sem Deus, onde tudo nos é permitido, fazendo de nós, cada vez mais, somos uma geração fraca que não luta, que não reage, que se entrega fácil; basta ver quantos estão nas drogas, no sexo desregrado. É preciso abrir nossos olhos, deixar que as escamas do mundo caiam, para enxergarmos a riqueza do sofrimento como fonte de santificação, de salvação e não mais como motivo de revolta e rebeldia contra pessoas e até mesmo contra Deus.
É preciso que o mundo tenha a visão espiritual da salvação contida no sofrimento, pois ele é uma escola de formação, de crescimento, de purificação, de santificação e não somente algo doloroso que acontece na nossa vida, pois não podemos sofrer, simplesmente por sofrer; precisamos retirar algo de bom dos meus sofrimentos, precisamos crescer, aprender e, acima de tudo, nos santificar com eles.
Você já parou para pensar que Deus possa estar te preparando, neste tempo presente, com os sofrimentos que você tem hoje na sua vida, para que você possa suportar o tempo futuro? Toda prova serve para aprovar ou reprovar, não é verdade? Deus não reprova ninguém, quem nos reprova somos nós mesmos e, com certeza, Deus quer nossa aprovação e não nossa reprovação. Por isso, Ele permite que os sofrimentos venham nos visitar, já que eles fortalecem a nossa alma, nos dão têmpera e nos fazem mais merecedores do Céu, umas vez que não há santidade sem sofrimento, nem ressurreição sem cruz.
Pelo Céu temos de fazer de tudo, por isso, os santos afirmam:
“Para ganhar o Céu, todo sofrimento é pouco” (São José Calazans).
“Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de se revelar em nós” (São Paulo).
“O bem que espero é tão grande, que todo sofrimento é prazer para mim” (São Francisco).
Os santos nos ensinam o segredo para saber sofrer. A receita é bem simples e todos nós podemos fazer — já que é algo que está contido em nós, assim como estava contido neles, acima de toda e qualquer virtude que eles possuíam — que é o amor, pois foi por terem amado muito que conseguiram suportar tudo o que acontecia na vida deles e, desse modo, se tornaram santos, pois, um coração que não ama não sabe sofrer.
O amor é a receita certa para toda e qualquer via de santidade, pois só quem ama é capaz de se doar, mesmo que seja a própria vida, então, não há maior prova de amor para nós do que a cruz de Cristo. Amar a Deus e ao próximo não só nos capacita a viver os sofrimentos em nossa vida e a nos assemelharmos ao Cristo, que é o amor encarnado, amar a Deus e ao próximo também nos abre as portas para a vida eterna como nos ensina a Palavra de Deus: “Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: ‘Mestre que devo fazer para herdar a vida eterna?’ Jesus lhes disse: ‘Que está escrito na Lei? Como lês?’ Ele respondeu: ‘Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo.’ Jesus lhe disse: ‘Respondeste corretamente. Faze isso e viverás'” (Lc 10, 25-28).
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Encontrar o sentido
Amemos, irmãos! E se as provas, os sofrimentos, as dificuldades vierem, amemos ainda mais, pois isso é sinal de que somos amados por Deus, como nos ensina a Palavra de Deus “pois o Senhor corrige a quem Ele ama e castiga a quem aceita como filho” (Hb 12,6); e, também, o próprio Jesus quando disse à Santa Tereza: “Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos”.
Que o Divino Espírito Santo nos conceda a graça de amar e de encontrar nos sofrimentos de nossa vida o sentido desse amor, como encontrou a Virgem das dores perante a cruz.
Fabrício Pegoraro