Sociedade

Princesa Isabel: a Redentora

O preço da liberdade: a abolição e o golpe republicano

Desde sua juventude, a Princesa Isabel engajou-se à causa abolicionista, movida por valores cristãos. Este engajamento se deu de maneira prática, não se limitando à simpatia, ela engajou-se ativamente em iniciativas, valendo-se de sua posição e influência, que buscavam não apenas a libertação dos escravos, mas também sua integração social e a garantia de uma vida digna após a alforria.

Cognominada “a Redentora”, nascida e batizada Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança, conhecida pela maioria de seus súditos como Princesa Isabel. Filha mais velha do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Dona Tereza Cristina, herdeira presuntiva do trono do Império do Brasil. Sua atuação se deu no contexto da Monarquia Constitucional brasileira do século XIX, na qual o poder legislativo detinha amplos poderes e o Imperador exercia a função de moderador, com intervenções pontuais no exercício dos demais poderes.

Regências e a caminhada para a Lei Áurea

Em três oportunidades, Isabel exerceu a função de regente, em especial na viagens de seu pai ou quando este estava tratando de sua saúde. Em uma dessas oportunidades, deu-se a assinatura da Lei Áurea, também identificada como Lei Imperial nº 3.353, de 13 de maio de 1888. A princesa estava ciente dos potenciais impactos da abolição, alertada pelo governo e por políticos sobre a oposição da oligarquia dominante. Essa elite, detentora de poder regional devido à vastidão do território brasileiro, dependia da mão de obra escrava para sustentar seus interesses econômicos, principalmente na agricultura, enquanto a manufatura de itens básicos dependia de países industrializados como a Inglaterra.

Crédito: Pintura de Victor Meirelles/Domínio Público

A reação da elite e o alerta de Cotegipe

Nos dias que antecederam a abolição, o Presidente do Conselho de Ministros advertiu a Regente sobre a probabilidade da queda do Império, prevendo a perda do apoio da elite escravagista e o consequente fortalecimento dos republicanos, que até então constituíam uma minoria sem expressão política e econômica. Neste contexto, ela teria sido interpelada pelo Barão de Cotegipe, ex-presidente do Conselho de Ministro, que lhe disse ‘‘Vossa Alteza redimiu uma raça, mas perdeu o trono’’, ao que a Princesa respondeu: “Se mil outros tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim à escravidão!”.

O golpe republicano: uma confluência de interesses

O golpe de 15 de novembro de 1889 materializou-se como uma convergência de interesses: a oligarquia, prejudicada pela abolição; os republicanos, que, aproveitando-se da oposição acrescida contra a monarquia, desejavam, por todos os meios, implantar a república, e, sobretudo, o pensamento positivista disseminado entre os militares, que, desde a Guerra do Paraguai, somavam insubordinações e o sentimento crescente de que deveriam ter um maior protagonismo na política nacional, isso somados aos conflitos pessoais entre o Marechal Deodoro da Fonseca, então comandante do Exército, e o Presidente do Conselho de Ministros. Assim desenhou-se o golpe militar, sem aderência popular, impetrado por uma minoria entre oficiais militares, políticos e membros da elite.

O reconhecimento Papal e o processo de beatificação

Assim, a Princesa Isabel, ao assinar a Lei Áurea, sacrificou sua posição como chefe de Estado pela libertação dos escravos. Esse ato altruísta, motivado por sua fé, foi reconhecido pelo Papa com a Rosa de Ouro. Sua conduta virtuosa é exaltada e, atualmente, seu nome figura em um processo de beatificação.

A rosa de ouro

A Rosa de Ouro oferecida pelo Papa representa a estima do Pontífice, em reconhecimento a fatos históricos e personalidades pelos relevantes serviços à Igreja. Este costume teve início com o Papa Leão IX, no século XI, a Rosa de Ouro recebida pela Princesa Isabel foi a primeira concedia a a um brasileiro, em reconhecimento pela  assinatura da Lei Áurea.

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O legado de Princesa Isabel

A atitude da Princesa Isabel, sua coragem e determinação em defender seus ideias, mesmo diante de pressões, inspiram a reflexão sobre a importância dos valores e do quanto estamos dispostos a nos sacrificar pelo que cremos, especialmente quando confrontados com dilemas. O exemplo de Isabel nos convida a questionar nossas próprias escolhas: até que ponto estamos dispostos a sacrificar nossos interesses pessoais em defesa da justiça e do próximo? Em um mundo marcado por desigualdades e injustiças, somos convidados a viver os valores cristãos de maneira mais prática e radical.

 

Jonatas Passos é natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador na Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.