“Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (I Jo 4, 10). As celebrações do Tempo de Natal se encerram com as chamadas teofanias. Na Festa da Epifania, sábios vindos de longe procuram o Rei apenas nascido. Às margens do Rio Jordão, manifesta-se a Trindade e se inicia o ministério público de Jesus. Em Caná, Jesus realiza Seu primeiro sinal, oferecendo o vinho novo da grande festa do encontro de Deus com a humanidade. O amor de Deus, gratuitamente, mostra toda a Sua exuberância. Deus Pai vem ao encontro da humanidade!
A voz do Pai ressoa alta e forte, depositando em Jesus todo o Seu amor e indicando que n’Ele, Verbo de Deus feito carne, está todo o Seu amor e que, neste Filho, está a fonte de todo o bem. Os homens e mulheres de fé não podem fazer outra coisa senão a experiência grandiosa do discipulado, fonte de realização para todos os que O acolhem como Salvador.
Ao ouvir a voz do Pai, que proclama o amor por Jesus, cada pessoa humana experimentará que chega a todos este mesmo amor. Deus não nos ama por qualquer outro motivo senão o próprio amor. O Altíssimo ama por amor e para amar. Trata-se de uma torrente inesgotável que se transforma em fonte de vida para todos. De verdade, o Pai do Céu continua dizendo a cada homem e cada mulher que venham a este mundo o Seu amor pessoal e eterno e, por isso, guarda tanta ternura com Seus filhos (Cf. Jr 31, 3).
A torrente de amor que brota do Céu e se espalha traz consigo uma vocação ao amor para toda a humanidade. Ainda que a palavra “amor” e sua compreensão se encontrem desgastadas, não nos é permitido omitir uma contribuição para que sejam restauradas em seu pleno significado e em sua prática. O amor não é em primeiro lugar um senti** OK**mento, mas ato de inteligência e de vontade. Decidir-se a amar a Deus e ao próximo é caminho para restaurar relacionamentos e o próprio tecido da sociedade.
As consequências são múltiplas e carregadas de inigualável fecundidade. Um novo dia que começa pode ser a primeira oportunidade, quando cada pessoa se sentir no dever do primeiro cumprimento, um “bom dia” alegre e festivo, que supera a “cara de ontem” tantas vezes até cultivada. Todos os encontros que se seguirem poderão expressar a beleza do amor, na perspectiva de São Paulo: “Não fiqueis devendo nada a ninguém a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: “Não cometerás adultério”, “Não cometerás homicídio”, “Não roubarás”, “Não cobiçarás”, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13, 8-10).
Amar é antecipar-se em atenções e disposição para o serviço, com a criatividade de quem sempre descobre o bem a ser feito aos outros, superando a incômoda pergunta que corrói todo relacionamento: “Por que sempre eu devo dar o primeiro passo”? Trata-se, ao contrário, de curar o tecido social com uma sadia competição de amor! O primeiro passo é sempre de quem toma consciência por primeiro! Sairemos da “retranca” que põe as pessoas em permanente atitude de desconfiança e de medo!
E se tirarmos as consequências na vida social? Seremos sadiamente agressivos nas iniciativas de amor e serviço na sociedade. As muitas mudanças, em curso, nos cargos políticos podem significar um rumo diferente se o bem comum passar à frente dos interesses individuais ou corporativistas! Faz bem a coragem de sonhar alto, pois podemos entrar, se não acolhermos as mudanças provenientes de convicções nascidas da fé, numa voragem de egoísmos concorrentes e destruidores. Faz-se necessário começar de novo do Rio Jordão, seguir os passos de Jesus Salvador, acolher Sua graça, descobri-la concreta e verdadeira para nossos tempos e dar o primeiro passo! Está em nossas mãos a possibilidade de fazer chegar a todos a proclamação do amor de Deus. Não é pouco! É o melhor que temos!