Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que as minhas referências são exclusivamente psicológicas, não têm a pretensão de esgotar toda a beleza da amizade e toda a profundidade da doação, uma das experiências humanas mais elevadas.
Certa vez, me deparei com uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional para a Educação, dos Estados Unidos, na qual perguntaram a mil pessoas na faixa dos 30 anos se elas achavam que a educação oferecida pelas escolas superiores dotava os educandos das capacidades necessárias para enfrentar o mundo real. Mais de 80% dos entrevistados responderam: ‘De modo algum’.
A pesquisa também perguntava o que essas pessoas gostariam de ter aprendido. As respostas mais recorrentes diziam respeito às capacidades necessárias para desenvolver relacionamentos: 1) como relacionar-se melhor com as pessoas com as quais se vive; 2) como encontrar e manter um trabalho; 3) como administrar os conflitos; 4) como ser bons pais; 5) como entender o desenvolvimento normal de uma criança; 6) como administrar as próprias finanças; 7) como compreender o sentido da vida.
Como construir uma amizade?
Eu diria que existem várias capacidades fundamentais para tratar as pessoas e transformá-las em amigos. A primeira em absoluto, na minha opinião, pode ser expressa com o ditado ‘se queres o mel, não destruas a colmeia’. Em outras palavras: no relacionamento com os outros não adianta criticar, condenar nem recriminar. A crítica é perigosa porque fere o orgulho das pessoas e faz com que elas se sintam impotentes e fiquem ressentidas. Skinner, psicólogo famoso em todo o mundo, provou experimentalmente que um animal aprende muito mais rapidamente quando é recompensado pelos seus acertos do que quando é punido pelos seus erros.
Devemos nos lembrar de que, muitas vezes, lidamos com pessoas que não são governadas pela lógica, mas por paixões impregnadas de ideias preconcebidas e movidas pelo orgulho e pelas vaidades. Qualquer idiota é capaz de condenar, criticar, recriminar. De fato, a maioria o faz. Mas é necessário ter força de vontade e autocontrole para compreender e perdoar.
Outra capacidade importante para construir relacionamentos sólidos é saber que o único modo de fazer-se ouvir pelos outros é falar em seus próprios termos daquilo que eles desejam, ou seja, ver as coisas do ponto de vista do outro.
Mas como fazer para sermos sempre ‘bem recebidos’? Podemos encontrar uma resposta observando a técnica do maior conquistador de amigos que o mundo já conheceu: o cão. Ele é o único animal que não trabalha para viver. A galinha tem de botar ovo, a vaca deve produzir leite, o canarinho deve no mínimo cantar… O cão vive do amor que dá.
Tempo, energia, altruísmo e boas intenções
Não precisa ler um livro de psicologia para entender a grande lição de vida que seu instinto lhe ensina: podemos conquistar mais amigos em dois meses mostrando-nos interessados pelos outros do que em dois anos tentando induzir os outros a interessarem-se por nós. Se quisermos conquistar amigos, devemos nos esforçar em fazer pelos outros coisas que exigem tempo, energia, altruísmo e boas intenções.
Um terceiro modo de nos tornarmos simpático aos outros é sorrir. É por isto que os cães são tão queridos: quando veem os seus donos, ficam loucos de alegria. Se quisermos que as pessoas fiquem felizes quando estão conosco, temos de demonstrar que estamos felizes por nos encontrarmos na companhia delas.
Lembro-me ainda de outra maneira para conquistar amigos: ser um bom ouvinte e encorajar os outros a falarem de si. Às vezes, uma simples dor de dente pode preocupar uma pessoa muito mais do que a grande carestia que faz milhões de vítimas na China, e uma espinha no pescoço pode ser mais incômoda do que 50 enchentes na Índia. Pense nisso na próxima vez que começar a conversar com alguém. Lembre-se: se quiser ser um bom interlocutor, seja antes de mais nada um ouvinte atento.
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Enfim, como tornar-se simpático aos outros?
Existe uma norma muito importante que regula os nossos relacionamentos: ‘Sempre transmita aos outros a sensação de que eles são importantes’. O desejo de ser valorizado é uma necessidade primária da natureza humana.
Todos temos necessidade de aprovação por parte das pessoas com as quais convivemos, todos queremos ver reconhecida a nossa dignidade. Precisamos nos sentir importantes no nosso pequeno mundo. Não se trata de bajulações falsas, falo de aprovações sinceras. Sigamos então esta regra de ouro: façamos aos outros aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós.
Pasquale Iónata
Psicólogo Membro do Movimento dos Focolares