Uma educação genuinamente cristã é aquela que tem Cristo como mestre e educador. Dessa convicção, decorre a elaboração de um processo educativo que tem a pessoa humana como centro. Falamos de uma educação que supera os objetivos técnicos e utilitários do conhecimento, mas que constrói um ecossistema pedagógico capaz de educar a pessoa humana na sua integralidade.
Neste horizonte, a Campanha da Fraternidade 2022 apresenta o texto do Evangelho segundo São João 8, 1-11 como exemplo de pedagogia da fraternidade. O texto conta que, enquanto Jesus ensinava uma multidão, foi interrompido pelos fariseus, que trouxeram uma mulher apanhada em adultério e pediram que Jesus desse uma sentença e falasse alguma coisa sobre o caso.
Jesus silencia, se curva e começa a escrever no chão. De repente, reergue e faz uma pergunta fundamental: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” (Jo 8, 7b). Se inclina de novo e escuta a resposta. Mas eles se retiraram, um após o outro, e nada responderam. Jesus escutou e entendeu o silêncio deles: perceberam que eram culpados. Estava dada a lição: antes de julgar ou condenar alguém “conheça-te a ti mesmo!”.
A educação cristã do diálogo e do perdão
Olhando para a mulher, o pedagogo da escuta estabelece um diálogo e pergunta: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” (Jo 8, 10). Sem juízo prévio, espera ela responder: “Ninguém Senhor” (Jo 10, 11a). Imediatamente, Jesus constrói uma ponte entre a mulher e o bem e diz: “Então, eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 10, 11b). Jesus recupera a dignidade humana daquela mulher. Agora, essa mulher está educada para superar o pecado.
Talvez, seja importante pensar que, ao desistirem da condenação da mulher, seus acusadores também aprenderam algo muito importante com Jesus: não se educa uma pessoa pelo castigo e pela punição, que são mediados por leis frias e tendenciosas, mas pela pedagogia da compaixão, do diálogo e do perdão.
A arte de educar
A educação cristã, sob a ótica católica, busca ser completa e autêntica. Sem perder o fio condutor da mensagem de Jesus, ela busca dialogar com todas as culturas. O caminho do diálogo e da reciprocidade faz uma síntese completa da arte de educar. No contexto da cultura do encontro, marcada pelo humanismo solidário, as raízes da “proposta formativa do patrimônio espiritual cristão está em constante diálogo com o patrimônio cultural e as conquistas da ciência”.
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O Papa Francisco, ao propor o Pacto Global Educativo, quer que a pedagogia do encontro e da escuta, tão vivas na missão de Jesus, emerja no momento presente para formar pessoas maduras e com responsabilidades na construção do bem comum. Isso demanda um diálogo e uma parceria entre família, Igreja, escola e os vários atores educativos da sociedade. A educação é um bem comum.
A cultura do encontro vem reparar as frestas e as rupturas provocadas por uma sociedade violenta e injusta, consumista e tecnicista, racional, relativista e individualista. Neste ambiente, tantas vezes hostil à solidariedade e à fraternidade, a educação cristã se apresenta como caminho para o encontro, a escuta, o diálogo, a paz e a humanização, ou seja, o amor e a esperança no ser humano.
A fé e a razão
De fato, a educação cristã prima pela fraternidade, reciprocidade e o enriquecimento mútuo. O Papa São João Paulo II publicou, em 1998, uma Carta Encíclica que aborda as relações entre a fé e a razão. Já de início, ao endereçá-la aos Bispos, o santo polonês admoestou: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da Verdade. Foi Deus que colocou no coração do homem o desejo de conhecer a Verdade, que é Ele, e conhecendo-o e amando-o chegar também à verdade plena de si mesmo”.
Percebe-se que a educação cristã, sob a ótica católica, é completa e autêntica. Não se educa apenas com conteúdo escolar, provas e testes, e sim com a vida traduzida em relações de reciprocidades e parcerias. A educação cristã parte da relação e proximidade dos vários contextos educativos, oferecidos pelos diversos espaços sociais.
Conforme nos orienta o Papa Francisco, além da família, da Igreja e da escola, existe uma aldeia inteira com capacidade de educar. Nesse sentido, a educação cristã é o elo que une pessoas e instituições ao redor do planeta para uma nova mentalidade educativa inspirada no humanismo e na espiritualidade cristã.