Baixe em arquivo PDF a introdução do Retiro Popular – 2008
O Mistério do Pecado
Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha expulsado sete demônios. Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos. Quando souberam que Jesus vivia e que ela o tinha visto, não quiseram acreditar . Maria
Madalena foi a primeira a ver o Ressuscitado e a primeira a anunciá-lo, malgrado a incredulidade dos discípulos. Quem era esta mulher? A pecadora que lavou com lágrimas e perfumou os pés de Jesus? Ou, quem sabe seria a mesma Maria, irmã de Marta e Lázaro? Ou o que existe de comum entre ela e a mulher adúltera perdoada por Jesus? Melhor é guardar dela o mais importante, o fato de ter sido libertada por Jesus da ação do demônio. É que a força daquele que vence os poderes da natureza, a enfermidade, a morte e o inimigo a tocou pessoalmente. Ela pode levar a boa notícia: Eu vi o Senhor e eis o que Ele me disse!. E Senhor é o título que a fé dá ao Ressuscitado. Começamos nosso caminho quaresmal como gente que pode estar coberta da poeira da viagem ou com os pés machucados. Mas somos os convidados para esta aventura!
1. Comece sua oração diária do Retiro Popular pedindo a ação do Espírito Santo de Deus:
Vinde, Espírito Santo, vinde e enviai-nos do Céu um raio da Vossa Luz. Vinde, ó Pai dos pobres, vinde, autor de todos os dons, vinde, Luz dos corações. Consolador supremo, doce hóspede da alma, suave refrigério. Repouso no trabalho, brandura no ardor, consolo no pranto. Ó Luz Beatíssima, enchei até ao íntimo, o coração dos Vossos fiéis. Sem o Vosso poder, nada existe no homem. E nada há que seja puro.
Lavai toda a mancha, regai toda a aridez, sarai toda a ferida. Abrandai o que é rígido, aquecei o que é frígido, e encaminhai os desviados. Dai aos fiéis, que em Vós confiam, os sete Dons Sagrados, dai-lhes o mérito da virtude, a perseverança final e o gozo eterno. Amém
2. Para preparar sua participação na missa dominical, leia e medite o Evangelho com o qual a Igreja inicia sua caminhada quaresmal:
Mt 4, 1-11 : Naquele tempo, 1Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador aproximou-se dele e lhe disse: Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães. Jesus respondeu:
Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3). O demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl 90,11 s). Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16). O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: Darte- ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares. Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás (Dt 6,13 ). Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se dele para servi-lo.
3. Nosso Retiro Popular começou com a consciência do Amor de Deus, que é a fonte de nossa vida e salvação. Orígenes, um grande Padre da Igreja, comentou, num texto cheio de sabedoria, a tentação de Jesus no deserto, do qual trazemos os ensinamentos para iniciar esta semana:
A vida dos mortais está cheia de laços de escândalos e de redes de ilusões, armadas contra o gênero humano pelo inimigo do Senhor, o demônio, que se revolta contra o próprio Deus. Os laços das tentações e as armadilhas das insídias são pois chamadas redes do demônio. E porque o inimigo estendera essas redes em toda parte e apanhara quase todos, tornou-se necessário que aparecesse alguém mais forte e poderoso, que as pudesse romper e abrir o caminho para aqueles que o seguiam.
Eis porque o Salvador, antes de se unir à Igreja como esposo, é tentado pelo demônio, para que vencendo, pela tentação, as redes das tentações, olhasse e chamasse a si a Igreja, ensinando-lhe e mostrando-lhe que não se chega a Cristo pelo ócio e pelas delícias, mas por muitas tribulações e tentações.
Não havia, com efeito, outro que pudesse superar essas redes. Pois todos como está escrito pecaram; e de novo, como diz a Escritura: Não há justo sobre a terra que faça o bem e não peque; e ainda: Ninguém está isento de pecado, nem mesmo se sua vida tiver durado um só dia. Somente Jesus, nosso Senhor e Salvador, não pecou; mas o Pai o fez pecado por nós, para condenar o pecado por meio do pecado numa carne semelhante a do pecado . Entrou, pois, naquelas redes, mas foi o único que não pôde ser envolvido por elas; pelo contrário, tendo-as rompido, e reduzido a pedaços, faz com que sua Igreja confie, para que ouse doravante romper os laços e ultrapassar as redes, dizendo com toda alegria:
Nossa alma escapou como o pássaro da rede do caçador; rompeu-se o laço, e fomos libertados.
Quem, pois, rompeu o laço a não ser o único que não podia permanecer prisioneiro? Embora tenha morrido, foi voluntariamente que morreu, e não como nós, por causa do pecado. Só ele foi livre entre os mortos. E porque só ele foi livre entre os mortos, tendo vencido quem tinha o poder da morte, libertou os cativos que estavam retidos pela morte. Não só ressuscitou a si mesmo dos mortos, mas também despertou, ao mesmo tempo, os que estavam prisioneiros da morte, introduzindo-os nos céus. Subindo, pois, ao alto, levou consigo os cativos, não libertando apenas as almas, mas ressuscitando também os seus corpos, conforme atesta o Evangelho, pois os corpos de muitos santos ressuscitaram e apareceram a muitos, e entraram na cidade santa do Deus vivo, Jerusalém
4. A Bíblia mostra reiteradamente que, quando Deus criou o mundo com sua Palavra, expressou satisfação, dizendo que era bom, e quando criou o ser humano, homem e mulher, disse que era muito bom. O mundo criado por Deus é belo. Procedemos de um desígnio divino de sabedoria e amor. Mas, através do pecado esta beleza originária foi desonrada e esta bondade ferida. Todos nós experimentamos o mistério do pecado, ainda que muitas vezes não se compreenda bem o que é o pecado. Só diante da grandeza do amor de Deus podemos entender o que é o pecado. Não se reduz a infringir uma lei, como se Deus fosse um guarda a nos vigiar. Não é apenas praticar um ato que me doeu, suscitando um individualismo que relaxa a consciência. Pecado é ser infiel a uma aliança de amor. Quem reconhece a luz que vem de Deus vê com clareza o que existe em si, que significou uma resposta negativa ao amor.
5. O pecado, ensina o Catecismo da Igreja Católica, é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana.
Foi definido como uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna. O pecado é ofensa a Deus: Pequei contra ti, contra ti somente; pratiquei o que é mau aos teus olhos. O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações. Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta contra Deus, por vontade de tornar-se como deuses, conhecendo e determinando o bem e o mal. O pecado é, portanto, amor de si mesmo até o desprezo de Deus. Por essa exaltação orgulhosa de si, o pecado é diametralmente contrário à obediência de Jesus, que realiza a salvação. É justamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo vai vencê-lo, que o pecado manifesta o grau mais alto de sua violência e de sua multiplicidade: incredulidade, ódio assassino, rejeição e zombarias da parte dos chefes e do povo, covardia de Pilatos e crueldade dos soldados, traição de Judas, tão dura para Jesus, negação de Pedro e abandono da parte dos discípulos. Mas, na própria hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício de Cristo se toma secretamente a fonte de onde brotará inesgotavelmente o perdão de nossos pecados.
6. O amor não é amado, clamava São Francisco pelas ruas de Assis. Durante a primeira semana do Retiro Popular, percorra alguns passos em sua oração pessoal. Em primeiro lugar, uma revisão de sua vida, revendo os valores que estão norteando suas decisões. Ao fazê-la, você encontrará muitas coisas a serem jogadas fora, tranqueira que se foi acumulando no decorrer dos tempos. O segundo passo é dar de presente a Deus os seus pecados, buscando o sacramento da Penitência, já no início da Quaresma. Como você está fazendo o Retiro Popular, já aconteceu em sua vida o despertar da fé. Deixe o final da Quaresma mais livre para que outras pessoas, quem sabe mais afastadas, encontrem o tempo e o acolhimento do sacerdote em sua paróquia.
Durante a semana, leia os textos indicados para cada dia, seguindo sempre o mesmo roteiro:
Oração ao Espírito Santo, própria para cada semana; leitura orante do texto proposto para cada dia, escolhendo a Primeira Leitura ou o Evangelho:
a. Leitura: Leia o texto indicado a seguir para cada dia e procure entender bem, fazendo-se ajudar pelos textos paralelos indicados em sua Bíblia;
b. Meditação: Pergunte o que Deus quer lhe dizer com o texto da Escritura;
c. Oração: converse com Deus sobre o que você leu e meditou;
d. Contemplação: Faça silêncio interior e exterior para curtir o que você está rezando.
Em seguida, assuma um propósito de vida nova para o dia de Retiro. Enfim, torne-se missionário do amor de Deus, espalhando o bem. Você verá que a luz de Deus, que vem de dentro, mostrará também o pecado existente em você, mas sem necessidade de apontar o dedo! É como uma mancha a ser tirada de uma roupa, que será vista se a luz for mais forte.
7. É sempre melhor confiar na sabedoria da Igreja, que nos oferece a Palavra de Deus para cada dia! Escolha uma das leituras do dia para sua oração de Retiro:
Dia 10 de fevereiro, 1o domingo da Quaresma:
Jesus no deserto, durante quarenta dias. Gn 2,7-9; 3,1-7; Rm 5,12-19; Mt 4,1-11.
Dia 11 de fevereiro, segunda-feira da 1a semana da Quaresma; Nossa Senhora de Lourdes, Jornada Mundial do Enfermo. Seremos julgados pelo amor!
Lv 19 ,1-2.11 -18; Mt 25,31-46.
Dia 12 de fevereiro, terça-feira da 1a semana da Quaresma. Uma oração diferente.
Is 55 ,10-11; Mt 6,7-15.
Dia 13 de fevereiro, quarta-feira da 1a semana da Quaresma. O chamado à conversão.
Jn 3,1-10; Lc 11,29-32.
Dia 14 de fevereiro, quinta-feira da 1a semana da Quaresma. O Pão do amor a ser pedido todos os dias.
Est 14,1.3-5.12-14; Mt 7,7-12.
Dia 15 de fevereiro, sexta-feira da 1a semana da Quaresma. Reconciliação e Justiça de Deus.
Ez 18,21-28; Mt 5,20-26.
Dia 16 de fevereiro, sábado da 1a semana da Quaresma. A perfeição do amor.
Dt 26,16-19; Mt 5,43-48.
8. Para a primeira semana, exercite a arte de amar como gesto penitencial: Amar a todos! O amor que Jesus pede não exclui ninguém. Exige que amemos a todos: o simpático e o antipático, o bonito e o feio, o rico e o pobre, o adulto e a criança, o jovem e o idoso. Amar a todos como o Pai do Céu, que não faz distinção de pessoas,
mas faz nascer o sol sobre os maus e bons e faz cair a chuva sobre os justos e injustos.
9. O Retiro Popular é também feito de partilha. Converse com outras pessoas sobre a sua oração diária. É bom falar do que Deus está realizando em nossa alma. Assim, pois, consolaivos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis.