A amizade torna agradável a vivência entre as pessoas
A amizade é importante para a vivência do ser humano. Tomás de Aquino, doutor da Igreja, filósofo e teólogo com vários escritos sistematizados sobre Deus, o homem e o mundo é um santo canonizado pela Igreja, que transformou o pensamento de sua época. Dentre muitas obras, como a “Suma Teológica” e a “Suma contra os gentios”, e diversos temas produzidos, ele escreve especificamente sobre a amizade.
Santo Tomás de Aquino diz que “por natureza todo homem é amigo”, e ainda destaca que a amizade, como uma virtude social, é necessária para se viver agradavelmente em sociedade. Ela é importante e fundamental para o florescimento da sociedade e felicidade do homem que se relaciona com o outro.
“Ao amigo fiel não há nada que se compare, pois nada equivale ao bem que ele é. Amigo fiel é bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo.” (Eclesiástico 6,15-16).
A amizade colabora para a harmonia social
Em sua obra ‘Suma Teológica’, São Tomás de Aquino indica que “a amizade permanece no plano das relações sociais, designando antes a atitude geral de amabilidade ou afabilidade; é cortesia plena de atenção, tornando mais fácil, senão mais alegre, o viver junto”. Nenhuma sociedade, por natureza, mantém-se plenamente sem harmonia e contentamento entre os que nela vivem; nos mais variados lugares ou aspectos de uma comunidade, é normal que se dirija para uma conformidade.
A amizade torna cada vez mais agradável a vivência nas relações sociais pelo fato de proporcionar a facilidade na vida em sociedade, enquanto que um dos seus vícios opostos, a contestação, torna mais difícil o viver juntos e manter relacionamentos afáveis no corpo social.
Dessa forma, a amizade “impõe-se igualmente como uma verdadeira exigência da vida em sociedade, e sua ausência seria sentida como insuportável”, segundo Santo Tomás. Isso, porque a amizade é fundamento, por isso possível. Ela pode acontecer concretamente quando as pessoas se comportarem com decência junto daqueles com quem se convivem, o que proporcionará dignidade, maturidade e manutenção no desenvolvimento próprio e da vida em sociedade.
A amizade favorece o relacionamento com o próximo
Concedendo uma base para os escritos de Santo Tomás de Aquino, o filósofo Aristóteles escreveu amplamente a respeito da amizade em seu livro VIII da ‘Ética a Nicômaco’, no qual distinguiu em dois tipos a amizade. O primeiro consiste, principalmente, na afeição de uma pessoa para com a outra, e pode ser a consequência de qualquer virtude; o segundo tipo de amizade consiste unicamente em palavras ou atos exteriores, que não se realiza de maneira perfeita à razão da amizade, mas tem com ela uma certa semelhança.
Sobre o que Aristóteles ensinou sobre os dois tipos de amizade, no afeto percebe-se e reconhecer na pessoa amiga muito daquilo que há em si mesmo e o que ainda se busca ter, o que proporciona um crescimento mútuo entre o eu e tu, valorizando o nós. A Bíblia indica que “quem teme o Senhor, orienta bem sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo” (Eclesiástico 6,17).
Desse modo, um efeito real e positivo na sociedade virá também pela afeição ao outro como um outro eu, porque aí não se terá competições, invejas, ciúmes nem desarmonias, já que o que a pessoa não deseja para si, também não deve desejar para o outro, para viver a reciprocidade autêntica, pois é “ditoso aquele que encontrou um amigo verdadeiro” (Eclesiástico 25,12).
Com isso, Santo Tomás sintetiza dizendo que “o bem consiste na ordem, é preciso que as relações entre as pessoas se ordenem harmoniosamente num convívio comum, tanto entre ações quanto em palavras, ou seja, é necessário que cada um se comporte com relação aos outros de maneira conveniente, e essa virtude se chama amizade ou afabilidade.”
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“Por natureza, todo homem é amigo”, por isso é necessário, tanto para a ordem quanto para a harmonia, que a amizade esteja presente para a relação amistosa e oportuna de uns para com os outros, alcançando a vivência do amor, que é prioridade para o estabelecimento estável de qualquer relacionamento.
A amizade favorece a vivência da verdade
Santo Tomás afirma que “o homem é, por natureza, um animal social e deve, com honestidade, manifestar a verdade aos outros homens, sem o que a sociedade humana não poderia durar”. Por meio da amizade, é possível levar a verdade aos que se encontram na mentira e no erro, pois são edificantes as palavras de um amigo de verdade, mesmo quando sejam de correção.
Dessa maneira, no relacionamento das pessoas é preciso existir uma intenção que facilite a convivência e, nesta, tem de haver a virtude da amizade que conduz para esse bem social. “A intenção principal da lei humana é, com efeito, fomentar a amizade dos homens entre si”, diz Santo Tomás, sendo que o primeiro princípio que regula as relações com outrem exige a reciprocidade da amizade, pois, para bons relacionamentos, é necessário que estejam orientados por uma atitude da vontade, de querer para o outro o bem que se quer para si.
“Ama teu amigo e une-te a ele com lealdade” (Eclesiástico 27,18).
Assim, como ápice da amizade, tem-se o fato de a pessoa amiga conseguir, com naturalidade e liberdade, fazer ao amigo o que faria para si mesmo. O que mostra o quanto a amizade é eficaz para a vida do ser humano e sua vivência para com o próximo, visto que, desejando o bem ao outro e contribuindo para o bem de todos nas diversas relações do ser humano, alcança-se a virtude indispensável, que é a de ser amigo.