A importância da dimensão espiritual no cuidado integral da saúde
Em seu artigo “Catolicismo e suas concepções de saúde e doença”, a pesquisadora Lucilene Aparecida Francisco faz uma interessante explanação sobre como a proximidade com Deus é fator de proteção contra doenças do corpo, alma e espírito. Muitas pesquisas modernas demonstram o poder da oração para controlar a pressão arterial, prevenir o estresse e até melhorar a expectativa de vida.
O equilíbrio entre corpo e espírito
Inclusive, a ciência já adota a concepção de pessoa humana em suas três dimensões: física, psicológica e espiritual. O cuidado da saúde integrada não deve excluir ou minimizar nenhuma das dimensões, o ser humano deve ser visto em sua totalidade. Além disso, não podemos dar atenção a um só aspecto. O Catecismo da Igreja Católica adverte sobre o cuidado excessivo com o físico, na busca do corpo perfeito em seu artigo 2289: “Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz desta um valor absoluto, insurgindo-se contra uma concepção neopagã que tende a promover o culto do corpo, a tudo sacrificar-lhe, a idolatrar a perfeição física e o êxito esportivo. Em razão da escolha seletiva que faz entre os fortes e os fracos, tal concepção pode conduzir à perversão das relações humanas”.
Jesus Cristo, modelo de cuidado com os enfermos
O cuidado com o corpo deve olhar para Nosso Senhor Jesus Cristo que, ao assumir um corpo, dignifica-o. Ele assumiu o cuidado dos enfermos como uma das suas principais ocupações, como narram os Evangelhos. São Marcos, de maneira especial, mostra como os doentes são levados a Jesus em grande número, aonde quer que Ele chegasse para anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus. É o que nos explica o Cardeal Odilo Pedro Scherer. Ele ainda recorda que cuidar dos doentes também foi uma das missões que Jesus deu aos apóstolos, quando os enviou em missão (cf. Mc 16,18).
E foi o que os apóstolos e discípulos fizeram desde logo: anúncio do Evangelho, celebração da Eucaristia e cuidado dos enfermos são ações que aparecem juntas com muita frequência nos textos da Igreja dos tempos apostólicos. A Igreja católica tem agido assim ao longo dos tempos. São inúmeras as instituições católicas e congregações que se dedicam ao cuidado dos enfermos, sem mencionar as Santas Casas de Misericórdia no Brasil. A Pastoral da Saúde das diversas paróquias atuam ainda de forma mais global e integrada, os membros da pastoral, além do cuidado direto dos doentes, preparando-os para receber os sacramentos e ajudando a enfrentar a enfermidade com esperança, estendendo esse cuidado aos familiares e cuidadores, além de promover a conscientização da dimensão integral e a dignidade da pessoa humana, sobretudo junto aos profissionais de saúde.
A enfermidade como oportunidade de crescimento espiritual
Não podemos, entretanto, deixar de mencionar que a enfermidade é um momento rico espiritualmente falando, oportunidade de encontro com Deus e para acessar o sagrado no interior de cada um. Há alguns anos, passei por um AVC ficando com severas sequelas. Afirmo que a doença nos faz experimentar nossa própria fragilidade e limites, mas isso pode ser vivido com alegria e esperança. Conto os detalhes de como encontrei, na fé e dimensão espiritual, fortaleza e sentido para enfrentar a enfermidade. Detalhes da minha história poderá encontrar no livro ‘Por que (não) eu? – Da Visita da Morte ao Nascimento da esperança’. O livro traz uma perspectiva da doença como uma mensagem divina que deve ser acolhida e desvendada, uma oportunidade rica para abrir nossos olhos e coração aos horizontes eternos da existência.
Proximidade e empatia com os enfermos
O Papa Francisco nos recorda que existem as pessoas doentes, e elas são muitíssimas e têm nome e rosto, sentem dores, desconfortos, angústias, esperanças; têm afetos, relações familiares e sociais, estão inseridas num contexto cultural, possuem histórias pessoais, projetos na vida, pertencem a um grupo, a um povo; creem em Deus, têm religião ou talvez não. Isso abre muitas possibilidades para nos fazermos próximos aos enfermos, que não precisa ser física necessariamente. De muitas maneiras, podemos estar próximos dos enfermos e manifestar isso a eles.
Edvânia Duarte Eleutério – Missionária da comunidade Canção Nova desde 1997, formadora de namorados e casais da Comunidade, além de outras funções. Tem especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética, autora do livro ‘Por que (não) eu? – Da visita da morte ao Nascimento da Esperança’.